"Habanastation"
trata de abismos que dizem respeito não apenas a Cuba pós-Fidel, focando as
distâncias sociais que separam a classe média e a pobreza. O tema não é
estranho ao cinema brasileiro, mas pulsa sua renovada atualidade numa quadra em
que não apenas em Cuba, mas também no Brasil, a exemplo do que ocorre em outros
países em desenvolvimento, a classe média se amplia e se descola de seu meio
para adotar o consumo como pátria exclusiva.
Saul Leblon – Carta
Maior
São Paulo - Habanastation,
do cubano Ian Padrón, parece um filme ingênuo, à primeira vista. Mas trata de
abismos. E eles dizem respeito não apenas a Cuba pós-Fidel, que busca
modernizar-se sem perder a ternura. Habanastation foca as distâncias sociais
que separam a classe média e a pobreza.
O tema não é estranho ao cinema brasileiro, mas pulsa sua renovada atualidade numa quadra em que não apenas em Cuba, mas também no Brasil, a exemplo do que ocorre em vários outros países em desenvolvimento, a classe média se amplia e se descola de seu meio para adotar o consumo como pátria exclusiva e particular. O que pode superar essa fenda que não cessa de crescer?
Carlo e Mayito vivem nas margens opostas da trinca – o primeiro mora com a avó em uma periferia brava de Havana, enquanto o segundo navega nas delícias do consumo, incluindo-se um Playstation presenteado pelo pai, músico profissional , cujas excursões ao exterior conectam a família a um padrão ascendente de conforto indisponível à maioria ao seu redor.
Os destinos dos dois garotos só vão se cruzar, realmente, quando o ocaso leva Mayito a passar um simbólico 1º de Maio na Havana velha e miserável onde vive o colega. A metáfora parece pronta para uma sessão da tarde com pipoca e guaraná. Mas só na aparência. A disjuntiva que se coloca a partir daí envolve desafios para os quais nem Cuba, nem o Brasil ainda tem respostas: o que é o desenvolvimento, afinal, um acumulo de mercadorias, temperadas com hábitos cada vez mais egoístas, ou a consolidação de valores que sustentam a convivência compartilhada, mesmo quando ainda persistem as diferenças sociais?
Habanastation sugere que a solidariedade pode emergir mais forte que a sedução das bugigangas eletrônicas se o apartheid da convivência social for vencido. Por onde começar, do ponto de vista de políticas públicas? Bem, Carlos e Mayito não são totalmente estranhos um ao outro. Por uma razão preciosa indisponível entre nós: em Cuba, pobres e ricos, classe média e favelados, ainda frequentam a mesma escola. Boa sessão.
O tema não é estranho ao cinema brasileiro, mas pulsa sua renovada atualidade numa quadra em que não apenas em Cuba, mas também no Brasil, a exemplo do que ocorre em vários outros países em desenvolvimento, a classe média se amplia e se descola de seu meio para adotar o consumo como pátria exclusiva e particular. O que pode superar essa fenda que não cessa de crescer?
Carlo e Mayito vivem nas margens opostas da trinca – o primeiro mora com a avó em uma periferia brava de Havana, enquanto o segundo navega nas delícias do consumo, incluindo-se um Playstation presenteado pelo pai, músico profissional , cujas excursões ao exterior conectam a família a um padrão ascendente de conforto indisponível à maioria ao seu redor.
Os destinos dos dois garotos só vão se cruzar, realmente, quando o ocaso leva Mayito a passar um simbólico 1º de Maio na Havana velha e miserável onde vive o colega. A metáfora parece pronta para uma sessão da tarde com pipoca e guaraná. Mas só na aparência. A disjuntiva que se coloca a partir daí envolve desafios para os quais nem Cuba, nem o Brasil ainda tem respostas: o que é o desenvolvimento, afinal, um acumulo de mercadorias, temperadas com hábitos cada vez mais egoístas, ou a consolidação de valores que sustentam a convivência compartilhada, mesmo quando ainda persistem as diferenças sociais?
Habanastation sugere que a solidariedade pode emergir mais forte que a sedução das bugigangas eletrônicas se o apartheid da convivência social for vencido. Por onde começar, do ponto de vista de políticas públicas? Bem, Carlos e Mayito não são totalmente estranhos um ao outro. Por uma razão preciosa indisponível entre nós: em Cuba, pobres e ricos, classe média e favelados, ainda frequentam a mesma escola. Boa sessão.
Integrado na secção
Cinema à Séria do PG
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