Tomás Vasques –
jornal i, opinião
A culpa desta
situação é do PCP e do Bloco de Esquerda que não apoiaram os programas de
austeridade de Sócrates e votaram com o PSD o derrube do governo
O Orçamento do
Estado para 2014, com todas as medidas que, para além do aumento de impostos,
reduzem, sem decoro, nem vergonha, salários de funcionários públicos a partir
dos 600 euros por mês, expropriam reformas e pensões de sobrevivência e cortam
a eito nas prestações sociais, tratando os mais pobres como "gente
rica", está aí, para ser aprovado na Assembleia da República pelos
deputados eleitos pelo PSD e pelo CDS-PP. Está agora claro que era esta a
"reforma do Estado" proposta naquela apalhaçada apresentação, no
Palácio Foz, montada pelo governo para envolver a "sociedade civil e os partidos
da oposição na discussão", na qual os jornalistas não podiam colher
declarações dos participantes.
O controlo do
défice e da dívida pública não são objectivos deste governo, como está
demonstrado por todos os indicadores que resultam da execução orçamental dos
dois anos anteriores, 2012 e 2013. É apenas um argumento trapaceiro para
alcançar a fundação de outro "Estado Novo", nas condições deste nosso
tempo. A pobreza da maioria dos portugueses, o desemprego, a mão-de-obra
barata, a imigração, o salve-se quem puder porque o Estado só existe para
tratar dos interesses dos grandes e poderosos, está quase alcançado. Mais dois
ou três anos, em que cada Orçamento do Estado será o prosseguimento do
anterior, e este "trabalho" fica completo por várias décadas, independentemente
de quem vier a governar depois. Falta apenas, para que este "Estado
Novo" se complete, suspender a Constituição da República ou partir a
coluna aos juízes do Tribunal Constitucional, e reduzir a democracia a uma
paródia. Para isso, trabalham diariamente em conjugação de esforços, o governo,
a troika, sob a direcção da Alemanha, a senhora Lagarde, do FMI, Durão Barroso
e a Comissão Europeia, banqueiros, donos de hipermercados e outra gente que se
esforça para que este outro "Estado Novo" triunfe.
Um dia, com a
distância temporal necessária e os resultados da catástrofe económica e social
em que o país e os portugueses se afundam, se fará a história destes anos de
chumbo, desde que o grupo que tomou conta do PSD, com o apoio expresso do PCP e
do Bloco, numa votação na Assembleia da República, em meados de 2011,
rejeitaram um Programa de Estabilidade e Crescimento PEC (e o caminho que por
aí se faria). Em substituição, desejaram (e alguns exigiram) um pedido de
resgate e a entrada da troika de credores em Portugal. Com as consequências que
estão já à vista e as que estão por chegar nos próximos anos.
Para o grupo do
PSD, incompetente e sem a menor preparação para governar o país, apoiado e
estimulado pelo pacóvio neoliberalismo de uns quantos "videntes"
modernaços, uns, e revanchistas, outros, agrupados à volta de uma dúzia de
blogues (muitos dos quais foram convidados para "aconselhar" os mais
diversos ministros), era uma questão de sobrevivência política: ou naquela
altura derrubavam o governo ou perdiam a oportunidade de "ir ao
pote". As consequências do derrube do governo, então, sobre a vida dos
portugueses, não era um assunto que lhes dissesse respeito porque o
"negócio" deles não se confina a coisas tão mesquinhas. A democracia
para esta gente é a forma mais fácil e menos exigente de serem
"alguém", de acordo com os seus padrões. E, para tal, as únicas técnicas
que precisam dominar são a simulação, o embuste, o engano e a mentira.
Para o PCP e para o
Bloco, o ódio que vem de trás e a ambição política de fazerem desaparecer o PS
do seu caminho, motivou a sua cumplicidade nesta "aventura" do PSD na
fundação de um "Estado Novo". Mais do que o "quanto pior,
melhor", foi terem congeminado a hipótese do PS voltar a ganhar as eleições
e ficar a braços com o resgate e a troika, situação que lhes pareceu
"muito boa" para riscarem o PS do mapa.
Os portugueses são
sempre os que menos contam e, enquanto isso acontecer, a "democracia"
é gerida pelos "mercados", mesmo que o PCP ganhe mais uma dúzia de
câmaras ou que o PS ganhe as próximas eleições.
Jurista, escreve à
segunda-feira
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