Ferreira Fernandes –
Diário de Notícias, opinião
Álvaro Costa tem
uma fábrica de peúgas em Barcelos e não diz que exporta "strumpor"
para a Suécia. Diz "peúgas". Homem simples, ele não fala sueco e inglês
pronuncia mal. Se calhar, Álvaro Costa também não lê jornais económicos,
daqueles que explicam os swaps, assim: "No fundo é como no casino.
Apostamos no vermelho mas às vezes sai o preto." Ora quem vai ao casino
sabe onde entra, há luzinhas à porta a apagar e a acender. Mas, em 2008, quando
o gerente de um banco falou ao fabricante de peúgas, não trazia na cabeça
luzinhas a apagar e a acender. O bancário propôs um "contrato swap",
o que ficou entendido como trocar para taxa fixa os juros do empréstimo que o
empresário fizera. Troca, pensou este, dentro de um risco razoável entre gente
séria. Mas veio a crise e Álvaro Costa descobriu que, afinal, até era mais do
que roleta, era jogar a vermelhinha com aldrabões: "Eu ainda hoje não
percebo muito bem o que é um contrato suópi", diz. Ignorante? Sim, como
todos, até a nossa ministra das Finanças, que também fez swaps (ela pronuncia
bem) sem calcular o risco todo. Mas se Álvaro Costa era ignorante em swaps, não
era tanso. Pagou os juros que o banco lhe pedia, mas meteu-o em tribunal.
Ganhou. O Supremo anulou o contrato e obrigou o banco a devolver o abuso.
Infelizmente, os sapateiros que subiram acima do chinelo e chegaram a ministros
não têm, com o nosso dinheiro, o mesmo interesse que o fabricante de peúgas tem
com o dele.
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