Manuel Matola e
Emanuel Pereira (texto) e António Silva (fotos), da Agência Lusa
Matola, Moçambique,
14 ago (Lusa) - O comerciante "João", residente na Matola, sul de
Moçambique, vive sobressaltado desde que foi molestado com um ferro de engomar
por "cerca de 20 homens", que lhe roubaram a viatura, "a enxada
que sustentava" a sua família.
"Bateram na
minha neta e amarraram-nos: eu e a minha esposa. Quase nos incendiaram, porque
já nos haviam aplicado petróleo", conta à Lusa "João", nome
fictício da vítima, que foi assaltada há cerca de um mês.
Desde o assalto à
sua residência, durante a madrugada e que demorou mais de uma hora, nenhum
membro da família do comerciante teve assistência psicológica, até porque
"as autoridades não apoiaram em nada", queixa-se.
"Nós só fomos
ao hospital. Fomos tratados no hospital. Só espero justiça, porque é demais o
que está a acontecer no país. É uma vergonha", afirma à Lusa o
comerciante.
Os crimes
violentos, que se registam no bairro São Dâmaso, onde vive, e que incluem
alegadas violações sexuais e "engomadoria" das vítimas, estão a criar
pânico também em outras comunidades da Matola, na província de Maputo.
Diariamente, homens
e mulheres residentes, empunhando paus, catanas e outras armas artesanais,
fazem o patrulhamento noturno às ruas, até às cinco da manhã, com ajuda da
polícia.
No entanto, esta
vigilância, segundo a imprensa local, já terá causado a morte de "seis
pessoas inocentes", durante o último fim de semana.
Uma das vítimas
destas patrulhas foi o artista plástico moçambicano Alexandria Ferreira, morto
por populares que invadiram uma esquadra na zona do Rio Matola, onde o escultor
e outras três pessoas procuraram proteção policial, após terem sido confundidos
com elementos de uma suposta quadrilha.
"A população
está muito triste e cansada. Hoje não fui trabalhar, porque voltei tarde do
patrulhamento. Não posso ficar de fora (da operação). Sou um elemento do
bairro, por isso, tenho de ajudar", relata Eduardo Zuze, um vigilante do
bairro São Dâmaso.
A ocorrência de
episódios idênticos aos do empresário "João" transformou as noites
dos moradores do bairro, com os negócios a terem de alterar o seu horário de
encerramento, devido ao medo e às recomendações das autoridades policiais.
Entretanto, as
escolas locais têm vindo a apelar aos alunos e respetivos familiares para que
"se contenham".
"O trabalho
que temos feito na nossa escola com as crianças é de sensibilização, para não
aderirem a esta onda que se está a verificar, para que eles se contenham
juntamente com os seus pais e não correrem de um lado para o outro", diz à
Lusa o diretor da Escola Primária Completa de São Dâmaso.
Albano Jorge
assegura que as 6.500 crianças que estudam naquele estabelecimento de ensino
"continuam a comparecer na escola, mesmo no curso noturno, onde têm
estudado normalmente".
MMT/EMYP // JMR
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