ESTADOS UNIDOS –
CONTRA A CONVENÇÃO DIPLOMÁTICA DE VIENA
Martinho Júnior,
Luanda (parte anterior)
1 – Quando Angola
formalizar pela segunda vez a sua candidatura a membro do Conselho de Segurança
da ONU, uma coisa o seu governo pode ter como certeza: tal como da primeira
vez, a possibilidade da sua “elevação” será observada de muito perto pelos
dispositivos electrónicos controlados pelos serviços de inteligência norte
americanos e seus aliados, que avaliarão “em tempo real” as perspectivas e cenários
sugeridos pelo evento, tendo em conta muito em especial a evolução das
diferentes conjunturas regionais africanas.
A informação
recolhida em Nova-York será cruzada com informação recolhida à escala global
relativa a Angola, mas sobretudo informação recolhida em África.
Em Angola, em
especial desde a “abertura aos mercados”, os instrumentos “deep inside” dos
interesses têm vindo a ser instalados e por isso é evidente que muita coisa vai
ser previamente balanceada pelos serviços de inteligência das potências e
principalmente daquelas afectas à hegemonia unipolar anglo-saxónica.
Isso é para esses
serviços relevante, pois se a estabilidade no jogo de interesses tem sido
conseguida em relação ao sector muito sensitivo do petróleo e do gás, no quadro
do poderoso “lobby” da energia essencial para a preservação do poder da
hegemonia nos Estados Unidos e na União Europeia, parâmetros ao nível dos
obtidos por esse “lobby” não têm sido conseguidos ainda no sector adstrito ao
dos minerais.
Isso é importante
tendo em conta que a administração de turno é Democrata e muito assente nos
interesses do “lobby” dos minerais, ou seja, muito mais volúvel em termos de
construção e avaliação das elites presentes nos cenários africanos, usando os
mais diversos processos de manipulação e tirando partido do incremento das
possibilidades das políticas indexadas ao exercício de “soft power”, que conta
com a experiência em curso no AFRICOMMAND.
De entre os
processos de manipulação destaco aqueles de ordem sócio-política, uma vez que,
na ausência duma esquerda declarada que assuma uma posição de materialismo
dialéctico, o espaço é preenchido por aqueles que se incluem no jogo das “open
societies”, conforme às filosofias de Karl popper e do seu fiel seguidor George
Soros (seguidor e financiador do Partido Democrata norte-americano)!...
2 – Angola é
manifestamente importante, sob o ponto de vista geo estratégico, em relação aos
espaços da África Austral, África Central, Golfo da Guiné e África do Oeste.
Se em relação aos
três primeiros espaços o seu peso específico eleva o país e o estado a papéis
de relativa preponderância ou influência, beneficiando de sua localização
físico-geográfica e da configuração de suas políticas de paz, já em relação à
África do Oeste é de salientar que a tentativa duma presença mais expressiva
tem sofrido alguns reveses (lembre-se a Costa do Marfim e a Guiné Bissau), mas
também alguns êxitos (Cabo Verde e Guiné Conacry).
No geral a
persistência de Angola na prioridade de políticas de paz nos relacionamentos com
os outros africanos, tem sido equacionada segundo o próprio interesse das
potências e, no que diz respeito à perspectiva da hegemonia, as conclusões são
distintas: serão bem-vindas por exemplo quando esse exercício acontece em
relação a um Sudão do Sul, mas terá merecido pelo menos uma velada reprovação
por exemplo quando esse mesmo argumento foi usado para com a Líbia!
É evidente que o
ideário que utiliza a “inteligência económica” integra os processos de engodo
que colocam Angola como outra “correia de transmissão” em relação a África,
tirando partido do seu enorme potencial!
3 – As
movimentações diplomáticas que forem feitas a fim de preparar apoios e
fundamentos para a segunda candidatura merecerão também uma atenção especial
por parte dos serviços de inteligência norte americanos, que sabem que a
articulação de relacionamentos contará com os inevitáveis contactos com a
República Popular da China, com a Rússia e com outros emergentes dentro e fora
do grupo BRICS, eles próprios alvos da “inteligência económica” anglo-saxónica.
Entre as muitas
questões que se levantarão para os interesses da hegemonia norte americana
estará a da necessidade de avaliar quanto a trilha de paz que Angola procura
garantir, é alicerçada também no que for balanceado como desfavores em relação
aos Estados Unidos e União Europeia, quando Angola procurar equilíbrios entre
todos os interesses, uma vez que, agora mais que nunca, os expedientes neo
liberais e os que se prendem à “inteligência económica”, serem tão evidentes.
O papel instrumentalizado
de Portugal é um termómetro que é elucidativo para Angola: colónia do capital
na Europa (“protectorado” para os governantes subservientes), polvilhado de
agentes repescados das velhas redes “stay behind” ao sabor da NATO, Portugal é
por si outra “correia de transmissão” das potencialidades neo liberais no “eldorado”
angolano… a crise vem mesmo a propósito!
4 – A propósito:
depois de “O último acto dum vassalo”, o cargo de Ministro dos Negócios
Estrangeiros de Portugal é ocupado por Rui Machete, um conhecido “diplomata”
que privilegia o enfeudamento da política externa portuguesa ao “diktat”
norte-americano (a continuação das soluções “stay behind” adaptadas à evolução
da crise em Portugal).
Decerto que Rui
Machete não pedirá desculpas à Bolívia no que diz respeito ao incidente com o
avião presidencial onde viajava o Presidente Evo Morales e poderá evocar a
seguinte “razão técnica”: isso foi um “entusiasmo” do seu antecessor, do qual
ele se demarca!...
As presumíveis
divergências no seio da Fundação Luso-Americana, são mais um “biombo” na
tentativa de esconder os vínculos reais do enfeudamento!
De facto as
relações são de tal ordem que até os conceitos típicos da NATO e do sistema de
inteligência português (em particular aqueles indexados à “Inteligência
económica”) têm servido para a “causa comum ocidental”… inclusive com
influência muito forte nos relacionamentos bilaterais com Angola, como os
vínculos que têm sido cultivados com alguns quadros das Instituições da Defesa
e da Inteligência angolana!...
5 – Apesar disso,
os Estados Unidos não deixam para outros o que sempre souberam fazer.
Eis um exemplo
divulgado pelo Wikileaks, ao tempo de um dos mais “simpáticos” embaixadores
norte americanos em Angola que posteriormente haveria de prestar serviço como
professor de Segurança Nacional no National War College (actualmente é
Embaixador no Bangladesh):
VZCZCXRO4474 OO
RUEHBZ RUEHDU RUEHJO RUEHMR RUEHRN DE RUEHLU #0084/01 0571613 ZNR UUUUU ZZH O R
261612Z FEB 10 FM AM EMBASSY LUANDA TO RUEHC/SECSTATE WASHDC IMMEDIATE 0010 INFO
SOUTHERN AF DEVELOPMENT COMMUNITY COLLECTIVE RUEHBJ/AMEMBASSY BEIJING 0001
Hide header UNCLAS
SECTION 01 OF 02 LUANDA 000084 SENSITIVE SIPDIS DEPARTMENT FOR AF/RSA LOUIS
MAZEL, LAURA GRIESMER, AND RYAN BOWLES E.O. 12958: N/A TAGS: PREL [External Political Relations],
EAID [Foreign Economic Assistance],
ECON [Economic Conditions], PGOV [Internal Governmental Affairs],
AO [Angola], CH [China (Mainland)] SUBJECT:
REQUEST FOR INFORMATION ON CHINESE ENGAGEMENT IN ANGOLA AND POTENTIAL AREAS FOR
COOPERATION REF: SECSTATE 10152; 08 LUANDA 536
¶1.
(SBU) The following responses are keyed to Department queries (reftel): A:
Description of Chinese engagement in Angola: The Chinese are heavily engaged in
financing and implementing Angola's reconstruction following the end of the
nation's devastating civil war in 2002. In the absence of a much anticipated
(by the Angolans) conference of Western donors to help fund reconstruction, Angola
turned to the Chinese. Chinese financing includes a (mostly oil-backed) USD 4
billion line of credit through the Chinese Ex-Im Bank. Although the terms of
this line of credit are not entirely clear, it seemingly provides concessionary
interest rates and some grace period for repayment. According to unconfirmed
reports, an additional line of credit of up to USD 4 to 6 billion has been
established through the Chinese Investment Fund (CIF), though Post doubts that
this fund, which was to have been funded by Chinese investors, ever attracted
enough Chinese capital to undertake intended infrastructure projects in Angola.
At the moment, the CIF is partnering with state oil company Sonangol in
extractive industry ventures in Africa outside of Angola. The Chinese Ex-Im
Bank line of credit is linked to the use of Chinese companies as prime
contractors for Chinese-funded projects. Many sub-contractors for these
projects are Chinese companies as well. Some of these companies have stayed in Angola
after project completion and are branching out into other areas, such as
import/export transactions and private housing. The feverish pace of Chinese
engagement in Angola cooled markedly in 2009 as the global financial crisis
gutted Angola's oil and diamond revenues, precipitating sharp reductions in GRA
expenditures. According to the Chinese Ambassador in Luanda, China had to
recall more than 25,000 workers in 2009 due to the lack of GRA funds to pay
them. Few new projects were launched in 2009, though most of those previously
underway continued, albeit often at a reduced pace. However, those linked to
preparations for the January 2010 Africa Cup of Nations Football (soccer)
Championship, which Angola hosted by building four new stadiums, continued
full-steam. Recently concluded and currently underway infrastructure and energy
sector-related undertakings include: ---upgrading the electricity network in
Luanda; ---rehabilitation of Angola's three railway lines: Luanda-Malanje
(completion in 2010); Namibe-Menongue (completion in 2011); and Benguela-DRC
(completion in 2012); ---improvements of infrastructure in Luanda, including
building a new international airport; ---numerous roads and highways outside of
Luanda; ---social housing projects within Luanda; ---four football (soccer)
stadiums (Luanda, Benguela, Lubango, and Cabinda) that were used during the
Africa Cup of Nations tournament in January 2010; ---joint oil exploration
venture with Angolan parastatal Sonangol in Block 18; and ---a diamond mining
venture with state diamond company Endiama. B. Examples of U.S.-China
cooperation in Angola. Chinese contractors have successfully implemented
DOD-funded humanitarian assistance projects, and a Chinese national is engaged
by an implementing partner in our malaria program. C. Potential areas for
U.S.-China cooperation. As reported Ref B, the Ambassador raised with the
Chinese Ambassador in July 2008 the concept of a joint agricultural development
project, and the Chinese Ambassador agreed to explore the possibilities.
However, determined efforts by USAID technical staff failed to identify a
project consistent with our development objectives to which the Chinese could
contribute meaningfully. Given shifts in FY-2010 USAID funding, Post will
undertake again to explore possibilities for cooperation with the Chinese in
regard to either our expanding agriculture program or in our malaria and/or
HIV/AIDS programs. Post experience has shown, however, that language can be a
considerable barrier; for example, the current Chinese Ambassador speaks no
Portuguese or English and only limited Spanish. LUANDA 00000084 002 OF 002 ¶2. (SBU)
COMMENT: The Chinese presence looms large in Angola. Although exact numbers are
elusive, a minimum of 50,000 Chinese are in the country; most other estimates
are markedly higher. Few question that the Chinese have contributed importantly
to Angola's ongoing national reconstruction. Nonetheless, some Angolans express
concerns that Chinese engagement, financed by loans that Angola needs to repay,
has failed to create jobs for Angolans, has failed to transfer technology to Angolans,
and has often resulted in poor quality performance. Concerns have also been
raised about the opaque nature of the Chinese funding, which is channeled
through the Office of National Reconstruction of the Presidency. END COMMENT. MOZENA”
- http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=10LUANDA84&q=angola
Documento: Procedures used by NSA to target non-US
persons: Exhibit A - http://www.guardian.co.uk/world/interactive/2013/jun/20/exhibit-a-procedures-nsa-document
A consultar:
. Your
conversations are being intercepted – http://www.environmentalgraffiti.com/featured/conversations-intercepted-truth-project-echelon/8773
. Empresa do espião
Snowden foi consultora-mor do governo de Fernando Henrique Cardoso – http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22329
. Russia’s return
to Africa – 15 de Julho de 2009 – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=09MOSCOW1825&q=angola
. Russia business
presence in Africa – 24 de Agosto de 2009 – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=09STATE88241&q=angola
. Request For
Information On Chinese Engagement In Angola And Potential Areas For Cooperation
– 26 de Fevereiro de 2010 – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=10LUANDA84&q=angola
. U.s.-china Africa
Sub-dialogue: A/s Frazer And Afm Zhai Jun Discuss Assistance, Conflicts And
Cooperation – 20 de Outubro de 2008 – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=08BEIJING3996&q=angola
. Dan Mozema –
biography – http://www.allgov.com/news/appointments-and-resignations/ambassador-to-bangladesh-who-is-dan-mozena?news=843675;
http://en.wikipedia.org/wiki/Dan_Mozena
. Rui Machete – http://pt.wikipedia.org/wiki/Rui_Machete
. Quem é Rui
Machete – http://expresso.sapo.pt/quem-e-rui-machete-o-novo-mne=f822345
. BE critica
nomeação de Rui Machete – http://www.jn.pt/PaginaInicial/Politica/Interior.aspx?content_id=3339101
. Remodelação
inclui ministros com rabos de palha – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/07/portugal-rui-machete-remodelacao-inclui.html
. Sinais
controversos – IX – http://paginaglobal.blogspot.com/p/martinho-juniorluanda-13-o.html
. O ultimo acto dum
vassalo – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/07/o-ultimo-acto-dum-vassalo.html
. Vassalagem
comprometedora – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/07/vassalagem-comprometedora.html
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