Deutsche Welle
Diante da falta de
confiança dos americanos e da pressão internacional, presidente admite estudar
mudanças no serviço de vigilância. Obama diz ainda que relação com a Rússia
deve ser ajustada.
Nos últimos dias, o
presidente americano, Barack Obama, parecia um tanto quanto atordoado com os
últimos acontecimentos internos e o andamento da política externa dos Estados
Unidos. Pouco antes de sair para as férias de verão, no entanto, ele
aparentemente quis voltar a assumir a ofensiva. Tanto que, para a entrevista
coletiva concedida na Casa Branca nesta sexta-feira (09/08), escolheu dois
temas polêmicos e de grande importância, não só para os norte-americanos, mas
também para seus aliados.
Um deles foi o
programa de vigilância da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados
Unidos, que tem gerado acalorados debates na Europa e que preocupado cada vez
mais os americanos. Outro ponto abordado pelo presidente foi a tensa relação
com a Rússia. O entendimento entre os dois países parece ter atingido seu ponto
mais baixo, depois de Obama cancelar o encontro, programado para setembro, com
o presidente russo, Vladimir Putin.
Numa ironia
histórica, o informante Edward Snowden tem papel significativo em assuntos
abordados pelo presidente. Ao denunciar o sistemático esquema de espionagem
implementado por Washington, o ex-agente da NSA deixou a gestão Obama em uma
situação embaraçosa. Depois de fugir dos Estados Unidos, Snowden conseguiu
ganhar asilo na Rússia por um ano. E este foi, justamente, o principal motivo
que fez o presidente americano cancelar o encontro com Putin.
Obama mencionou
rapidamente o whistleblower na coletiva, ao dizer "não acredito que o Sr.
Snowden seja um patriota". Pela primeira vez, porém, o presidente admitiu
que as mudanças recém-anunciadas para a NSA não seriam adotadas tão
rapidamente, se não fossem as denúncias feitas por Snowden.
"Nós nos
encontramos numa situação bastante paradoxal", avaliou Cory Welt,
vice-diretor do Instituto de Estudos Europeus, Russos e Eurasianos na
Universidade George Washington, em entrevista à Deutsche Welle. "Snowden
está sendo procurado por acusações criminais e, ao mesmo tempo, vemos uma
administração que reconhece que as ações dele a incentivaram a revisar algumas
de suas políticas."
Mais controle, mais
confiança
Com o anúncio de
mais transparência e controle sobre a NSA e a introdução de uma comissão
independente de especialistas, tudo leva a crer que Obama quer recuperar a
confiança da população. De acordo com pesquisas de opinião recentes, mais da
metade dos norte-americanos não confia mais no presidente e suspeita que os
dados coletados não são usados apenas para combater o terrorismo.
Para Mark Jacobsen,
do think tank German Marshall Fund, o presidente responde às preocupações da
população e de seus aliados, ao falar sobre a extensão dos programas de
vigilância e dizer que haverá maior controle, mas não prometeu mudanças
concretas.
"O que o
presidente está tentando, é dar respostas às preocupações tanto da opinião pública
americana quanto de nossos aliados. Não escutei nada sobre reduzir ou limitar
os programas de inteligência". Mesmo com Obama anunciando, diante de
jornalistas, uma "nova era" para os serviços de inteligência,
Jacobsen alerta para que interpretar as palavras do presidente como uma grande
reforma nessa área seria um erro.
Nova era do gelo
russo-americana
Enquanto o Partido
Democrata aprova o novo rumo nos programas de vigilância do governo, a oposição
republicana acusa o presidente de dar apoio insuficiente a esses programas. Já
no que diz respeito às relações com a Rússia, porém, os dois partidos estão
alinhados.
O presidente
norte-americano anunciou que haverá um longo período de silêncio entre os dois
países, a partir de agora. "Provavelmente será apropriado nós fazermos
agora uma pausa, reavaliar qual o caminho que a Rússia está tomando, quais são
os nossos principais interesses e ajustar a relação", declarou.
Apesar de afirmar
que tem uma boa relação pessoal com Putin, o episódio deixou óbvia a frustração
e impaciência do presidente diante de conflitos não solucionados, como os
envolvendo a Síria e também o Irã. "Seus comentários praticamente
sugeriram que o cancelamento desse encontro era inevitável", avalia Cory
Welt. "Mas ele também ressaltou que existe uma agenda comum de interesses
dos dois países que deve ser trabalhada".
Segundo Welt, o
encontro entre os chefes das pastas do Exterior e da Defesa dos dois países –
ocorrido apenas dois dias após o anúncio do cancelamento da reunião em Moscou –
foi um sinal importante. "Tenho certeza que os russos ficaram tentados a
cancelar esse encontro", disse Welt, "e a linguagem corporal dos
ministros mostrou que foi uma reunião bem tensa".
Nada de boicote
O encontro emitiu o
mesmo sinal dado por Obama durante a coletiva: os americanos querem trabalhar
de maneira construtiva com os russos, apesar de todas as diferenças, e não
pretendem deixar que a relação se desintegre.
Essa intenção
também fica clara na recusa do presidente – pelo menos até o momento e apesar
da pressão do Congresso americano neste sentido – de boicotar as Olimpíadas de
Inverno de 2014, a se realizarem na cidade russa de Sóchi.
O jornal Washington
Post avaliou o cancelamento do encontro em Moscou como uma decisão tática.
Porém a longo prazo, a relação só poderá funcionar se houver estímulo dos
níveis mais altos. O periódico comenta, ainda, que Washington deveria
transmitir uma mensagem clara sobre direitos humanos e democracia,
especialmente frente aos recentes ataques contra homossexuais na Rússia.
Embaixadas
reabertas
Durante a
entrevista na Casa Branca, Obama também declarou que a Al Qaeda continua sendo
uma ameaça aos EUA e à segurança internacional. Apesar dessa preocupação
norte-americana com o terrorismo islâmico, o Departamento de Estado anunciou
neste domingo que serão reabertos praticamente todos os 19 consulados e
embaixadas no Oriente Médio e Norte da África, fechados ao longo da semana. A
exceção é a embaixada de Sanaa, no Iêmen, onde a preocupação é maior, devido á
influência da Al Qaeda no país.
O consulado
americano em Lahore, Paquistão, que havia fechado as portas na última
quinta-feira, também permanecerá sem atendimento ao público por tempo
indeterminado. A medida do governo dos EUA veio em reação ao aumento de ameaças
de ataques terroristas, com a proximidade do dia 11 de setembro.
Sem comentários:
Enviar um comentário