quarta-feira, 4 de setembro de 2013

DILMA FOI ESPIONADA PELOS EUA, REVELAM DOCUMENTOS

 


“Eles estão festejando o sucesso da espionagem”, diz Glenn Greenwald, comentando a documentação
 
A revelação de novos documentos cedidos pelo ex-analista da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, sigla do inglês), Edward Snowden, prova que a presidente Dilma Rousseff e seus assessores mais importantes foram espionados pelos Estados Unidos. Segundo os documentos, os sistemas utilizados permitiram aos serviços secretos dos EUA conhecer o conteúdo de conversas telefônicas e e-mails trocados por Dilma com assessores diretos.
 
As informações, veiculadas no domingo (1º) pelo programa "Fantástico", da Rede Globo, revelam que, além da presidente Dilma, os americanos também espionaram o presidente do México, Enrique Peña Nieto, quando ele ainda era candidato ao cargo, e mais nove membros de sua equipe. A reportagem do "Fantástico" teve acesso a uma apresentação confidencial feita dentro da NSA, em junho de 2012.
 
Os documentos foram repassados por Snowden ao jornalista Glenn Greenwald, que colaborou na reportagem do "Fantástico". "Ficou muito claro, com esses documentos, que a espionagem já foi feita, porque eles não estão discutindo isso só como alguma coisa que eles estão planejando. Eles estão festejando o sucesso da espionagem", observou Glenn. Fica expresso também que o governo dos EUA mentiu quando disse que não tinha acesso aos conteúdos das comunicações interceptadas, apenas "metadados", o total de conexões que passam pelo Brasil.
 
Segundo reportagem do G1, em Hong Kong, quando se encontrou com Glenn Greenwald, Edward Snowden comentou os documentos que mostram a espionagem contra a presidente Dilma. Ele disse o seguinte: "a tática do governo americano desde o 11 de setembro é dizer que tudo é justificado pelo terrorismo, assustando o povo para que aceite essas medidas como necessárias. Mas a maior parte da espionagem que eles fazem não tem nada a ver com segurança nacional, é para obter vantagens injustas sobre outras nações em suas indústrias e comércio em acordos econômicos".
 
De acordo com os papéis recolhidos na NSA por seu ex-analista, o conteúdo da espionagem cobriu não só as comunicações da presidente com seus principais assessores, mas também a comunicação dos assessores entre eles e com terceiros. "Esforço crescente" é o título da apresentação com a foto de Dilma que diz: "Compreensão crescente dos métodos de comunicação e canais selecionados da presidente brasileira Dilma Rousseff e seus assessores chaves".
 
A apresentação em que Dilma e Enrique Peña Nieto são citados tem um total de 24 slides, onde eles aparecem até em fotos.
 
A documentação secreta é denominada "filtragem inteligente de dados: estudo de caso México e Brasil". E está indicado que os serviços secretos que podem acessar o documento são: Estados Unidos, Austrália, Canadá, Grã-Bretanha e Nova Zelândia, países com os quais os EUA têm acordos na área de espionagem. Segundo a apresentação, o programa possibilita encontrar, sempre que quiser, uma "agulha em um palheiro de uma forma eficiente e que pode ser repetida". Nessa apresentação, a NSA explica com detalhes como teve acesso a um volume imenso de dados espionando os telefonemas, e-mails e mensagens de celular (SMS) das duas autoridades.
 
Um gráfico mostra toda a rede de comunicações usada pela presidente Dilma com seus assessores. Na última página, o documento diz que o método de espionagem usado é "uma filtragem simples e eficiente que permite obter dados que não são disponíveis de outra forma. E que pode ser repetido".
 
No caso da espionagem sobre o então candidato mexicano Peña Nieto, a NSA usou dois programas para coletar informações, que posteriormente passaram por um filtro. Sob um título "mensagens interessantes", está a prova de que o conteúdo das mensagens foi acessado. Dois trechos são citados: num deles, o candidato conta quem seriam alguns de seus ministros – que realmente tomariam posse seis meses depois da eleição.
 
Entre os documentos há mais uma apresentação, chamada "Desafios Geopolíticos para 2014-2019: Identificação de Desafios para o Futuro". Um terceiro documento, diz que uma divisão inteira da NSA é dedicada a investigar a política internacional e atividades comerciais de outros países, com um setor encarregado de nações da Europa Ocidental, Japão, México e Brasil.
 
"Se confirmado, isto revelará uma violação inaceitável e inadmissível à nossa soberania. A violação da soberania não pode acontecer sob nenhum pretexto, mesmo para investigação de atos ilícitos. Agora, quando a violação se dá para uma dimensão política, uma dimensão empresarial, do ponto de vista normativo a situação fica, sem sombra de dúvidas, piorada", afirmou o chanceler Luiz Alberto Figueiredo Machado.
 
Na manhã da segunda-feira (2), o ministro convocou ao Itamaraty o embaixador norte-americano no Brasil, Thomas Shannon, para tratar da denúncia exibida pela Rede Globo. No diálogo, segundo Figueiredo Machado, Shannon se comprometeu a levar à Casa Branca o desejo brasileiro de uma resposta formal sobre o esquema que atingiu Dilma. O ministro disse ter cobrado do embaixador "prontas explicações formais por escrito sobre os fatos revelados na reportagem".
 
Segundo o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, as providências que o governo vai tomar são: cobrar explicações formais do governo dos EUA e recorrer aos órgãos internacionais, como a ONU, para discutir a violação de direitos de autoridades e cidadãos brasileiros. "Agora vêm informações que, se confirmadas, são muito graves. Violam a soberania do país. São violações à privacidade de nossa chefe de Estado e dos cidadãos brasileiros, que deve ser defendida de forma intransigente pelo Estado brasileiro", disse.
 
Cardozo, por sinal, acaba de retornar dos Estados Unidos, para onde viajou justamente para conversar com autoridades do país sobre as denúncias anteriores. Na viagem, esteve com o vice-presidente, Joe Biden, além da assessora de assuntos contra Terrorismo, Lisa Mónaco, e com o chefe do Departamento de Justiça, Eric Holder. Todos disseram que o esquema de espionagem se limitava a questões de segurança.
 
Ao retornar na sexta-feira (30), o ministro declarou que as explicações tinham sido "suficientes", mesmo após a recusa dos americanos de aceitar um protocolo bilateral para garantir o respeito pelos Estados Unidos à soberania da legislação brasileira, que garante interceptação de dados apenas em casos em que haja autorização judicial. E mesmo após o secretário de Estado, John Kerry, ter dito sem rodeios que a espionagem vai continuar.
 
As novas revelações e o comportamento arrogante e desrespeitoso para com o país pelos EUA mostram que não há nenhum clima para que a presidenta Dilma mantenha a visita a Barack Obama, programada para o dia 23 de outubro.
 
Walter Félix - Hora do Povo
 

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