Lula reage ao caso
de espionagem, repudia ação militar contra a Síria e defende uma governança
global para minimizar a supremacia americana
Piero Locatelli – Carta
Capital
Em meio a um
iminente ataque militar à Síria e a revelação de que os Estados Unidos
espionaram autoridades brasileiras, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
defendeu nesta quarta-feira 11 o estabelecimento de uma governança global para
impedir a supremacia de um único país no planeta. Foi um recado ao presidente
dos Estados Unidos, Barack Obama, feito em sua fala durante o seminário “A
democracia, a paz e a justiça social no Brasil e na África”, da série Diálogos
Capitais.
“Precisamos levar a
sério a discussão da democracia nesse mundo globalizado. Precisamos discutir a
sério uma coisa chamada governança global. Pode, por acaso, o senhor Obama e
seu sistema de vigilância ficar bisbilhotando a conversa da nossa presidenta?”
E ironizou: “Antes,
era preciso ter dinheiro, pegar passaporte, fazer viagem de avião (para
conhecer a realidade de outros países). Hoje qualquer sujeito numa sala em Nova
York fica sabendo o que você está fazendo, em plena democracia. Cadê a decisão
judicial que permite ouvir? Qual foi o delito que a Dilma cometeu? Sabe-se Deus
se eles não estão gravando esse debate aqui.”
O ex-presidente
repudiou uma possível ação militar contra a Síria. “Fiquei horrorizado com
aquela imagem das crianças mortas (no subúrbio de Damasco). Foi uma coisa que
eu gostaria de passar pela terra sem ver. Mas quem foi que disse quem fez
aquilo?”
Lula citou o falso
argumento dos EUA usado para atacar o Iraque em 2003. Lembrou que, na ocasião,
não foram encontradas as armas químicas que motivaram a invasão. E questionou a
intervenção americana na soberania de outros países. “Onde é que decidiu-se que
deveriam invadir a Líbia?”, disse, em referência à ofensiva que tirou Muamar
Kadafi do poder.
E foi além: “Os
americanos sozinhos inventaram que o ouro não valia mais nada, que o padrão ia
ser dólar, e que só eles iam ter a maquininha de fazer dólar. Quando é que o
mundo vai discutir uma moeda mundial?”
Lula fez críticas
também ao papel da ONU na condução da crise do Oriente Médio. “Eu não sei se o
Ban Ki-moon já foi à Síria. Achei engraçado que vi outro dia no jornal: a ONU
vai investigar armas químicas. E tinha a foto dos rebeldes. Quem é que dá as
armas deles? Eu acho que, pelo bem da Síria, o (Bashar al) Assad estava bem na
hora de ir embora. Mas democraticamente, para não acontecer o que aconteceu no
Egito.” Foi aplaudido quando disse não haver hoje uma instância em que os
governantes tenham o mesmo peso na tomada de decisões e citou a questão
palestina como exemplo. "A mesma ONU que criou o Estado de Israel em 1948 não
teve coragem de criar um Estado palestino?"
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