Tomás Vasques – Jornal i, opinião
Todos os anos,
Passos Coelho promete em Agosto aquilo que não faz durante todo o ano. Os
discursos do Verão do Pontal são apenas para inglês ver
O Calçadão de
Quarteira voltou, neste Agosto acalorado, a ser o palco onde se anuncia, em
cada ano, com ar descontraído e bronzeado, a condizer com a época, o que era
bom que acontecesse a Portugal e aos portugueses mas, infelizmente, como
sabemos, pela experiência entretanto acumulada, não irá acontecer.
Em Agosto de 2011,
na festa social-democrata, o presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, então
recém-eleito primeiro-ministro, anunciou que o governo iria fazer "um
corte na despesa do Estado sem paralelo nos últimos 50 anos em Portugal".
Era uma boa notícia, a merecer aplausos, sobretudo por ser, na altura, entendido
como resultado de uma racionalização da despesa e um corte a sério nos
desperdícios, nas "gorduras", nas mordomias, nas fundações,
institutos e outros sorvedores inúteis de dinheiros públicos, tal como tinha
sido dito e repetido durante a campanha eleitoral. Hoje, já lá vão dois anos,
ainda estamos à espera de tão "profunda" limpeza.
Dias depois, ainda
embalado pela doçura do sol algarvio, Passos Coelho declarou na
"universidade de verão" do seu partido: "esperamos que até 2015
não precisaremos de aumentar impostos", acrescentando: "2012 será o
princípio do fim da emergência nacional". Hoje sabemos o que aconteceu no
ano de 2012. Foi feito tudo ao contrário do anunciado: o governo optou por um
brutal aumento de impostos, acompanhado de um aumento do custo de bens
essenciais, como os transportes e a electricidade, provocou uma quebra
significativa no consumo interno, o que afundou a economia, provocou um
empobrecimento desnecessário e um desemprego nunca visto. E tudo isto em vão,
já que não se cumpriram os objectivos, sobretudo do défice orçamental, que
sustentavam a necessidade dos pesados sacrifícios a que a maioria dos
portugueses foi sujeita.
Um ano depois, em
Agosto de 2012, cumpriu-se o mesmo ritual da festa do Pontal, substituído o
Calçadão por um retiro hoteleiro, não fosse o diabo tecê-las. O presidente do
PSD nem olhou para trás, para o que dissera um ano antes, nem para os
resultados desastrosos que a política seguida, completamente contrária à que
anunciara, estava a provocar. E, sem mais, sem qualquer explicação, anunciou
que "o próximo ano não vai ser um ano de recessão económica. Temos todas
as condições para que 2013 seja um ano de recuperação económica de
Portugal". Como sabemos hoje, o anúncio falhou completamente. Este é um ano
de recessão económica profunda, que nem os resultados inegavelmente positivos
do segundo trimestre escondem a quebra de 2% do PIB desse trimestre em relação
a igual período do ano anterior. A insistência no aumento de impostos agravou
ainda mais a situação económica, aumentou a recessão e afastou-nos ainda mais
do cumprimento das metas do défice orçamental, inutilizando mais uma vez o
empobrecimento crescente e os sacrifícios exigidos. Não se pode esquecer que os
maus resultados obtidos foram tais que levaram à demissão do ministro das
Finanças, Vítor Gaspar - o pai desta receita. O que foi anunciado voltou a não
acontecer.
E chegámos a Agosto
de 2013. De novo no Calçadão de Quarteira, na sexta-feira, Passos Coelho usou,
no seu discurso, os tímidos sinais positivos da economia no segundo trimestre
deste ano para, daí, concluir que o governo sempre esteve no "rumo
certo". E, por ser assim, em 2014, o governo irá prosseguir no mesmo
caminho, aquele que afundou a economia, aumentou o desemprego e provocou uma
depressão nacional, sem que o défice fosse contido. O rumo não estava certo e o
governo, por não perceber isso, vai desperdiçar, para mal dos portugueses, a
oportunidade oferecida pelos resultados positivos do segundo trimestre para
mudar de rumo. Para o ano, em Agosto, se verá.
Jurista, escreve à
segunda-feira
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