Deutsche Welle
A RENAMO e o
executivo moçambicano não chegam a consenso nas rondas negociais. O Parlamento
encerrou uma sessão extraordinária sem rever a lei eleitoral. Mas um
entendimento é fundamental, diz analista.
O Parlamento
moçambicano encerrou na quinta-feira (16.08) a sessão extraordinária em que se
previa debater uma proposta de revisão da lei eleitoral exigida pela RENAMO.
Mas a proposta não chegou a ser submetida.
"O Parlamento
criou espaço para que a proposta de revisão da lei fosse apresentada, mas,
infelizmente, tal não aconteceu", disse Verónica Macamo, presidente da
Assembleia da República moçambicana.
A RENAMO rejeita a
atual representação proporcional nos órgãos eleitorais e defende a paridade. A
intenção do partido era apresentar uma proposta de revisão da lei eleitoral em
conjunto com o Governo, depois de alcançado um acordo no diálogo entre as duas partes.
Mas o impasse
político já dura 16 rondas negociais. O executivo recusa a intenção da RENAMO e
disse ao partido para apresentar sozinho a proposta de revisão. Na semana
passada, o Governo moçambicano deu mesmo por terminado o diálogo com a RENAMO
sobre o pacote eleitoral.
Consenso ainda é
possível
Apesar de não haver
uma solução à vista, o analista moçambicano Silvério Ronguana acredita que
ainda não estão esgotadas todas as possibilidades para rever a legislação. Até
porque, se não se ultrapassar o impasse político, as eleições não poderão ser
livres e justas, diz.
"Poderá haver
eleições, mas nesse caso já podemos adivinhar os resultados. Será como na
Guiné-Equatorial, em Angola ou no Zimbabué", refere Ronguana. "Mas se
queremos efetivamente um processo eleitoral minimamente aceitável é preciso
reforçar a participação dos outros atores nos órgãos de gestão eleitoral,
nomeadamente na Comissão Nacional de Eleições (CNE) e no Secretariado Técnico
da Administração Eleitoral (STAE)."
O desentendimento
sobre o pacote eleitoral entre o executivo de Maputo e a RENAMO deixará o
partido da oposição fora das eleições em 53 autarquias, para as quais decidiu
não se inscrever. Ronguana admite que, se um partido está fora do pleito, isso
não põe em perigo a realização do mesmo. Mas agora será mais difícil que o
Governo e a RENAMO cheguem a um consenso.
"Perdemos mais
uma oportunidade soberana para ultrapassar os impasses, para celebrar eleições
consensuais. Porque, aliás, um objetivo das eleições é a resolução de conflitos
e diferendos", diz o analista. "Creio que as eleições podem até
realizar-se, mas provavelmente já não naquele clima de festa, de concórdia, que
era de esperar."
Braço de ferro
Ronguana acredita
que tanto o Governo como a RENAMO têm vontade de ultrapassar o impasse político.
Mas essa vontade não é tudo, refere. Cada um quer sair como vencedor e ninguém
tem estado disponível para ceder.
Segundo o analista,
tanto na RENAMO, como no partido no poder, a FRELIMO, ainda persiste a lógica
de vitória dos tempos da guerra: "ambos foram construindo o seu
temperamento político, foram conquistando o que conquistaram, pela via das
armas e das vitórias", diz Silvério Ronguana.
"Penso que não
existe um clima de cedência mínima, mas acho que provavelmente o Governo tem
mais hipóteses de ceder do que a RENAMO, porque o que este partido realmente
exige é um equilíbrio dos órgãos de gestão eleitoral e é manifesto que esse
equilíbrio não existe. Esse consenso faltou antes de se encerrar a lei",
conclui.
Perigo de novos
conflitos
O impasse político
em Moçambique e a ausência da RENAMO nas eleições autárquicas, marcadas para 20
de novembro, tem levado alguns observadores a dizer que a democracia de
Moçambique está em perigo. Silvério Ronguana concorda e vai mais longe: se não
se fizer nada, o país pode resvalar, de novo, para o conflito armado.
"Porque, desta
vez, a RENAMO não está apenas a boicotar a sua participação nas eleições. Ela
está decidida e tem mostrado que tem uma capacidade militar no terreno para
inviabilizar o processo político no seu todo", diz. "O que está em
causa não é a participação ou não da RENAMO, mas sim a realização ou não das
eleições com todas as forças políticas."
Segundo Ronguana,
não havendo um consenso, "a questão é saber qual a solução que o Governo
tem. Porque há um perigo real de regressar a um conflito."
Autoria: António
Rocha / Lusa - Edição: Guilherme Correia da Silva / Marcio Pessôa
Sem comentários:
Enviar um comentário