segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Portugal: NA MORTE DE ANTÓNIO BORGES – com opinião PG

 

Diário de Notícias, editorial - hoje
 
Mal se soube da morte de António Borges, as redes sociais, os blogues e as caixas de comentários das edições online dos jornais foram inundadas de opiniões de júbilo pela notícia. O economista, que atualmente desempenhava as funções de consultor do Governo para as privatizações, era, como todos reconhecem, uma personalidade controversa. Tinha opiniões muito vincadas e muito pouco populares, que não hesitava em afirmar mesmo que isso lhe custasse um rol de críticas.
 
Essa característica de António Borges era muitas vezes considerada pelos seus detratores como arrogância e insensibilidade. Já os seus admiradores classificavam-na como frontalidade e coragem de dizer aquilo que pensava. A verdade factual é esta: António Borges defendeu até ao fim, com enorme convicção, aquilo em que acreditava.
 
Em Portugal, mas não só, a tradição é que, depois da morte, todos os protagonistas passam a ser bons e insubstituíveis. Não é, manifestamente, o caso de António Borges. Mas uma coisa é criticar as ideias, naturalmente discutíveis, do economista. Isso é próprio da democracia e da liberdade de opinião de cada um. Coisa diferente é celebrar a morte de alguém. A Internet foi, como já se disse, o veículo escolhido para todo o tipo de insultos e festejos. Até podemos aceitar que esta plataforma se torne uma espécie de mesa de café dos tempos modernos. A forma livre e desabrida como se fala na Internet é normal, é natural, faz parte da natureza humana. Coisa diferente é permitirmos que ela se transforme numa espécie de lixeira ou sarjeta da opinião. Isso não é tolerável nem saudável para a liberdade e para democracia.
 
É FÁCIL “FALAR”, AOS ESCRIBAS BEM POSICIONADOS NA PIRÂMIDE – opinião PG
 
É absolutamente legítima a opinião veiculada neste editorial do Diário de Notícias, assim como é legítimo rebater e discordar do todo ou de parte. Vangloriarmo-nos da morte de alguém poderá ser menos próprio mas é completamente compreensivel se o defunto configurar a imagem de alguém que demonstrou desumanidade nas suas crenças, na sua ideologia, no seu comportamento. Mais ainda se o defunto se tiver posicionado do outro lado da barricada das lutas de classes e assumido presunçosamente essa sua posição e práticas manifestando um certo asco pelos explorados, pelos tão mal governados. Era assim Borges. Um adversário com alguns poderes (demais) para contribuir para a derrocada das vidas de muitos cidadãos de Portugal e até do mundo – se considerarmos a sua passagem pela Goldman Sachs e pelo FMI. Assim sendo compreende-se que o sentimento das e dos que se consideram vítimas seja o de bailar sobre o seu túmulo ou de festejar no Facebook.
 
António Borges era a tal sinistra figura que advogava sacrifícios e mais sacrifícios para os portugueses – até para todos os trabalhadores de todo o mundo em nome da economia e finanças – mas, gananciosamente (que é o mínimo que se pode considerar) beneficiava do vencimento imoralmente avantajado, em Portugal, isento de imposto. Que decência tinha António Borges como pessoa que advogada a incessante espoliação dos portugueses nos impostos, na baixa de salários, etc., se guardava para si a atitude parasita comum aos salafrários que abundam pelos governos, pelos partidos políticos do “arco da governação” e demais que ontem e hoje se apressaram a elogiar quem afinal muito pouco ou nada fez de bem por Portugal e pelos portugueses mas antes se posicionou no grupo dos que evocam a democracia mas a adulteram na prática como exploradores de outrem sem manifestar o humanismo que deveria caracterizar aquela tão “competente e tão boa pessoa”. Competente talvez… mas com vista aos benefícios enormes dos da sua laia. Gananciosos como ele, à semelhança do de Belém e outros clones.
 
Para quem está a alguma distância da realidade quotidiana e das dificuldades dos portugueses miserabilizados por estes António Borges e tem o privilégio de desfrutar de lugar confortável na pirâmide social (a exemplo dos escribas no Egito) é naturalíssimo que considere as manifestações no Facebook uma reprovável celebração sobre a morte de Borges e não compreenda que os explorados e oprimidos são justamente mesmo assim, por todo o mundo, em circunstâncias análogas, porque celebram – mais ou menos efusivamente – o desaparecimento de mais um terrível adversário, de mais um dos vampiros evocados pelo José Afonso. Borges só não foi mais longe nem foi mais acutilante em causar desgraça em Portugal e pelo mundo porque não lhe foi possível. E depois veio o cancro pancreático que o aniquilou para sempre. Mas Borges daqueles não faltam por aí. Para mal da maioria dos portugueses e dos povos do mundo.
 
O editoralista do DN faz constar no final: "A forma livre e desabrida como se fala na Internet é normal, é natural, faz parte da natureza humana. Coisa diferente é permitirmos que ela se transforme numa espécie de lixeira ou sarjeta da opinião. Isso não é tolerável nem saudável para a liberdade e para democracia."
 
Que democracia? A que está suspensa e nem sabemos se volta a vigorar?
 
Redação PG - RP
 
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