Orlando Castro –
Folha 8 – 7 setembro 2013 – edição 1158
Antigamente os
milionários faziam-se à custa de um árduo processo de labuta que, como se
constata pelo curriculum da mulher mais rica de África, Isabel dos Santos,
passava pelo trabalho infantil, no caso pela venda de ovos pelas ruas de Luanda.
Hoje os ovos chamam-se petróleo, diamantes e produtos e serviços afins.
A produção
petrolífera em Angola atingiu, até Junho deste ano, 160,1 milhões de barris,
segundo revela o Relatório de Actividades do Governo, referente ao segundo
trimestre de 2013, aprovado no Conselho de Ministros. A não ser assim,
certamente que será uma involuntária falha para… menos.
A meta para este
ano aponta para uma produção de 2 milhões de barris diários, o que
representaria uma subida de 250 mil face à produção actual, no entanto, este
objectivo só deverá ser atingido, segundo os dados oficiais, entre 2014 e 2015.
A produção este ano tem rondado os 1,75 milhões de barris por dia em média,
estando as reservas estimadas em 12,7 mil milhões de barris.
O documento, que serve
de instrumento de avaliação oficial do nível de execução das principais acções
projectadas pelo Governo, adianta também que a inflação acumulada no período
em análise foi de 4,27%.
No domínio do
crédito à economia, o documento informa que “houve uma expansão de 2,90%”. Em
relação à base monetária em moeda nacional, o kwanza, o relatório sublinha que
observou um aumento em cerca de 5,60%.
Por outro lado,
fazendo fé nos dados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP),
as exportações de petróleo tinham subido quase 10% em Março, para 1,74
milhões de barris por dia face a Fevereiro, sendo este o valor mais alto desde
2010.
Por sua vez a
agência financeira Bloomberg dizia que a subida nas vendas de petróleo deveria
manter-se nos meses de Abril e Maio, sendo previsível que abrande em Junho,
mês para o qual Angola tem já contratos firmados de 1,63 milhões de barris
diários.
Os contratos de
venda de petróleo confirmados dizem respeito a 51 cargueiros e totalizam 1,63
milhões de barris diários, distante dos 1,831 milhões vendidos em Maio e
correspondentes a 58 cargueiros.
Operadores do
mercado de hidrocarbonetos citados pela Bloomberg classificam a quebra de exportações
como “normal”, atendendo à época do ano.
O petróleo é o
nosso (forma eufemística de dizer deles) principal produto de exportação,
representa 45% do Produto Interno Bruto, 70% das receitas fiscais e 90% das
exportações.
De acordo com os
dados oficiais da OPEP, a Arábia Saudita, o Kuwait e a Venezuela reduziram as
exportações de petróleo em Março, ao passo que os países da África Ocidental
aumentaram as exportações. A lista é liderada pela Arábia Saudita, com 7,42
milhões de barris diários, uma redução de 30 mil face à média de Fevereiro, ao
passo que as exportações da Venezuela desceram para o nível mais baixo do
último ano, com a saída de 1,55 milhões por dia.
A procura de
petróleo dos países da OPEP, que representam cerca de 40% da produção mundial,
deve registar uma média de 29,8 milhões de barris por dia durante este ano.
A OPEP prevê uma
redução na produção de 400 mil barris diários face ao ano passado, tendo, no
entanto, revisto em alta a produção em 100 mil barris diários face à
estimativa anterior, que data de Abril.
Por outro lado, a
Rússia mostra-se interessada em investir directamente nas áreas diamantíferas e
na indústria pesada em Angola, como foi divulgado à margem do Fórum de
Negócios Rússia-Angola, que decorreu ontem em Luanda.
Segundo o
presidente do Conselho de Administração do banco russo VTB-África, Igor
Skvortsov, a segunda fase do projecto diamantífero de Catoca, na província da
Lunda Sul, avaliado em 20 mil milhões de kwanzas, será financiado por aquela
instituição bancária.
Além do projecto
diamantífero Catoca, o VTB-África está a estudar a possibilidade de também
financiar a segunda fase do projecto hidroelétrico de Chicapa, situado igualmente
na Lunda Sul.
A Sociedade Mineira
de Catoca é constituída pela empresa diamantífera angolana (Endiama) com
32,8%, a russa Alrosa com 32,8%, a israelita Daumonty com 18% e a brasileira
Odebrechet com 16,4%.
No sector da
indústria pesada, Igor Skvortsov disse que duas empresas russas, a
Uralvagonzavod e a Kamaz, anunciaram a intenção de investir em fábricas de
vagões e montagem de carros em Angola.
A Uralvagonzavod
pretende investir 10 mil milhões de Kuanzas, ajudando Angola a satisfazer as
suas necessidades e a tornar-se exportador em África.
Recorde-se que o
ministro da Economia, Abrahão Gourgel, apelou aos empresários russos para
investirem nos grandes projectos estruturantes da economia angolana, admitindo
igualmente as parcerias público-privadas e empresariais.
Também o ministro
da Geologia Minas, Francisco Queiroz, garante que o Governo pretende ver
aumentada a produção de diamantes até pelo menos 5% por ano, procurando assim
atngir os objectivos do Plano Nacional de Desenvolvimento “Angola 2025”.
O ministro diz que
as linhas estratégicas para o alcance deste objectivo passam por inserir a actividade
diamantífera de Angola nas diferentes fases da indústria mundial de diamantes,
procurando colocar Angola entre os três principais produtores mundiais.
No âmbito das
linhas estratégicas do “Angola 2025″ o Governo pretende organizar a
actividade artesanal de acordo com a legislação em vigor e a médio prazo
substituí-la pela produção semi-industrial e contribuir para o surgimento e
desenvolvimento de uma indústria nacional de joalharia, tanto em pedras
preciosas e semi-preciosas como em outros metais.
Por último, para
apimentar esta orgia colectiva dos donos do poder, registe-se e relembre-se
sempre (desde logo porque é um paradigma enciclopédico do regime) que Isabel
dos Santos, filha do chefe de Estado, do MPLA e do Governo, afirmou que
iniciou a sua carreira como empresária a vender ovos aos seis anos de idade.
Como disse David
Mendes, uma das personalidades que mais tem denunciado a corrupção em
Angola, era bom que os milhões de angolanos que passam fome soubessem do “paradeiro
da galinha dos ovos de ouro”. Ao que parece, como disse este jurista, “a
galinha deu ovos de ouro para uma pessoa e depois mataram a galinha para que
ninguém mais ficasse milionário.”
Também não é
despiciendo recordar que o professor universitário Celso Malavoloneke
considerou que as declarações da filha do presidente ferem a sensibilidade dos
angolanos, afirmando que a sua declaração parece indicar que “está a brincar
com as pessoas”.
Ou, parafraseando
Mia Couto, o nosso problema é que eles em vez de produzirem riqueza produzem
ricos. Em vez de trabalharem para os milhões que têm pouco ou nada, trabalham
para os poucos que têm milhões (eles próprios).
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