sábado, 12 de outubro de 2013

Relatora da ONU desafia Portugal e CPLP a lutarem juntos pelo acesso à água

 

RTP - Lusa
 
A relatora especial da ONU Catarina Albuquerque desafiou hoje Portugal e os restantes Estados-membros da CPLP a promoverem a inclusão do direito à água nas metas a definir após 2015, quando expiram os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio.
 
Em declarações à Lusa a propósito da Cimeira da Água 2013, que hoje termina em Budapeste e na qual interveio, a portuguesa Catarina Albuquerque explicou que este encontro, que reuniu 1.500 participantes em Budapeste, se enquadra no trabalho de preparação de uma agenda de desenvolvimento pós-2015.
 
Na agenda dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, definida em 2000 e com metas até 2015, não estava prevista qualquer meta para o setor da água e saneamento, algo que os organizadores da Cimeira da Água querem mudar.
 
A ideia deste encontro, por onde passaram o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e os chefes das agências da ONU, é "dar visibilidade a esta área e torná-la um objetivo de desenvolvimento pós-2015 inevitável", afirmou Catarina Albuquerque.
 
O objetivo, defendeu a responsável, deve ser a universalização do acesso à água e ao saneamento até 2030.
 
Apesar de reconhecer que muitos progressos têm sido feitos no setor da água e do saneamento, contribuindo para que em 2010 se tivesse alcançado uma meta para 2015, Catarina Albuquerque concluiu que não chega.
 
"Se tivermos um objetivo claro, isso vai obrigar os países a darem mais prioridade à água e ao saneamento", o que terá impacto noutros setores, disse, exemplificando que metade das camas dos hospitais nos países em desenvolvimento estão ocupadas com pessoas com diarreias e outras doenças relacionadas com a falta de qualidade da água, o que provoca gastos na saúde e perdas na produtividade.
 
Recordando que a proposta "água e saneamento para todos até 2030" já foi apresentada à comunidade internacional por si própria, mas também pela UNICEF, pela Organização Mundial de Saúde e pelo painel de alto nível nomeado pelo secretário-geral da ONU, a relatora explicou que agora falta "colocar pressão sobre os Estados-membros das Nações Unidas para que apoiem" aquele objetivo.
 
Nesse sentido, defendeu que Portugal devia "mobilizar os países de língua oficial portuguesa, muitos dos quais têm uma série de desafios (...), para se juntarem numa posição unificada de apoio a um objetivo de desenvolvimento na área da água e do saneamento".
 
"Portugal pode e deve desempenhar um papel de liderança com os outros países-membros da CPLP", reiterou, recordando que nos últimos 20 anos Portugal tem feito "progressos enormes" na questão da água e saneamento, nomeadamente na qualidade da água.
 
"Estes progressos dão alguma esperança a outros países de que é possível avançar", afirmou.
 
Reconhecendo que Angola e Brasil já estão a fazer muito no setor da água, Catarina Albuquerque sublinhou: "Faria sentido, em bloco, lutarmos por um objetivo de desenvolvimento sustentável na área da água e saneamento".
 
Na Cimeira da Água, na terça-feira, Ban Ki-moon considerou "uma vergonha" que mais de um terço da população mundial tenha de consumir água não potável e viver ser sistemas de tratamento de águas residuais, pedindo "medidas urgentes" para abordar estes problemas.
 
O secretário-geral da ONU recordou que a diarreia é a segunda causa de morte entre os menores de cinco anos, e defendeu que qualquer gasto nesse âmbito é um investimento no futuro.
 
A cimeira termina hoje com a divulgação da chamada "Declaração de Budapeste", que deixará recomendações sobre o acesso à água.
 

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