quinta-feira, 19 de setembro de 2013

TODOS PARA ANGOLA, JÁ E EM FORÇA!

 

Orlando Castro*, jornalista
 
A actual situação da fome no mundo é "alarmante" e "dramática", diz a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e o Programa Alimentar Mundial (PAM).
 
"Uma em cada sete pessoas no mundo vai para a cama com fome, na maioria mulheres e crianças", afirmou Lauren Landis, directora da representação do PAM em Genebra, na Suíça, durante a inauguração de uma exposição dedicada ao flagelo da fome, intitulada "Lutar juntos contra a fome".
 
Pois é. Tal como agora sentem na barriga os portugueses, há razões (muitas desconhecidas da própria razão) que explicam o drama. Mas a mais relevante é bem simples: poucos têm milhões e milhões têm pouco ou nada.
 
(Angola tem tudo a postos para o arranque, amanhã, da 41ª edição do Campeonato Mundial de Hóquei em Patins, que vai decorrer nas cidades de Luanda e Namibe).
 
Existem cerca de 68% de angolanos afectados pela pobreza, mas isso não impede que Angola tenha doado uma ajuda de cinco milhões de dólares para apoiar o combate à situação de crise humanitária na Somália.
 
Alguém, pergunto eu, ouviu Cavaco Silva recordar que 68% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é a terceira mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças?
 
Alguém ouviu Passos Coelho recordar que apenas 38% da população angolana tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico?
 
Alguém ouviu José Sócrates recordar que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade?
 
Alguém ouviu Pinto Balsemão recordar que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos?
 
Alguém ouviu Belmiro de Azevedo recordar que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação é agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino?
 
Alguém ouviu António Pires de Lima (ex-Presidente da Comissão Executiva da UNICER, dirigente do CDS/PP e Ministro da Economia) dizer que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos?
 
Alguém ouviu Jorge Coelho (Mota-Engil) dizer que, em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos?
 
Alguém ouviu Armando Vara (presidente da Camargo Corrêa para África) dizer que 80% do Produto Interno Bruto angolano é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada é subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população; que 70% das exportações angolanas de petróleo tem origem na sua colónia de Cabinda?
 
Alguém alguma vez ouviu algum dirigente dos três actuais maiores partidos portugueses dizer que, em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder?
 
Não. Mas ouviram, com certeza, dizer que Angola tem tudo a postos para o arranque, amanhã, da 41ª edição do Campeonato Mundial de Hóquei em Patins, que vai decorrer nas cidades de Luanda e Namibe.
 
* Orlando Castro, autor do blogue Alto Hama, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
 

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