“Eles estão
festejando o sucesso da espionagem”, diz Glenn Greenwald, comentando a
documentação
A revelação de
novos documentos cedidos pelo ex-analista da Agência de Segurança Nacional dos
EUA (NSA, sigla do inglês), Edward Snowden, prova que a presidente Dilma
Rousseff e seus assessores mais importantes foram espionados pelos Estados
Unidos. Segundo os documentos, os sistemas utilizados permitiram aos serviços
secretos dos EUA conhecer o conteúdo de conversas telefônicas e e-mails
trocados por Dilma com assessores diretos.
As informações,
veiculadas no domingo (1º) pelo programa "Fantástico", da Rede Globo,
revelam que, além da presidente Dilma, os americanos também espionaram o
presidente do México, Enrique Peña Nieto, quando ele ainda era candidato ao
cargo, e mais nove membros de sua equipe. A reportagem do
"Fantástico" teve acesso a uma apresentação confidencial feita dentro
da NSA, em junho de 2012.
Os documentos foram
repassados por Snowden ao jornalista Glenn Greenwald, que colaborou na
reportagem do "Fantástico". "Ficou muito claro, com esses
documentos, que a espionagem já foi feita, porque eles não estão discutindo
isso só como alguma coisa que eles estão planejando. Eles estão festejando o
sucesso da espionagem", observou Glenn. Fica expresso também que o governo
dos EUA mentiu quando disse que não tinha acesso aos conteúdos das comunicações
interceptadas, apenas "metadados", o total de conexões que passam
pelo Brasil.
Segundo reportagem
do G1, em Hong Kong, quando se encontrou com Glenn Greenwald, Edward Snowden
comentou os documentos que mostram a espionagem contra a presidente Dilma. Ele
disse o seguinte: "a tática do governo americano desde o 11 de setembro é
dizer que tudo é justificado pelo terrorismo, assustando o povo para que aceite
essas medidas como necessárias. Mas a maior parte da espionagem que eles fazem
não tem nada a ver com segurança nacional, é para obter vantagens injustas
sobre outras nações em suas indústrias e comércio em acordos econômicos".
De acordo com os
papéis recolhidos na NSA por seu ex-analista, o conteúdo da espionagem cobriu
não só as comunicações da presidente com seus principais assessores, mas também
a comunicação dos assessores entre eles e com terceiros. "Esforço
crescente" é o título da apresentação com a foto de Dilma que diz:
"Compreensão crescente dos métodos de comunicação e canais selecionados da
presidente brasileira Dilma Rousseff e seus assessores chaves".
A apresentação em
que Dilma e Enrique Peña Nieto são citados tem um total de 24 slides, onde eles
aparecem até em fotos.
A documentação
secreta é denominada "filtragem inteligente de dados: estudo de caso
México e Brasil". E está indicado que os serviços secretos que podem
acessar o documento são: Estados Unidos, Austrália, Canadá, Grã-Bretanha e Nova
Zelândia, países com os quais os EUA têm acordos na área de espionagem. Segundo
a apresentação, o programa possibilita encontrar, sempre que quiser, uma
"agulha em um palheiro de uma forma eficiente e que pode ser
repetida". Nessa apresentação, a NSA explica com detalhes como teve acesso
a um volume imenso de dados espionando os telefonemas, e-mails e mensagens de
celular (SMS) das duas autoridades.
Um gráfico mostra
toda a rede de comunicações usada pela presidente Dilma com seus assessores. Na
última página, o documento diz que o método de espionagem usado é "uma
filtragem simples e eficiente que permite obter dados que não são disponíveis
de outra forma. E que pode ser repetido".
No caso da
espionagem sobre o então candidato mexicano Peña Nieto, a NSA usou dois
programas para coletar informações, que posteriormente passaram por um filtro.
Sob um título "mensagens interessantes", está a prova de que o conteúdo
das mensagens foi acessado. Dois trechos são citados: num deles, o candidato
conta quem seriam alguns de seus ministros – que realmente tomariam posse seis
meses depois da eleição.
Entre os documentos
há mais uma apresentação, chamada "Desafios Geopolíticos para 2014-2019:
Identificação de Desafios para o Futuro". Um terceiro documento, diz que
uma divisão inteira da NSA é dedicada a investigar a política internacional e
atividades comerciais de outros países, com um setor encarregado de nações da Europa
Ocidental, Japão, México e Brasil.
"Se
confirmado, isto revelará uma violação inaceitável e inadmissível à nossa
soberania. A violação da soberania não pode acontecer sob nenhum pretexto,
mesmo para investigação de atos ilícitos. Agora, quando a violação se dá para
uma dimensão política, uma dimensão empresarial, do ponto de vista normativo a
situação fica, sem sombra de dúvidas, piorada", afirmou o chanceler Luiz
Alberto Figueiredo Machado.
Na manhã da
segunda-feira (2), o ministro convocou ao Itamaraty o embaixador
norte-americano no Brasil, Thomas Shannon, para tratar da denúncia exibida pela
Rede Globo. No diálogo, segundo Figueiredo Machado, Shannon se comprometeu a
levar à Casa Branca o desejo brasileiro de uma resposta formal sobre o esquema
que atingiu Dilma. O ministro disse ter cobrado do embaixador "prontas
explicações formais por escrito sobre os fatos revelados na reportagem".
Segundo o ministro
da Justiça, José Eduardo Cardozo, as providências que o governo vai tomar são:
cobrar explicações formais do governo dos EUA e recorrer aos órgãos
internacionais, como a ONU, para discutir a violação de direitos de autoridades
e cidadãos brasileiros. "Agora vêm informações que, se confirmadas, são
muito graves. Violam a soberania do país. São violações à privacidade de nossa
chefe de Estado e dos cidadãos brasileiros, que deve ser defendida de forma
intransigente pelo Estado brasileiro", disse.
Cardozo, por sinal,
acaba de retornar dos Estados Unidos, para onde viajou justamente para
conversar com autoridades do país sobre as denúncias anteriores. Na viagem,
esteve com o vice-presidente, Joe Biden, além da assessora de assuntos contra
Terrorismo, Lisa Mónaco, e com o chefe do Departamento de Justiça, Eric Holder.
Todos disseram que o esquema de espionagem se limitava a questões de segurança.
Ao retornar na
sexta-feira (30), o ministro declarou que as explicações tinham sido
"suficientes", mesmo após a recusa dos americanos de aceitar um
protocolo bilateral para garantir o respeito pelos Estados Unidos à soberania
da legislação brasileira, que garante interceptação de dados apenas em casos em
que haja autorização judicial. E mesmo após o secretário de Estado, John Kerry,
ter dito sem rodeios que a espionagem vai continuar.
As novas revelações
e o comportamento arrogante e desrespeitoso para com o país pelos EUA mostram
que não há nenhum clima para que a presidenta Dilma mantenha a visita a Barack
Obama, programada para o dia 23 de outubro.
Walter Félix - Hora do Povo
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