segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Angola: DINO MATROSS NA OPOSIÇÃO

 


Orlando Castro – Folha 8 – 23 novembro 2013
 
O secretário-geral do MPLA, general Julião M e n d e s Paulo (“Dino Matross”), deu um relevante contributo à Oposição ao instar, e bem, os jovens a preservarem a memória colectiva. Durante o lançamento, em Lisboa, de dois livros de sua autoria, editadas pela Caminho/Leya, o dirigente do regime relembrou “o quanto custou a liberdade”, reconhecendo a necessidade de estabelecer “pontes entre as velhas e as novas gerações”.
 
Perante as cerca de três centenas de pessoas que enchiam uma sala de um hotel de luxo (onde mais poderia ser?) da capital portuguesa, o autor de “A PIDE na rota de José Mendes de Carvalho, Hoji Ya Hienda” e “Dino Matross, na mira da PIDE” (este último já editado em Angola) disse que “a juventude angolana tem e deve desempenhar um papel importante na preservação da coesão do país”.
 
“Dino Matross” desafiou ainda, e mais uma vez com raro sentido de oportunidade, os interessados na história de Angola a compararem testemunhos, destacando a importância da “diversificação das fontes sobre a história contemporânea de Angola”. Homenageando “a coragem e a bravura dos combatentes do MPLA que deram as suas vidas em prol de Angola”, entre os quais a “incontornável” figura de Hoji Ya Hienda, morto em combate a 14 de Abril de 1968, o secretário-geral do MPLA agradeceu, em primeiro lugar e como determinam os cânones do regime, ao (querido) líder do partido e Presidente da República de Angola, “camarada José Eduardo dos Santos, pelo empenho na preservação da memória colectiva material e imaterial”, arrancando do público uma de muitas salvas de palmas.
 
Nascido em 1942, na província do Bengo, “Dino Matross” pertence ao Comité Central do MPLA e ao seu Bureau Político desde o primeiro congresso, em 1977, tendo sido eleito para secretário-geral em 2003.
 
Sublinhando que os dois livros - de “um ensaísta e não um versado escritor” - são “apenas um testemunho de momentos históricos” -, “Dino Matross” emocionou-se ao lembrar o pai, preso pela PIDE em 1961 e cujo paradeiro se desconhece desde então. “Pertenço à geração que cresceu embalada pelo sonho”, disse, destacando as “transformações políticas, económicas e sociais em curso” em Angola, que se quer “independente e humanista”, no respeito pelas “diferenças dos outros”.
 
A apresentação das obras foi feita pelo secretário de Estado da Cultura e também escritor, Cornélio Caley, que elogiou o “testemunho de peso” de “Dino Matross”, “oportuno num momento em que Angola pulsa e catapulta para o progresso”.
 
As obras de “um dos filhos queridos do povo angolano” convidam a “uma reflexão profunda” sobre a “importância da memória colectiva para a união do país” e não deixam dúvidas quanto à liderança desempenhada pelo MPLA no movimento de libertação do país, afirmou Cornélio Caley frisou que o MPLA, no poder desde 1975, “tem cumprido escrupulosamente” as “lições” dos seus “heróis”, empenhando-se “na afirmação e no progresso” de Angola. “Estamos a consolidar a identidade nacional. Ontem, como hoje, contámos com a ajuda de todos os povos que reconhecem a soberania angolana e trocam experiências em pé de igualdade”, assinalou, sublinhando que “a luta continua” - palavra de ordem do MPLA, repetida pela assistência.
 
Inserido nas actividades que Embaixada e consulados realizam para assinalar os 38 anos da independência do país, o lançamento dos dois livros foi precedido do hino nacional, de um minuto de silêncio pelos heróis da libertação nacional e de um momento musical sobre poemas de Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola.
 
Ao contrário do que afirmou “Dino Matross”, não é certo que ter memória seja, nos tempos que correm, uma qualidade. Bom. Mas alguém disse que quem estiver sempre a falar do passado deve perder um olho. No entanto, acrescentou que quem o esquecer deve perder os dois... Tal como o Papa Bento XVI recordou na sua viagem a Luanda, perante quase um milhão de fiéis, as “consequências terríveis” da guerra civil, lamentando que esta seja “uma realidade familiar”, apetece-nos recordar alguns factos, procurando – como pede “Dino Matross” - “preservar a memória colectiva”.
 
Recordar, em homenagem às vítimas, o massacre de Luanda, perpetrado pelas forças militares e de defesa civil do MPLA, visando o aniquilamento da UNITA e cidadãos Ovimbundus e Bakongos, e que se saldou no assassinato de 50 mil angolanos, entre os quais o vice-presidente da UNITA, Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral, Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.
 
Recordar, em homenagem às vítimas, o massacre do Pica-Pau em que no dia 4 de Junho de 1975 perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos, foram assassinados e os seus corpos mutilados pelo MPLA, no Comité de Paz da UNITA em Luanda.
 
Recordar, em homenagem às vítimas e em prol da memória colectiva, o massacre da Ponte do rio Kwanza, em que no dia 12 de Julho de 1975, 700 militantes da UNITA foram barbaramente assassinados pelo MPLA, perto do
Dondo, perante a passividade das forças militares portuguesas que garantiam a sua protecção.
 
Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de pelo menos de 40.000 angolanos terem sido torturados e assassinados pelo MPLA em todo o país, depois dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, acusados de serem apoiantes de Nito Alves ou opositores ao regime.
 
Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de, entre 1978 e 1986, centenas de angolanos terem sido fuzilados publicamente pelo MPLA, nas praças e estádios das nossas cidades, uma prática iniciada no dia 3 de Dezembro de 1978 na Praça da Revolução no Lobito, com o fuzilamento de cinco patriotas e que teve o seu auge a 25 de Agosto de 1980, com o fuzilamento de 15 angolanos no Campo da Revolução em Luanda.
 
Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de no dia 29 de Setembro de 1991, o MPLA ter assassinado em Malange, o secretário Provincial da UNITA naquela Província, Lourenço Pedro Makanga, a que se seguiram muitos outros na mesma cidade.
 
Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de nos dias 22 e 23 de Janeiro de 1993, o MPLA ter desencadeado em Luanda a perseguição aos cidadãos angolanos Bakongos, tendo assassinato perto de 300 civis.
 
Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de em Junho de 1994, a aviação do MPLA ter bombardeado e destruído a Escola de Waku Kungo, tendo morto mais de 150 crianças e professores.
 
Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, a aviação do MPLA ter bombardeado indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis.
 
Recordar, em homenagem às vítimas, o facto de entre Abril de 1997 e Outubro de 1998, na extensão da Administração ao abrigo do protocolo de Lusaka, o MPLA ter assassinado mais de 1.200 responsáveis e dirigentes dos órgãos de base da UNITA em todo o país.
 
Recordar para “preservar a memória colectiva”. Recordar apenas, mesmo que nos sujeitemos (porque estas verdades não devem constar da tal memória colectiva) a ficar sem um olho. Mas, mesmo assim, longe dos que pelo silêncio poderão perder os dois.
 

1 comentário:

Anónimo disse...

RECORDA ORLANDO!

... RECORDAR Savimbi, que quando era necessário combater o colonialismo aliou-se a ele por via da "Operação Madeira"!...

... RECORDAR Savimbi, que quando deveria combater o "apartheid", aliou-se a ele a fim de tomar o poder... e tornar Angola num irreconhecível Transkei!...

... RECORDAR Savimbi, que quando deveria dar um contributo vigoroso a favor da sua pátria, se esqueceu dela e, ao serviço de outros encetou a saga dos diamantes de sangue!...

POR QUE NÃO CONTINUAS A RECORDAR ORLANDO?

VAI ATÉ AO FIM E RECORDA SOBRETUDO O QUE ESCONDES NAS TUAS VEIAS!

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