RTP - Lusa
A relatora especial
da ONU Catarina Albuquerque desafiou hoje Portugal e os restantes
Estados-membros da CPLP a promoverem a inclusão do direito à água nas metas a
definir após 2015, quando expiram os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio.
Em declarações à
Lusa a propósito da Cimeira da Água 2013, que hoje termina em Budapeste e na
qual interveio, a portuguesa Catarina Albuquerque explicou que este encontro,
que reuniu 1.500 participantes em Budapeste, se enquadra no trabalho de
preparação de uma agenda de desenvolvimento pós-2015.
Na agenda dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, definida em 2000 e com metas até 2015,
não estava prevista qualquer meta para o setor da água e saneamento, algo que
os organizadores da Cimeira da Água querem mudar.
A ideia deste
encontro, por onde passaram o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon,
e os chefes das agências da ONU, é "dar visibilidade a esta área e
torná-la um objetivo de desenvolvimento pós-2015 inevitável", afirmou
Catarina Albuquerque.
O objetivo,
defendeu a responsável, deve ser a universalização do acesso à água e ao
saneamento até 2030.
Apesar de
reconhecer que muitos progressos têm sido feitos no setor da água e do
saneamento, contribuindo para que em 2010 se tivesse alcançado uma meta para
2015, Catarina Albuquerque concluiu que não chega.
"Se tivermos
um objetivo claro, isso vai obrigar os países a darem mais prioridade à água e
ao saneamento", o que terá impacto noutros setores, disse, exemplificando
que metade das camas dos hospitais nos países em desenvolvimento estão ocupadas
com pessoas com diarreias e outras doenças relacionadas com a falta de
qualidade da água, o que provoca gastos na saúde e perdas na produtividade.
Recordando que a
proposta "água e saneamento para todos até 2030" já foi apresentada à
comunidade internacional por si própria, mas também pela UNICEF, pela
Organização Mundial de Saúde e pelo painel de alto nível nomeado pelo
secretário-geral da ONU, a relatora explicou que agora falta "colocar
pressão sobre os Estados-membros das Nações Unidas para que apoiem" aquele
objetivo.
Nesse sentido,
defendeu que Portugal devia "mobilizar os países de língua oficial
portuguesa, muitos dos quais têm uma série de desafios (...), para se juntarem
numa posição unificada de apoio a um objetivo de desenvolvimento na área da
água e do saneamento".
"Portugal pode
e deve desempenhar um papel de liderança com os outros países-membros da
CPLP", reiterou, recordando que nos últimos 20 anos Portugal tem feito
"progressos enormes" na questão da água e saneamento, nomeadamente na
qualidade da água.
"Estes
progressos dão alguma esperança a outros países de que é possível
avançar", afirmou.
Reconhecendo que
Angola e Brasil já estão a fazer muito no setor da água, Catarina Albuquerque
sublinhou: "Faria sentido, em bloco, lutarmos por um objetivo de
desenvolvimento sustentável na área da água e saneamento".
Na Cimeira da Água,
na terça-feira, Ban Ki-moon considerou "uma vergonha" que mais de um
terço da população mundial tenha de consumir água não potável e viver ser
sistemas de tratamento de águas residuais, pedindo "medidas urgentes"
para abordar estes problemas.
O secretário-geral
da ONU recordou que a diarreia é a segunda causa de morte entre os menores de
cinco anos, e defendeu que qualquer gasto nesse âmbito é um investimento no
futuro.
A cimeira termina
hoje com a divulgação da chamada "Declaração de Budapeste", que
deixará recomendações sobre o acesso à água.
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