Ana Sá Lopes – Jornal i, opinião
Paulo Portas é o
novo Vítor Gaspar, para o bem e para o mal. Mais para o mal
Paulo
Portas está em Bruxelas a tomar posse da sua pasta de ministro de Estado em
condição de protectorado. Até aqui as coisas não correram bem. Bruxelas não
se mostra receptiva a aumentar a meta do défice e por enquanto não há nada a
dizer. Infelizmente, se é melhor para todos nós que esteja no cargo um ministro
que, ao contrário de Vítor Gaspar, não sofre de síndrome de Estocolmo
relativamente à troika, a pasta que Passos Coelho ofereceu ao CDS é o maior dos
presentes envenenados que o líder da coligação poderia oferecer ao parceiro
instável.
Desta viagem a
Bruxelas em diante, as responsabilidades passaram a ser partilhadas entre PSD e
CDS. Uma derrota do governo em Bruxelas será sempre uma derrota de Portas - e
não só de Passos Coelho e do inefável Vítor Gaspar, personagens relativamente
às quais Paulo Portas (e meio CDS) se entendia distanciar sempre que lhe
convinha e com um sucesso muito razoável. Esse estado de manter um pé dentro e
outra fora do governo - um verdadeiro estado de graça nos tempos que corriam -
permitiu ao CDS aguentar-se nas sondagens. Enquanto isto, a popularidade de
Portas permanecia em níveis estranhamente altos para quem integrava um governo
de coligação. Hoje essa ficção acabou.
Os "sinais
ténues" que o governo identifica na recuperação da economia portuguesa
serão abalroados pela obrigação acordada com a troika de cortar 4,5 mil milhões
de euros. E foi com este pano de fundo que o CDS "tomou conta" do
governo - com Portas a liderar as negociações com a troika e Pires de Lima
responsável pela recuperação da economia. Se a última remodelação foi uma
vitória do CDS sobre o PSD, dificilmente se percebe o que seria uma derrota.
Por incrível que pareça, Passos está hoje mais protegido que quando tinha que
fazer de ama-seca de Vítor Gaspar e de Álvaro Santos Pereira, ambos vindos do
outro mundo pela mão do primeiro-ministro. No dia das eleições - antecipadas ou
não e se calhar já não -, os portugueses vão pedir as mesmas contas a Portas
que a Passos Coelho. Mas enquanto o PSD é um partido firmemente alicerçado no
regime (como o PS), o CDS tem sido ao longo dos anos uma incógnita. Não vai
chegar a Paulo Portas repetir 25 mil vezes que "Portugal está numa
situação de protectorado" para se poder distanciar da troika. Ele é o novo
Gaspar, para o bem e para o mal. Mais para o mal: infelizmente, um novo
ministro não muda uma política global, a da troika. O CDS corre o risco do
desaparecimento.
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