Macau, China, 28
ago (Lusa) - O politólogo Eric Sautedé prevê que as legislativas de setembro em
Macau sejam mais disputadas com o crescente descontentamento da população e,
por isso, espera uma campanha eleitoral "mais negativa" e uma maior
exposição da corrupção eleitoral.
"Estas
eleições vão ser mais disputadas e, por isso, haverá mais campanha negativa do
que no passado e não digo que vá haver mais corrupção eleitoral, porque já há
muita, mas penso que será mais exposta", disse o politólogo francês
radicado no território, em declarações à agência Lusa, à margem de uma palestra
da Associação Empresarial França-Macau.
Para Eric Sautedé,
cinco dos 14 lugares em causa no sufrágio direto - mais dois do que em 2009 na
sequência de uma reforma política - serão "bastante disputados", dado
o "descontentamento crescente" da população e uma "discrepância
entre o que esta gostava que acontecesse [em termos de implementação de
políticas] e o que a elite acha que devia acontecer".
"Podemos
esperar algumas surpresas nestas eleições", indicou.
Ao salientar que há
mais jovens eleitores, cerca de 52 mil com menos de 30 anos, este analista
alerta que, "se 60% desses votarem, poderão eleger três ou quatro
deputados", havendo, por isso, mais caras novas entre os candidatos.
"Verificamos
também uma erosão do apoio de algumas listas tradicionais", acrescentou,
citando uma pesquisa realizada pela Universidade de São José, onde é docente,
segundo a qual os residentes na casa dos 50 anos, a faixa etária com mais
eleitores, "foram os que mais defenderam mudanças" pela
"insatisfação com o trabalho do Governo, ao contrário do que se registava
no passado".
Para Sautedé, os
"candidatos ligados à indústria dos casinos também já não são tão
populares como antes" e, por isso, "estão a tornar-se mais
populistas" para alargarem o seu eleitorado.
Parte da
insatisfação da população com os seus representantes deriva, na perspetiva do
politólogo, do facto de "muitos deputados terem uma posição inconsistente,
porque muitas vezes o que dizem e defendem não corresponde ao que apoiam no
hemiciclo".
O campo
pró-democrata, ligado à Associação Novo Macau, deverá "assegurar os três
lugares que já tem na Assembleia Legislativa e tem boas possibilidades de
eleger um quarto", prevê, observando, no entanto, que o seu objetivo é a
eleição de cinco deputados, já que concorre com três listas.
O método de
conversão de votos em mandatos que está em vigor em Macau desde o início da
década de 1990 e que é alegadamente único no mundo obriga determinados grupos a
concorrerem em várias listas para conseguirem eleger mais deputados.
"Este método
foi criado para garantir a representação no hemiciclo de listas mais pequenas,
dificultando que uma só consiga eleger mais do que dois deputados, mas o que
foi, de certa forma, pensado para preservar o património português e macaense
[a presença destas comunidades no hemiciclo] hoje faz com que certos grupos
dispersem os seus candidatos por diversas listas", explicou.
O sistema político
de Macau é, na perspetiva de Sautedé, próximo de um sistema autoritário em que
domina o poder executivo, salientando que "o sistema de votação evita que
grupos da oposição formem uma coligação ou uma força importante".
"Apenas quatro
deputados - três pró-democratas e José Pereira Coutinho - fazem de facto o seu
trabalho, já que os restantes são empresários ou apoiantes do Governo",
indicou, considerando que os "elementos da democracia estão a ser, assim,
desprovidos do seu verdadeiro significado".
E é o empresário Ho
Iat Seng, vice-presidente do hemiciclo, que este analista prevê que venha a
assumir a presidência do órgão legislativo, apesar de não esperar uma grande
ousadia da sua parte no desempenho das funções.
"Ninguém em
Macau se está a atrever o suficiente a interpretar o alto grau de autonomia do
território. As linhas de ação governativa concentram-se apenas nas políticas
para o ano seguinte, não há um compromisso a médio e longo prazo e na Assembleia
Legislativa isto também não está a acontecer, o que é espantoso, porque Macau
está a crescer de forma rápida", concluiu.
Para Sautedé, que
cita resultados de uma pesquisa realizada em 2009, "a maioria da população
quer o sufrágio universal, mas sabe que não o pode ter agora".
A campanha
eleitoral arranca no sábado e nas legislativas de 15 de setembro estão em causa
14 lugares pelo sufrágio direto e 12 pelo indireto (deputados eleitos pelas
associações), mais dois do que nas eleições de 2009 por cada uma das vias. Esta
situação alarga a composição do hemiciclo dos atuais 29 para 33 deputados, já
que se mantém a nomeação de sete pelo líder do Governo.
PNE // MLL - Lusa
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