quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Moçambique: Ladrões e vigilantes populares aumentam violência nos arredores de Maputo

 


Manuel Matola e Emanuel Pereira (texto) e António Silva (fotos), da Agência Lusa
 
Matola, Moçambique, 14 ago (Lusa) - O comerciante "João", residente na Matola, sul de Moçambique, vive sobressaltado desde que foi molestado com um ferro de engomar por "cerca de 20 homens", que lhe roubaram a viatura, "a enxada que sustentava" a sua família.
 
"Bateram na minha neta e amarraram-nos: eu e a minha esposa. Quase nos incendiaram, porque já nos haviam aplicado petróleo", conta à Lusa "João", nome fictício da vítima, que foi assaltada há cerca de um mês.
 
Desde o assalto à sua residência, durante a madrugada e que demorou mais de uma hora, nenhum membro da família do comerciante teve assistência psicológica, até porque "as autoridades não apoiaram em nada", queixa-se.
 
"Nós só fomos ao hospital. Fomos tratados no hospital. Só espero justiça, porque é demais o que está a acontecer no país. É uma vergonha", afirma à Lusa o comerciante.
 
Os crimes violentos, que se registam no bairro São Dâmaso, onde vive, e que incluem alegadas violações sexuais e "engomadoria" das vítimas, estão a criar pânico também em outras comunidades da Matola, na província de Maputo.
 
Diariamente, homens e mulheres residentes, empunhando paus, catanas e outras armas artesanais, fazem o patrulhamento noturno às ruas, até às cinco da manhã, com ajuda da polícia.
 
No entanto, esta vigilância, segundo a imprensa local, já terá causado a morte de "seis pessoas inocentes", durante o último fim de semana.
 
Uma das vítimas destas patrulhas foi o artista plástico moçambicano Alexandria Ferreira, morto por populares que invadiram uma esquadra na zona do Rio Matola, onde o escultor e outras três pessoas procuraram proteção policial, após terem sido confundidos com elementos de uma suposta quadrilha.
 
"A população está muito triste e cansada. Hoje não fui trabalhar, porque voltei tarde do patrulhamento. Não posso ficar de fora (da operação). Sou um elemento do bairro, por isso, tenho de ajudar", relata Eduardo Zuze, um vigilante do bairro São Dâmaso.
 
A ocorrência de episódios idênticos aos do empresário "João" transformou as noites dos moradores do bairro, com os negócios a terem de alterar o seu horário de encerramento, devido ao medo e às recomendações das autoridades policiais.
 
Entretanto, as escolas locais têm vindo a apelar aos alunos e respetivos familiares para que "se contenham".
 
"O trabalho que temos feito na nossa escola com as crianças é de sensibilização, para não aderirem a esta onda que se está a verificar, para que eles se contenham juntamente com os seus pais e não correrem de um lado para o outro", diz à Lusa o diretor da Escola Primária Completa de São Dâmaso.
 
Albano Jorge assegura que as 6.500 crianças que estudam naquele estabelecimento de ensino "continuam a comparecer na escola, mesmo no curso noturno, onde têm estudado normalmente".
 
MMT/EMYP // JMR
 

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