Orlando Castro*, jornalista
A actual situação
da fome no mundo é "alarmante" e "dramática", diz a
Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e o
Programa Alimentar Mundial (PAM).
"Uma em cada
sete pessoas no mundo vai para a cama com fome, na maioria mulheres e
crianças", afirmou Lauren Landis, directora da representação do PAM em
Genebra, na Suíça, durante a inauguração de uma exposição dedicada ao flagelo
da fome, intitulada "Lutar juntos contra a fome".
Pois é. Tal como agora
sentem na barriga os portugueses, há razões (muitas desconhecidas da própria
razão) que explicam o drama. Mas a mais relevante é bem simples: poucos têm
milhões e milhões têm pouco ou nada.
(Angola tem tudo a
postos para o arranque, amanhã, da 41ª edição do Campeonato Mundial de Hóquei
em Patins, que vai decorrer nas cidades de Luanda e Namibe).
Existem cerca de
68% de angolanos afectados pela pobreza, mas isso não impede que Angola tenha
doado uma ajuda de cinco milhões de dólares para apoiar o combate à situação de
crise humanitária na Somália.
Alguém, pergunto
eu, ouviu Cavaco Silva recordar que 68% da população angolana é afectada pela
pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é a terceira mais alta do mundo,
com 250 mortes por cada 1.000 crianças?
Alguém ouviu Passos
Coelho recordar que apenas 38% da população angolana tem acesso a água potável
e somente 44% dispõe de saneamento básico?
Alguém ouviu José
Sócrates recordar que apenas um quarto da população angolana tem acesso a
serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade?
Alguém ouviu Pinto
Balsemão recordar que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos
postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das
instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos?
Alguém ouviu
Belmiro de Azevedo recordar que a taxa de analfabetos é bastante elevada,
especialmente entre as mulheres, uma situação é agravada pelo grande número de
crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino?
Alguém ouviu
António Pires de Lima (ex-Presidente da Comissão Executiva da UNICER, dirigente
do CDS/PP e Ministro da Economia) dizer que 45% das crianças angolanas sofrerem
de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir
os cinco anos?
Alguém ouviu Jorge
Coelho (Mota-Engil) dizer que, em Angola, a dependência sócio-económica a
favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo
MPLA para amordaçar os angolanos?
Alguém ouviu
Armando Vara (presidente da Camargo Corrêa para África) dizer que 80% do
Produto Interno Bruto angolano é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da
riqueza nacional privada é subtraída do erário público e está concentrada em
menos de 0,5% de uma população; que 70% das exportações angolanas de petróleo
tem origem na sua colónia de Cabinda?
Alguém alguma vez
ouviu algum dirigente dos três actuais maiores partidos portugueses dizer que,
em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos
bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos
petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao
regime no poder?
Não. Mas ouviram,
com certeza, dizer que Angola tem tudo a postos para o arranque, amanhã, da 41ª
edição do Campeonato Mundial de Hóquei em Patins, que vai decorrer nas cidades
de Luanda e Namibe.
* Orlando Castro,
autor do blogue Alto Hama, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder,
porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos
euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Sem comentários:
Enviar um comentário