segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Portugal: PALAVRAS DE AGOSTO, LEVA-AS O VENTO

 

Tomás Vasques – Jornal i, opinião
 
Todos os anos, Passos Coelho promete em Agosto aquilo que não faz durante todo o ano. Os discursos do Verão do Pontal são apenas para inglês ver
 
O Calçadão de Quarteira voltou, neste Agosto acalorado, a ser o palco onde se anuncia, em cada ano, com ar descontraído e bronzeado, a condizer com a época, o que era bom que acontecesse a Portugal e aos portugueses mas, infelizmente, como sabemos, pela experiência entretanto acumulada, não irá acontecer.
 
Em Agosto de 2011, na festa social-democrata, o presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, então recém-eleito primeiro-ministro, anunciou que o governo iria fazer "um corte na despesa do Estado sem paralelo nos últimos 50 anos em Portugal". Era uma boa notícia, a merecer aplausos, sobretudo por ser, na altura, entendido como resultado de uma racionalização da despesa e um corte a sério nos desperdícios, nas "gorduras", nas mordomias, nas fundações, institutos e outros sorvedores inúteis de dinheiros públicos, tal como tinha sido dito e repetido durante a campanha eleitoral. Hoje, já lá vão dois anos, ainda estamos à espera de tão "profunda" limpeza.
 
Dias depois, ainda embalado pela doçura do sol algarvio, Passos Coelho declarou na "universidade de verão" do seu partido: "esperamos que até 2015 não precisaremos de aumentar impostos", acrescentando: "2012 será o princípio do fim da emergência nacional". Hoje sabemos o que aconteceu no ano de 2012. Foi feito tudo ao contrário do anunciado: o governo optou por um brutal aumento de impostos, acompanhado de um aumento do custo de bens essenciais, como os transportes e a electricidade, provocou uma quebra significativa no consumo interno, o que afundou a economia, provocou um empobrecimento desnecessário e um desemprego nunca visto. E tudo isto em vão, já que não se cumpriram os objectivos, sobretudo do défice orçamental, que sustentavam a necessidade dos pesados sacrifícios a que a maioria dos portugueses foi sujeita.
 
Um ano depois, em Agosto de 2012, cumpriu-se o mesmo ritual da festa do Pontal, substituído o Calçadão por um retiro hoteleiro, não fosse o diabo tecê-las. O presidente do PSD nem olhou para trás, para o que dissera um ano antes, nem para os resultados desastrosos que a política seguida, completamente contrária à que anunciara, estava a provocar. E, sem mais, sem qualquer explicação, anunciou que "o próximo ano não vai ser um ano de recessão económica. Temos todas as condições para que 2013 seja um ano de recuperação económica de Portugal". Como sabemos hoje, o anúncio falhou completamente. Este é um ano de recessão económica profunda, que nem os resultados inegavelmente positivos do segundo trimestre escondem a quebra de 2% do PIB desse trimestre em relação a igual período do ano anterior. A insistência no aumento de impostos agravou ainda mais a situação económica, aumentou a recessão e afastou-nos ainda mais do cumprimento das metas do défice orçamental, inutilizando mais uma vez o empobrecimento crescente e os sacrifícios exigidos. Não se pode esquecer que os maus resultados obtidos foram tais que levaram à demissão do ministro das Finanças, Vítor Gaspar - o pai desta receita. O que foi anunciado voltou a não acontecer.
 
E chegámos a Agosto de 2013. De novo no Calçadão de Quarteira, na sexta-feira, Passos Coelho usou, no seu discurso, os tímidos sinais positivos da economia no segundo trimestre deste ano para, daí, concluir que o governo sempre esteve no "rumo certo". E, por ser assim, em 2014, o governo irá prosseguir no mesmo caminho, aquele que afundou a economia, aumentou o desemprego e provocou uma depressão nacional, sem que o défice fosse contido. O rumo não estava certo e o governo, por não perceber isso, vai desperdiçar, para mal dos portugueses, a oportunidade oferecida pelos resultados positivos do segundo trimestre para mudar de rumo. Para o ano, em Agosto, se verá.
 
Jurista, escreve à segunda-feira
 

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