sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O ECHELON ACTUA EM PLENA ONU - II


ESTADOS UNIDOS – CONTRA A CONVENÇÃO DIPLOMÁTICA DE VIENA
 
Martinho Júnior, Luanda (parte anterior)
 
1 – Quando Angola formalizar pela segunda vez a sua candidatura a membro do Conselho de Segurança da ONU, uma coisa o seu governo pode ter como certeza: tal como da primeira vez, a possibilidade da sua “elevação” será observada de muito perto pelos dispositivos electrónicos controlados pelos serviços de inteligência norte americanos e seus aliados, que avaliarão “em tempo real” as perspectivas e cenários sugeridos pelo evento, tendo em conta muito em especial a evolução das diferentes conjunturas regionais africanas.
 
A informação recolhida em Nova-York será cruzada com informação recolhida à escala global relativa a Angola, mas sobretudo informação recolhida em África.
 
Em Angola, em especial desde a “abertura aos mercados”, os instrumentos “deep inside” dos interesses têm vindo a ser instalados e por isso é evidente que muita coisa vai ser previamente balanceada pelos serviços de inteligência das potências e principalmente daquelas afectas à hegemonia unipolar anglo-saxónica.
 
Isso é para esses serviços relevante, pois se a estabilidade no jogo de interesses tem sido conseguida em relação ao sector muito sensitivo do petróleo e do gás, no quadro do poderoso “lobby” da energia essencial para a preservação do poder da hegemonia nos Estados Unidos e na União Europeia, parâmetros ao nível dos obtidos por esse “lobby” não têm sido conseguidos ainda no sector adstrito ao dos minerais.
 
Isso é importante tendo em conta que a administração de turno é Democrata e muito assente nos interesses do “lobby” dos minerais, ou seja, muito mais volúvel em termos de construção e avaliação das elites presentes nos cenários africanos, usando os mais diversos processos de manipulação e tirando partido do incremento das possibilidades das políticas indexadas ao exercício de “soft power”, que conta com a experiência em curso no AFRICOMMAND.
 
De entre os processos de manipulação destaco aqueles de ordem sócio-política, uma vez que, na ausência duma esquerda declarada que assuma uma posição de materialismo dialéctico, o espaço é preenchido por aqueles que se incluem no jogo das “open societies”, conforme às filosofias de Karl popper e do seu fiel seguidor George Soros (seguidor e financiador do Partido Democrata norte-americano)!...
 
2 – Angola é manifestamente importante, sob o ponto de vista geo estratégico, em relação aos espaços da África Austral, África Central, Golfo da Guiné e África do Oeste.
 
Se em relação aos três primeiros espaços o seu peso específico eleva o país e o estado a papéis de relativa preponderância ou influência, beneficiando de sua localização físico-geográfica e da configuração de suas políticas de paz, já em relação à África do Oeste é de salientar que a tentativa duma presença mais expressiva tem sofrido alguns reveses (lembre-se a Costa do Marfim e a Guiné Bissau), mas também alguns êxitos (Cabo Verde e Guiné Conacry).
 
No geral a persistência de Angola na prioridade de políticas de paz nos relacionamentos com os outros africanos, tem sido equacionada segundo o próprio interesse das potências e, no que diz respeito à perspectiva da hegemonia, as conclusões são distintas: serão bem-vindas por exemplo quando esse exercício acontece em relação a um Sudão do Sul, mas terá merecido pelo menos uma velada reprovação por exemplo quando esse mesmo argumento foi usado para com a Líbia!
 
É evidente que o ideário que utiliza a “inteligência económica” integra os processos de engodo que colocam Angola como outra “correia de transmissão” em relação a África, tirando partido do seu enorme potencial!
 
3 – As movimentações diplomáticas que forem feitas a fim de preparar apoios e fundamentos para a segunda candidatura merecerão também uma atenção especial por parte dos serviços de inteligência norte americanos, que sabem que a articulação de relacionamentos contará com os inevitáveis contactos com a República Popular da China, com a Rússia e com outros emergentes dentro e fora do grupo BRICS, eles próprios alvos da “inteligência económica” anglo-saxónica.
 
Entre as muitas questões que se levantarão para os interesses da hegemonia norte americana estará a da necessidade de avaliar quanto a trilha de paz que Angola procura garantir, é alicerçada também no que for balanceado como desfavores em relação aos Estados Unidos e União Europeia, quando Angola procurar equilíbrios entre todos os interesses, uma vez que, agora mais que nunca, os expedientes neo liberais e os que se prendem à “inteligência económica”, serem tão evidentes.
 
O papel instrumentalizado de Portugal é um termómetro que é elucidativo para Angola: colónia do capital na Europa (“protectorado” para os governantes subservientes), polvilhado de agentes repescados das velhas redes “stay behind” ao sabor da NATO, Portugal é por si outra “correia de transmissão” das potencialidades neo liberais no “eldorado” angolano… a crise vem mesmo a propósito!
 
4 – A propósito: depois de “O último acto dum vassalo”, o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal é ocupado por Rui Machete, um conhecido “diplomata” que privilegia o enfeudamento da política externa portuguesa ao “diktat” norte-americano (a continuação das soluções “stay behind” adaptadas à evolução da crise em Portugal).
 
Decerto que Rui Machete não pedirá desculpas à Bolívia no que diz respeito ao incidente com o avião presidencial onde viajava o Presidente Evo Morales e poderá evocar a seguinte “razão técnica”: isso foi um “entusiasmo” do seu antecessor, do qual ele se demarca!...
 
As presumíveis divergências no seio da Fundação Luso-Americana, são mais um “biombo” na tentativa de esconder os vínculos reais do enfeudamento!
 
De facto as relações são de tal ordem que até os conceitos típicos da NATO e do sistema de inteligência português (em particular aqueles indexados à “Inteligência económica”) têm servido para a “causa comum ocidental”… inclusive com influência muito forte nos relacionamentos bilaterais com Angola, como os vínculos que têm sido cultivados com alguns quadros das Instituições da Defesa e da Inteligência angolana!...
 
5 – Apesar disso, os Estados Unidos não deixam para outros o que sempre souberam fazer.
 
Eis um exemplo divulgado pelo Wikileaks, ao tempo de um dos mais “simpáticos” embaixadores norte americanos em Angola que posteriormente haveria de prestar serviço como professor de Segurança Nacional no National War College (actualmente é Embaixador no Bangladesh):
 
VZCZCXRO4474 OO RUEHBZ RUEHDU RUEHJO RUEHMR RUEHRN DE RUEHLU #0084/01 0571613 ZNR UUUUU ZZH O R 261612Z FEB 10 FM AM EMBASSY LUANDA TO RUEHC/SECSTATE WASHDC IMMEDIATE 0010 INFO SOUTHERN AF DEVELOPMENT COMMUNITY COLLECTIVE RUEHBJ/AMEMBASSY BEIJING 0001
 
Hide header UNCLAS SECTION 01 OF 02 LUANDA 000084 SENSITIVE SIPDIS DEPARTMENT FOR AF/RSA LOUIS MAZEL, LAURA GRIESMER, AND RYAN BOWLES E.O. 12958: N/A TAGS: PREL[External Political Relations], EAID[Foreign Economic Assistance], ECON[Economic Conditions], PGOV[Internal Governmental Affairs], AO[Angola], CH[China (Mainland)] SUBJECT: REQUEST FOR INFORMATION ON CHINESE ENGAGEMENT IN ANGOLA AND POTENTIAL AREAS FOR COOPERATION REF: SECSTATE 10152; 08 LUANDA 536 ¶1. (SBU) The following responses are keyed to Department queries (reftel): A: Description of Chinese engagement in Angola: The Chinese are heavily engaged in financing and implementing Angola's reconstruction following the end of the nation's devastating civil war in 2002. In the absence of a much anticipated (by the Angolans) conference of Western donors to help fund reconstruction, Angola turned to the Chinese. Chinese financing includes a (mostly oil-backed) USD 4 billion line of credit through the Chinese Ex-Im Bank. Although the terms of this line of credit are not entirely clear, it seemingly provides concessionary interest rates and some grace period for repayment. According to unconfirmed reports, an additional line of credit of up to USD 4 to 6 billion has been established through the Chinese Investment Fund (CIF), though Post doubts that this fund, which was to have been funded by Chinese investors, ever attracted enough Chinese capital to undertake intended infrastructure projects in Angola. At the moment, the CIF is partnering with state oil company Sonangol in extractive industry ventures in Africa outside of Angola. The Chinese Ex-Im Bank line of credit is linked to the use of Chinese companies as prime contractors for Chinese-funded projects. Many sub-contractors for these projects are Chinese companies as well. Some of these companies have stayed in Angola after project completion and are branching out into other areas, such as import/export transactions and private housing. The feverish pace of Chinese engagement in Angola cooled markedly in 2009 as the global financial crisis gutted Angola's oil and diamond revenues, precipitating sharp reductions in GRA expenditures. According to the Chinese Ambassador in Luanda, China had to recall more than 25,000 workers in 2009 due to the lack of GRA funds to pay them. Few new projects were launched in 2009, though most of those previously underway continued, albeit often at a reduced pace. However, those linked to preparations for the January 2010 Africa Cup of Nations Football (soccer) Championship, which Angola hosted by building four new stadiums, continued full-steam. Recently concluded and currently underway infrastructure and energy sector-related undertakings include: ---upgrading the electricity network in Luanda; ---rehabilitation of Angola's three railway lines: Luanda-Malanje (completion in 2010); Namibe-Menongue (completion in 2011); and Benguela-DRC (completion in 2012); ---improvements of infrastructure in Luanda, including building a new international airport; ---numerous roads and highways outside of Luanda; ---social housing projects within Luanda; ---four football (soccer) stadiums (Luanda, Benguela, Lubango, and Cabinda) that were used during the Africa Cup of Nations tournament in January 2010; ---joint oil exploration venture with Angolan parastatal Sonangol in Block 18; and ---a diamond mining venture with state diamond company Endiama. B. Examples of U.S.-China cooperation in Angola. Chinese contractors have successfully implemented DOD-funded humanitarian assistance projects, and a Chinese national is engaged by an implementing partner in our malaria program. C. Potential areas for U.S.-China cooperation. As reported Ref B, the Ambassador raised with the Chinese Ambassador in July 2008 the concept of a joint agricultural development project, and the Chinese Ambassador agreed to explore the possibilities. However, determined efforts by USAID technical staff failed to identify a project consistent with our development objectives to which the Chinese could contribute meaningfully. Given shifts in FY-2010 USAID funding, Post will undertake again to explore possibilities for cooperation with the Chinese in regard to either our expanding agriculture program or in our malaria and/or HIV/AIDS programs. Post experience has shown, however, that language can be a considerable barrier; for example, the current Chinese Ambassador speaks no Portuguese or English and only limited Spanish. LUANDA 00000084 002 OF 002 ¶2. (SBU) COMMENT: The Chinese presence looms large in Angola. Although exact numbers are elusive, a minimum of 50,000 Chinese are in the country; most other estimates are markedly higher. Few question that the Chinese have contributed importantly to Angola's ongoing national reconstruction. Nonetheless, some Angolans express concerns that Chinese engagement, financed by loans that Angola needs to repay, has failed to create jobs for Angolans, has failed to transfer technology to Angolans, and has often resulted in poor quality performance. Concerns have also been raised about the opaque nature of the Chinese funding, which is channeled through the Office of National Reconstruction of the Presidency. END COMMENT. MOZENA” - http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=10LUANDA84&q=angola
 
Documento: Procedures used by NSA to target non-US persons: Exhibit A - http://www.guardian.co.uk/world/interactive/2013/jun/20/exhibit-a-procedures-nsa-document
 
A consultar:
. Empresa do espião Snowden foi consultora-mor do governo de Fernando Henrique Cardoso – http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22329
. Russia’s return to Africa – 15 de Julho de 2009 – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=09MOSCOW1825&q=angola
. Russia business presence in Africa – 24 de Agosto de 2009 – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=09STATE88241&q=angola
. Request For Information On Chinese Engagement In Angola And Potential Areas For Cooperation – 26 de Fevereiro de 2010 – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=10LUANDA84&q=angola
. U.s.-china Africa Sub-dialogue: A/s Frazer And Afm Zhai Jun Discuss Assistance, Conflicts And Cooperation – 20 de Outubro de 2008 – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=08BEIJING3996&q=angola
. Remodelação inclui ministros com rabos de palha – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/07/portugal-rui-machete-remodelacao-inclui.html
 

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