Noé Nhantumbo –
Moçambique Para Todos, opinião
Abominar a
crítica, demonizar os adversários, amputar as liberdades
Caros compatriotas,
não se admirem nem se espantem com as cargas bombásticas vindas da liderança
governamental. Quando o líder é um experimentado comissário político, isso
corre nas suas veias e não poderia ser de outro modo. É uma questão de génese.
Não é por acaso que
uma mistura de “poesia de combate”, poesia florista e romântica sobressai em
alguns dos discursos oficiais provenientes da Ponta Vermelha.
Quanto ao
desenvolvimento de fórmulas e catálogos dos adversários e críticos deve ser
entendido como resposta de quem já apresenta inúmeros sinais de esgotamento de
ideias.
As maratonas de
“presidências abertas”tinham que dar no que está a ser mostrado pelos canais
televisivos. Mesmo que se percorra o país de helicóptero e de avião isso cansa,
esgota. A repetição de reuniões em que a agenda pouco muda tem seus efeitos.
Uma equipa de
apontadores de preocupações das populações selectivamente arrebanhadas para
comícios pré-eleitorais. E convenhamos que, como diz a sabedoria popular, a
idade não perdoa.
Convenhamos também
que o mais danoso nos exercícios verbais são as encomendas mediatizadas estas
últimas e a enorme barragem de artilharia favorável ao “chefe todo-poderoso”
que inundam os meios de comunicação de massas do país. Os que se acotovelam
junto ao poder, especialistas em caçar migalhas que restam dos “banquetes
imperiais”, fabricam úlceras estomacais de tanto engolir substâncias corrosivas
como a mentira e os elogios imerecidos.
Os escribas do
regime, substituídos estrategicamente consoante cumpram as instruções supremas,
são de facto uma classe especial de cidadãos. Essa gente tem estômago como que
pré-condicionado para aguentar com tudo.
O fulgor que
apresentam no olhar, a convicção que procuram transmitir, o estatuto de
celebridade e de especialista em análise política que alguns procuram
transmitir estão na realidade cheios de remendos. Alguns parece que só não se
calam e param de escrever porque isso constitui o “cumprimento de penas de
prisão maior” que deveriam estar cumprindo, depois de terem sido acusados e se
provado que foram os “artistas” de rombos financeiros em instituições do
Estado.
Mas a liderança
terá influenciado os órgãos de justiça competente para que os processos não
seguissem em frente, pois os acusados continuam a ser importantes, na máquina
de mediatização da “excelência”que a liderança pretende transmitir aos
moçambicanos.
De outro modo não
se pode compreender como é que alguns especialistas com culpas no cartório
continuem a mostrar o ar de sua graça.
É complicado e
tristemente desolador verificar que a liderança de um país não se entende com a
crítica.
Quem atribuiu a
quem atestado de pureza ou de perfeição?
Por favor, tenha-se
um pouco de pena dos moçambicanos pois sofrimentos que cheguem já eles
suportam. Não obriguem a todo um povo a engolir que nasceu uma espécie nova de
humanos, puros, perfeitos e que não cometem em decorrência disso erro algum no
decurso do que fazem.
Compatriotas, o
momento é demasiado sério e crítico. Por causa da teimosia que chega a ser
criminosa de uns poucos que tem receio de confrontar-se politicamente em campo
nivelado corremos o risco de vermos a violência barata rebentando com o país,
com a estabilidade e com a paz. Falar de segurança pública, especialmente nas
cidades, já não se pode propriamente falar pois a criminalidade e justiça pelas
próprias mãos tomaram conta do panorama.
Quem apregoa o
silêncio e o abandono da crítica tem razões defensivas de fazê-lo. Em momento
pré-eleitoral, um governo que não consiga estabelecer controlo dos criminosos
tem pontos a perder. Não admira que o ministro do Interior venha a público
dizer que não existem “engomadores”.
Quem falha na sua
missão de alimentar o país e proteger a sua flora e fauna recorre sempre a
justificações circunstanciais para apresentar-se como esforçado e trabalhador.
Se falha é porque a conjuntura internacional não é favorável. Quando faz mau
negócio com as terras do país procurando trazer de volta latifundiários
carentes de terra como os japoneses e brasileiros e os camponeses e
organizações de apoio se lançam contra a iniciativa, não tardam os catálogos de
“apóstolos disto e daquilo”.
Compatriotas, se a
Cahora Bassa é nossa porque persiste a energia eléctrica de pouca qualidade?
Porque
trabalhadores da EDM acusam gestores de práticas de uma autêntica roubalheira?
Até PT’s desaparecem? O ministro da Energia que tanto gosta de falar de
“segredo do negócio” e nem se digna a responder aos deputados da Assembleia da
República sobre os contornos dos grandes negócios na sua área passeia impune e
sorridente a sua classe e hipocrisia. Tem aparentemente “costas muito quentes”.
Qual é o valor da dívida do Zimbabwe em energia eléctrica? Está a ser paga ou
foi politizada e guardada como factor a ser jogado quando houver necessidade de
recorrer ao auxílio do governo daquele país se a situação de segurança e
estabilidade o exigirem?
Se os moçambicanos
não podem criticar seus governantes quando estes fogem das suas
responsabilidades um dos fundamentos do regime democrático, então o que quer
quem governa Moçambique?
Senhor PR, não
tenha medo dos críticos nem da comunicação social. Todos e consigo fazemos
parte deste Moçambique…
Canal de Moçambique
– 18.09.2013
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