quinta-feira, 15 de agosto de 2013

PARA QUE SERVEM AS NEGOCIAÇÕES ENTRE ISRAELENSES E PALESTINOS?

 


Guila Flint, Tel Aviv – Opera mundi
 
Autoridade Palestina e governos de EUA e Israel têm diversos objetivos por trás da retomada do diálogo
 
Em vista do ceticismo generalizado sobre a possibilidade de sucesso da nova rodada de negociações entre israelenses e palestinos, que terá inicio nesta quarta-feira (14/08), muitos analistas se perguntam o que leva as três partes envolvidas (o governo israelense, a Autoridade Palestina e o governo norte-americano) a reiniciar o diálogo.

De acordo com o plano do secretário de Estado norte-americano, John Kerry, dentro de nove meses as negociações deverão levar à solução do conflito entre os dois povos, que já dura cerca de 130 anos.

Já se passaram 20 anos desde a assinatura do Acordo de Oslo, por Itzhak Rabin e Yasser Arafat, em 1993, nos quais houve fracassos sucessivos das tentativas de alcançar um pacto permanente entre os dois povos.

Nessas circunstâncias vale procurar as motivações que levam os governos de Israel, dos Estados Unidos e da Autoridade Palestina à mesa de negociações.

Ataque ao Irã

Para vários analistas em Israel, a principal motivação do premiê Benjamin Netanyahu para retomar o diálogo tem pouco a ver com o conflito com os palestinos e muito com os seus planos de atacar as instalações nucleares do Irã.

Segundo esse raciocínio, Netanyahu teria cedido às pressões de Kerry tendo em vista o interesse de obter o apoio dos Estados Unidos e da Europa para uma ofensiva contra o que considera ameaça existencial a Israel.
 
A retomada das negociações com os palestinos daria a Netanyahu uma espécie de crédito junto à comunidade internacional que, por sua vez, facilitaria um ataque ao Irã.

Outra possível motivação de Netanyahu poderia ser de caráter econômico. Após a decisão da União Europeia de boicotar qualquer negócio com empresas que estejam envolvidas no projeto de colonização dos territórios ocupados, aumenta a preocupação em Israel com a possibilidade de um crescente isolamento econômico.

A retomada das negociações, nesse aspecto, geraria um clima mais favorável para Israel junto à comunidade internacional.

Economia palestina

Do ponto de vista do governo da AP (Autoridade Palestina), a questão mais urgente é obter verbas para pagar os salários dos funcionários públicos, incluindo policiais, professores e médicos.

Depois que grande parte dos países doadores, que haviam prometido ajuda financeira à AP, não cumpriram suas promessas, o Estado Palestino embrionário mal consegue pagar os salários mensais.

Nesse aspecto, o apoio econômico dos Estados Unidos é fundamental e pode constituir uma motivação significativa para que o presidente Mahmoud Abbas ceda às pressões norte-americanas para retomar o diálogo com Israel.

Outra motivação bastante evidente de Abbas é fortalecer a imagem de seu partido, o Fatah, aos olhos do público palestino.

O Fatah, que apostou todas as cartas politicas no acordo com Israel, perdeu muita força para o Hamas, que hoje em dia controla a Faixa de Gaza.

Por intermédio das negociações com Israel, Abbas espera obter alguns trunfos para mostrar ao público interno, o que o fortaleceria politicamente.

O presidente palestino já tem algo para mostrar: o compromisso de Israel de libertar 104 prisioneiros palestinos veteranos, que já se encontram nas cadeias israelenses há mais de 20 anos. Os 26 primeiros foram soltos ontem.
 
Israel havia rejeitado todos os pedidos da liderança palestina para que esse grupo específico de prisioneiros fosse libertado. No entanto, após fortes pressões exercidas por Kerry, o premiê Netanyahu acabou cedendo.

Outros avanços parciais, como a retirada das forças israelenses de partes da Cisjordânia e o desmantelamento de pontos de checagem que pontilham o território ocupado, podem melhorar a qualidade de vida da população palestina e fortalecer o Fatah politicamente.

Instabilidade após Primavera Árabe

Para os Estados Unidos, em vista da profunda incerteza na qual o Oriente Médio mergulhou com a Primavera Árabe, e após uma serie de fracassos da politica norte-americana nesta região, cresce o interesse de que haja um acordo sobre uma das questões que geram mais tensão: o conflito israelense-palestino.

Em seu segundo mandato, o presidente Barack Obama pretende fazer jus ao Premio Nobel da Paz que recebeu em 2009 e dispõe de mais interesse e liberdade para pressionar Israel a devolver territórios aos palestinos e suspender a colonização.
 
Em vista da fragilidade da AP e da dependência diplomática e econômica de Israel dos Estados Unidos, o conflito israelense-palestino seria o cenário no qual o governo norte-americano poderia obter algum resultado.

Pouca luz no fim do túnel

Sobre os principais temas a serem negociados entre as partes, as divergências são tão grandes que poucos acreditam que, nos próximos nove meses, os representantes israelenses e palestinos, com a mediação norte-americana, poderão alcançar um acordo.

Em todos os temas fundamentais – as fronteiras entre os dois Estados, o futuro dos assentamentos, o status de Jerusalém e o destino dos refugiados palestinos – as divergências entre as partes parecem intransponíveis.

Um sinal das dificuldades que os negociadores deverão enfrentar já foi dado poucos dias antes da retomada das negociações, pelo ministro da Habitação de Israel, Uri Ariel.

Ariel, que pertence ao partido de extrema-direita Habait Hayehudi (Lar Judaico), que representa a população de colonos, anunciou a construção de 1.200 novas casas em Jerusalém Oriental e em assentamentos na Cisjordânia.

O principal negociador palestino, Saeb Erekat, já declarou que o anúncio do governo israelense é uma tentativa de sabotar as negociações antes mesmo de elas começarem.

No entanto, vale lembrar a visão mais otimista de alguns analistas, que avaliam que as mudanças geradas pela Primavera Árabe poderão favorecer as negociações entre israelenses e palestinos.
 
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