Há seis anos e
meio, logo após assumir o governo, Cabral foi protagonista de uma decisiva
reviravolta política ao romper com o ex-governador Anthony Garotinho e tomar
deste o controle do PMDB no Estado, pondo fim a anos de divórcio entre o Rio e
o governo federal. A relação com Lula se estreitou. Mas, agora, afastou-se de
Dilma e do PT, que deverá ter no senador Lindbergh Farias um competitivo
candidato próprio ao governo estadual em 2014. Por Maurício Thuswohl, do Rio de
Janeiro
Maurício Thuswohl - Carta Maior
Rio de Janeiro – As
inúmeras dificuldades políticas e a acentuada queda de popularidade enfrentadas
nesta reta final de mandato à frente do Governo do Rio de Janeiro podem colocar
para Sérgio Cabral o ponto final em um vitorioso ciclo, iniciado em 2007 com
sua chegada ao Palácio Guanabara. Há seis anos e meio, logo após assumir o
governo, Cabral foi protagonista de uma decisiva reviravolta política ao romper
com o ex-governador Anthony Garotinho e tomar deste o controle do PMDB no
estado, pondo fim a anos de divórcio entre o Rio de Janeiro e o governo
federal. Ao expelir Garotinho do partido e estreitar laços com o PT e o então
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador do Rio consolidou aquela que
por inúmeras vezes qualificou como “a aliança que mais deu certo no Brasil” e
colheu frutos em forma de parcerias e investimentos federais que durante sua
gestão ultrapassaram as centenas de bilhões de reais.
Cabral apoiou a eleição de Dilma Rousseff em 2010, teve sua reeleição apoiada pelo PT e a aliança, oficialmente, continua. Mas, agora, ao mesmo tempo em que é alvo de manifestações quase diárias nas ruas do Rio, o governador vê aumentar sua distância política para a presidenta da República e o PT, que deverá ter no senador Lindbergh Farias um competitivo candidato próprio ao governo estadual em 2014. A candidatura petista contraria os planos políticos de Cabral, já que o PMDB deverá lançar a candidatura do vice-governador, Luiz Fernando Pezão, e esperava ter o apoio do principal aliado.
Antes das manifestações de rua que em junho sacudiram o país – e o Rio em particular –os peemedebistas estavam em plena ofensiva contra a candidatura de Lindbergh. Dirigentes de peso como o presidente regional do partido, Jorge Picciani, chegaram a acenar com a possibilidade de não apoio à reeleição de Dilma. Em nota divulgada logo após o carnaval, o PMDB afirmava que “dois palanque para Dilma no Rio é uma equação cujo resultado não será a soma, mas a subtração”. Após as manifestações e a conseqüente fragilização de Cabral, no entanto, a orientação no partido até segunda ordem é evitar acirramentos que possam acentuar o desgaste político do governador e prejudicar a candidatura de Pezão.
Embora haja nos dois partidos quem trabalhe para superar a crise, o fato é que algo se quebrou na relação entre Cabral e Dilma desde que o governador, em uma das ameaças de rompimento provocadas pela pré-candidatura de Lindbergh, lembrou à presidenta, por intermédio de jornalistas, que um de seus filhos “também se chama Neves”, em alusão ao provável candidato do PSDB à Presidência, o senador mineiro Aécio Neves. Segundo fontes do Planalto, Dilma não gostou do tom, considerado ameaçador, desta e de outras declarações públicas de Cabral – como, por exemplo: “O Lula teve nosso apoio para lançar sua sucessora. Será que eu não posso lançar o meu?”. Coincidência ou não, desde então a presidenta tornou mais raras suas idas ao Rio e, após o início das manifestações e a queda da popularidade do governador, seria bom se essa ausência se prolongasse, pelo menos segundo a opinião de uma parte da direção do PT que já enxerga na proximidade com Cabral um fator de risco eleitoral para Dilma no ano que vem.
No que depender do PT do Rio, essa distância será logo demarcada. A Executiva regional do partido chegou a marcar, para 5 de agosto, a reunião na qual decidiria oficialmente romper com o governo Cabral, no qual ocupa duas pastas (Meio Ambiente com Carlos Minc e Assistência Social e Direitos Humanos com Zaqueu Teixeira). Catorze dirigentes, em um total de 21, já haviam manifestado sua decisão de votar pelo rompimento, mas a reunião foi adiada por tempo indeterminado a pedido da direção nacional do PT e do ex-presidente Lula, contrários a um gesto que pode ser interpretado pelo PMDB como um abandono de um de seus principais quadros em um momento de grande dificuldade política. O rompimento com Cabral, no entanto, vem sendo pedido por Lindbergh desde outubro do ano passado, e a intenção dos petistas cariocas é lançar a candidatura própria até outubro deste ano. Lula e o presidente do PT, Rui Falcão, pedem que o partido espere até o fim de 2013.
Fortalecer Pezão
Cabral apoiou a eleição de Dilma Rousseff em 2010, teve sua reeleição apoiada pelo PT e a aliança, oficialmente, continua. Mas, agora, ao mesmo tempo em que é alvo de manifestações quase diárias nas ruas do Rio, o governador vê aumentar sua distância política para a presidenta da República e o PT, que deverá ter no senador Lindbergh Farias um competitivo candidato próprio ao governo estadual em 2014. A candidatura petista contraria os planos políticos de Cabral, já que o PMDB deverá lançar a candidatura do vice-governador, Luiz Fernando Pezão, e esperava ter o apoio do principal aliado.
Antes das manifestações de rua que em junho sacudiram o país – e o Rio em particular –os peemedebistas estavam em plena ofensiva contra a candidatura de Lindbergh. Dirigentes de peso como o presidente regional do partido, Jorge Picciani, chegaram a acenar com a possibilidade de não apoio à reeleição de Dilma. Em nota divulgada logo após o carnaval, o PMDB afirmava que “dois palanque para Dilma no Rio é uma equação cujo resultado não será a soma, mas a subtração”. Após as manifestações e a conseqüente fragilização de Cabral, no entanto, a orientação no partido até segunda ordem é evitar acirramentos que possam acentuar o desgaste político do governador e prejudicar a candidatura de Pezão.
Embora haja nos dois partidos quem trabalhe para superar a crise, o fato é que algo se quebrou na relação entre Cabral e Dilma desde que o governador, em uma das ameaças de rompimento provocadas pela pré-candidatura de Lindbergh, lembrou à presidenta, por intermédio de jornalistas, que um de seus filhos “também se chama Neves”, em alusão ao provável candidato do PSDB à Presidência, o senador mineiro Aécio Neves. Segundo fontes do Planalto, Dilma não gostou do tom, considerado ameaçador, desta e de outras declarações públicas de Cabral – como, por exemplo: “O Lula teve nosso apoio para lançar sua sucessora. Será que eu não posso lançar o meu?”. Coincidência ou não, desde então a presidenta tornou mais raras suas idas ao Rio e, após o início das manifestações e a queda da popularidade do governador, seria bom se essa ausência se prolongasse, pelo menos segundo a opinião de uma parte da direção do PT que já enxerga na proximidade com Cabral um fator de risco eleitoral para Dilma no ano que vem.
No que depender do PT do Rio, essa distância será logo demarcada. A Executiva regional do partido chegou a marcar, para 5 de agosto, a reunião na qual decidiria oficialmente romper com o governo Cabral, no qual ocupa duas pastas (Meio Ambiente com Carlos Minc e Assistência Social e Direitos Humanos com Zaqueu Teixeira). Catorze dirigentes, em um total de 21, já haviam manifestado sua decisão de votar pelo rompimento, mas a reunião foi adiada por tempo indeterminado a pedido da direção nacional do PT e do ex-presidente Lula, contrários a um gesto que pode ser interpretado pelo PMDB como um abandono de um de seus principais quadros em um momento de grande dificuldade política. O rompimento com Cabral, no entanto, vem sendo pedido por Lindbergh desde outubro do ano passado, e a intenção dos petistas cariocas é lançar a candidatura própria até outubro deste ano. Lula e o presidente do PT, Rui Falcão, pedem que o partido espere até o fim de 2013.
Fortalecer Pezão
O PMDB, por sua vez, sabe que a volta da pressão pela retirada da candidatura de Lindbergh só será possível se Cabral diminuir seu elevado índice de rejeição atual e Pezão passar a se mostrar mais competitivo nas pesquisas de opinião. Na mais recente sondagem, realizada pelo Instituto Ideia na primeira semana de agosto, Lindbergh lidera a acirrada disputa pelo Governo do Rio de Janeiro com 18% das intenções de voto, seguido pelo ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), cotado para ser vice na chapa do petista, que aparece com 17,5%. O terceiro lugar na pesquisa é de Marcelo Freixo (PSOL), com 16% das intenções de voto, e Garotinho (PR) aparece em quarto com 13,5%. Pezão, com 11,5%, surge somente em quinto lugar, seguido pelo ex-prefeito Cesar Maia (DEM), com 8,5%, e pelo deputado federal Miro Teixeira (PDT), com 4,3%.
A aposta peemedebista a partir de agora é construir um conjunto de estratégias para fortalecer Pezão e reverter o momento negativo. A partir do fim de agosto, o vice-governador irá se dedicar a visitar os municípios que estão recebendo o maior volume de investimentos estaduais em saneamento e infraestrura industrial. Pezão será também a principal estrela do Programa Bairro Novo, que tem orçamento previsto de R$ 800 milhões para obras de pavimentação em 20 municípios da Região Metropolitana e da Baixada Fluminense que receberão 750 quilômetros de asfalto.
No plano político, a objetivo é evitar debandadas e consolidar os apoios de prefeitos e deputados estaduais. Pezão irá visitar cada uma das 36 prefeituras onde o PMDB está presente (24 como prefeito e doze como vice), além de prefeitos de partidos aliados como PP e PDT, entre outros. A pressão sobre os prefeitos inclui o PT. Em junho, dias antes das grandes manifestações de rua, dez dos onze prefeitos petistas se reuniram com Pezão e Picciani para manifestar apoio ao candidato peemedebista. O movimento dos petistas, liderado pelo prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, que foi secretário do governo Cabral, arrefeceu após a queda de popularidade do governador, mas este é um trunfo contra Lindbergh que ainda pode ser usado pelo PMDB se o partido recuperar sua imagem junto ao eleitorado.
Nas duas últimas semanas, Cabral se encarregou pessoalmente de reafirmar apoios na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). O primeiro efeito prático foi a volta à base governista de um grupo de doze deputados dissidentes do PMDB, liderados por Domingos Brazão que, após o novo acordo com o governador, assumiu a presidência da Comissão de Constituição e Justiça da casa. A ofensiva de Cabral incluiu ainda uma conversa com quatro dos seis deputados do PT que, segundo o governador, não tratou da sucessão estadual, mas sim de garantir a governabilidade nos últimos meses de gestão.
PMDB e Paes
Ainda há tempo até as eleições de outubro de 2014, e o governador do Rio tem experiência e cacife políticos suficientes para reverter sua queda de popularidade, voltar ao Senado e até mesmo eleger Pezão. Mas, a reconstrução de Cabral não será tarefa fácil, e terá que começar pela própria direção nacional do PMDB, que tem sido comedida nas manifestações de apoio público ao governador. A exceção é o vice-presidente da República, Michel Temer, que tem aconselhado Cabral a ter paciência e esperar a poeira baixar: “Ele tem todas as condições de se recuperar”, diz o ministro da Secretaria de Aviação Civil e ex-governador do Rio, Moreira Franco, interlocutor de Cabral e Temer e experiente quando o assunto é rejeição no Palácio Guanabara.
No plano regional, uma preocupação do PMDB é evitar que o dano causado a imagem de Cabral contamine definitivamente aquele que agora passa a ser o seu maior quadro político no estado: o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que tem mais três anos e meio de gestão e é desde já favorito para ser o candidato do partido ao governo do estado em 2018, embora alguns peemedebistas defendam que o seja já em 2014. Por ora, a preocupação dos peemedebistas mais próximos ao prefeito é evitar que Paes e Cabral sejam vistos juntos até que as manifestações de rua esfriem, em uma curiosa demonstração das voltas que a política (e a vida) dá. Após se eleger governador do segundo estado mais rico do país, iniciar um ciclo político que viabilizou uma fortíssima aliança com o governo federal e se credenciar para, no futuro, almejar até mesmo a Presidência da República pelo PMDB, Cabral vislumbra no fim de seu governo o pesadelo de se tornar um político indesejado e abandonado por seus pares.
Fotos: EBC
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