Verdade (mz) - Editorial
O clima do medo já
está mais do que instalado. E enquanto a retórica oficial prega a oração
segundo a qual tudo não passa de boatos, os residentes dos bairros não dormem
para não acordarem sobressaltados durante a vigília. Estamos, enquanto país,
naquele ponto da casa sem comida. Ou seja, todos ralham e ninguém tem razão.
Populistas que
somos, evocamos a capacidade da Polícia da República (PRM) de Moçambique quando
se trata de uma manifestação desencadeada pelos enteados da pátria. Esquecemos,
no meio da euforia, que os enteados da pátria não se escondem e circulam na via
pública onde a possibilidade de repressão é extremamente fácil. Trata-se,
portanto, de duas situações diferentes e que exigem, por isso, respostas
igualmente diferentes. Reprimir indivíduos que queiram expressar a sua
cidadania e gozar do seu direito de discordar dos métodos do Governo não é o
mesmo que lutar contra o rosto invisível do crime.
Aliás, o contexto
do surgimento da nossa periferia é, em si, um campo fértil para a expansão do
crime. Se acrescentarmos aos problemas estruturais dos nossos bairros a tão
certa possibilidade de a PRM não ter, de forma alguma, vocação para combater
qualquer espécie de crime não é preciso muito para colocar uma província à
beira de um ataque de nervos. A fotografia de um artigo que retrata um caso de
violência doméstica, que teve lugar no Brasil, reflecte a expressão máxima do
clima do medo que vivemos. A dita imagem circulou pelas redes sociais como a
prova da malvadez do propalado grupo “G20”.
Com excepção de um
indivíduo que se aproximou do @Verdade para partilhar os castigos que sofreu
nas mãos de 11 malfeitores há muitos poucos casos dados como certos. A PRM
confirma que 15 elementos assaltaram, violaram e “engomaram” uma das suas
vítimas em São Dâmaso. Em T3 foram reportados dois casos de assalto e posterior
violação. Não se trata, diga-se, de um número de ocorrências para colocar
cidadãos sem dormir. Contudo, é mais do que suficiente para a PRM mostrar que é
capaz de garantir a segurança dos cidadãos deste país que trabalham de sol a
sol e pagam religiosamente os seus impostos.
Sem vítimas reais
não é, para qualquer pessoa sensata, possível acreditar no “G20”. Mesmo por uma
questão de lógica. E mesmo pela lógica continua impossível crer na capacidade
da PRM para combater o crime. Aliás, as justificações segundo as quais os populares
não colaboram resultam de uma manifestação de incapacidade gritante de a PRM
cumprir o papel de garante da tranquilidade pública. Portanto, o que ficou
demonstrado de forma categórica é que somos um país sem segurança. E isso
acontece depois de sairmos do perímetro do cimento. Isso para os pobres. Porque
os ricos são raptados em qualquer ponto deste país inseguro....
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