Orlando
Castro – Folha 8 – 23 novembro 2013
O
secretário-geral do MPLA, general Julião M e n d e s Paulo (“Dino Matross”), deu
um relevante contributo à Oposição ao instar, e bem, os jovens a preservarem a
memória colectiva. Durante o lançamento, em Lisboa, de dois livros de sua
autoria, editadas pela Caminho/Leya, o dirigente do regime relembrou “o quanto
custou a liberdade”, reconhecendo a necessidade de estabelecer “pontes entre as
velhas e as novas gerações”.
Perante
as cerca de três centenas de pessoas que enchiam uma sala de um hotel de luxo
(onde mais poderia ser?) da capital portuguesa, o autor de “A PIDE na rota de
José Mendes de Carvalho, Hoji Ya Hienda” e “Dino Matross, na mira da PIDE”
(este último já editado em Angola) disse que “a juventude angolana tem e deve
desempenhar um papel importante na preservação da coesão do país”.
“Dino
Matross” desafiou ainda, e mais uma vez com raro sentido de oportunidade, os
interessados na história de Angola a compararem testemunhos, destacando a
importância da “diversificação das fontes sobre a história contemporânea de
Angola”. Homenageando “a coragem e a bravura dos combatentes do MPLA que deram as
suas vidas em prol de Angola”, entre os quais a “incontornável” figura de Hoji
Ya Hienda, morto em combate a 14 de Abril de 1968, o secretário-geral do MPLA
agradeceu, em primeiro lugar e como determinam os cânones do regime, ao
(querido) líder do partido e Presidente da República de Angola, “camarada José
Eduardo dos Santos, pelo empenho na preservação da memória colectiva material e
imaterial”, arrancando do público uma de muitas salvas de palmas.
Nascido
em 1942, na província do Bengo, “Dino Matross” pertence ao Comité Central do MPLA
e ao seu Bureau Político desde o primeiro congresso, em 1977, tendo sido eleito
para secretário-geral em 2003.
Sublinhando
que os dois livros - de “um ensaísta e não um versado escritor” - são “apenas
um testemunho de momentos históricos” -, “Dino Matross” emocionou-se ao lembrar
o pai, preso pela PIDE em 1961 e cujo paradeiro se desconhece desde então. “Pertenço
à geração que cresceu embalada pelo sonho”, disse, destacando as “transformações
políticas, económicas e sociais em curso” em Angola, que se quer “independente
e humanista”, no respeito pelas “diferenças dos outros”.
A
apresentação das obras foi feita pelo secretário de Estado da Cultura e também escritor,
Cornélio Caley, que elogiou o “testemunho de peso” de “Dino Matross”, “oportuno
num momento em que Angola pulsa e catapulta para o progresso”.
As
obras de “um dos filhos queridos do povo angolano” convidam a “uma reflexão profunda”
sobre a “importância da memória colectiva para a união do país” e não deixam
dúvidas quanto à liderança desempenhada pelo MPLA no movimento de libertação do
país, afirmou Cornélio Caley frisou que o MPLA, no poder desde 1975, “tem
cumprido escrupulosamente” as “lições” dos seus “heróis”, empenhando-se “na
afirmação e no progresso” de Angola. “Estamos a consolidar a identidade
nacional. Ontem, como hoje, contámos com a ajuda de todos os povos que
reconhecem a soberania angolana e trocam experiências em pé de igualdade”,
assinalou, sublinhando que “a luta continua” - palavra de ordem do MPLA,
repetida pela assistência.
Inserido
nas actividades que Embaixada e consulados realizam para assinalar os 38 anos
da independência do país, o lançamento dos dois livros foi precedido do hino
nacional, de um minuto de silêncio pelos heróis da libertação nacional e de um
momento musical sobre poemas de Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola.
Ao
contrário do que afirmou “Dino Matross”, não é certo que ter memória seja, nos
tempos que correm, uma qualidade. Bom. Mas alguém disse que quem estiver sempre
a falar do passado deve perder um olho. No entanto, acrescentou que quem o
esquecer deve perder os dois... Tal como o Papa Bento XVI recordou na sua
viagem a Luanda, perante quase um milhão de fiéis, as “consequências terríveis”
da guerra civil, lamentando que esta seja “uma realidade familiar”, apetece-nos
recordar alguns factos, procurando – como pede “Dino Matross” - “preservar a
memória colectiva”.
Recordar,
em homenagem às vítimas, o massacre de Luanda, perpetrado pelas forças
militares e de defesa civil do MPLA, visando o aniquilamento da UNITA e cidadãos
Ovimbundus e Bakongos, e que se saldou no assassinato de 50 mil angolanos, entre
os quais o vice-presidente da UNITA, Jeremias Kalandula Chitunda, o
secretário-geral, Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias
Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu
Sapitango Chimbili.
Recordar,
em homenagem às vítimas, o massacre do Pica-Pau em que no dia 4 de Junho de
1975 perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos, foram assassinados e os
seus corpos mutilados pelo MPLA, no Comité de Paz da UNITA em Luanda.
Recordar,
em homenagem às vítimas e em prol da memória colectiva, o massacre da Ponte do
rio Kwanza, em que no dia 12 de Julho de 1975, 700 militantes da UNITA foram barbaramente
assassinados pelo MPLA, perto do
Dondo,
perante a passividade das forças militares portuguesas que garantiam a sua
protecção.
Recordar,
em homenagem às vítimas, o facto de pelo menos de 40.000 angolanos terem sido
torturados e assassinados pelo MPLA em todo o país, depois dos acontecimentos
de 27 de Maio de 1977, acusados de serem apoiantes de Nito Alves ou opositores
ao regime.
Recordar,
em homenagem às vítimas, o facto de, entre 1978 e 1986, centenas de angolanos
terem sido fuzilados publicamente pelo MPLA, nas praças e estádios das nossas
cidades, uma prática iniciada no dia 3 de Dezembro de 1978 na Praça da
Revolução no Lobito, com o fuzilamento de cinco patriotas e que teve o seu auge
a 25 de Agosto de 1980, com o fuzilamento de 15 angolanos no Campo da Revolução
em Luanda.
Recordar,
em homenagem às vítimas, o facto de no dia 29 de Setembro de 1991, o MPLA ter
assassinado em Malange, o secretário Provincial da UNITA naquela Província,
Lourenço Pedro Makanga, a que se seguiram muitos outros na mesma cidade.
Recordar,
em homenagem às vítimas, o facto de nos dias 22 e 23 de Janeiro de 1993, o MPLA
ter desencadeado em Luanda a perseguição aos cidadãos angolanos Bakongos, tendo
assassinato perto de 300 civis.
Recordar,
em homenagem às vítimas, o facto de em Junho de 1994, a aviação do MPLA ter
bombardeado e destruído a Escola de Waku Kungo, tendo morto mais de 150
crianças e professores.
Recordar,
em homenagem às vítimas, o facto de entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, a
aviação do MPLA ter bombardeado indiscriminadamente a cidade do Huambo, a
Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais
de 3.000 civis.
Recordar,
em homenagem às vítimas, o facto de entre Abril de 1997 e Outubro de 1998, na
extensão da Administração ao abrigo do protocolo de Lusaka, o MPLA ter
assassinado mais de 1.200 responsáveis e dirigentes dos órgãos de base da UNITA
em todo o país.
Recordar
para “preservar a memória colectiva”. Recordar apenas, mesmo que nos sujeitemos
(porque estas verdades não devem constar da tal memória colectiva) a ficar sem
um olho. Mas, mesmo assim, longe dos que pelo silêncio poderão perder os dois.
1 comentário:
RECORDA ORLANDO!
... RECORDAR Savimbi, que quando era necessário combater o colonialismo aliou-se a ele por via da "Operação Madeira"!...
... RECORDAR Savimbi, que quando deveria combater o "apartheid", aliou-se a ele a fim de tomar o poder... e tornar Angola num irreconhecível Transkei!...
... RECORDAR Savimbi, que quando deveria dar um contributo vigoroso a favor da sua pátria, se esqueceu dela e, ao serviço de outros encetou a saga dos diamantes de sangue!...
POR QUE NÃO CONTINUAS A RECORDAR ORLANDO?
VAI ATÉ AO FIM E RECORDA SOBRETUDO O QUE ESCONDES NAS TUAS VEIAS!
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