Orlando Castro – Folha 8, 2 novembro 2013
A Comunicação Social
tem reflectido na dinâmica de desenvolvimento económico, social, cultural e
político que Angola tem vindo a trilhar sob a clarividente liderança do Presidente
José Eduardo dos Santos. Nem mais. Não foi o eco de uma conversa ao espelho do
Presidente da República mas, apenas, a expressão esclavagista de um dos seus
acólitos, José Luís de Matos.
A afirmação,
constatação ou seja lá o que for, foi efectuada durante a sessão de abertura da
8ª Reunião Ordinária do Conselho Consultivo do Ministério da Comunicação
Social, no centro de Convenções de Talatona, em Luanda.
Como todos os seus
colegas, o ministro que tutela, por delegação de funções do Presidente, a Comunicação
Social, diz que se afigura um momento oportuno para avaliar o presente e
perspectivar acções futuras, no sentido de melhorar a actuação do sector, no
quadro da vida nacional, tendo em conta a importância dos meios de comunicação
social na consolidação da democracia e no processo de desenvolvimento económico,
social, político e cultural.
Se José Luís de
Matos quisesse perspectivar as acções passadas o caso seria mais grave. Mas
como, afinal, o que ele quer é ser mais um dos subscritores da candidatura de
José Eduardo dos Santos ao Prémio Nobel (da Paz ou de qualquer outra categoria),
até se compreende que não distinga entre comunicação social e propaganda,
entre jornalismo e comércio jornalístico, entre liberdade de imprensa e
acefalia invertebrada.
“A Comunicação
Social tem sido um dos grandes promotores da construção da nova Angola, ao
garantir a todos os angolanos o exercício da cidadania participativa e ao
estimular o investimento e o crescimento acelerado de novos sectores da
economia, posicionando-se, também, como uma área de mercado das mais atractivas”,
argumentou o Ministro reverencialmente.
Nem José Ribeiro e
muito menos Artur Queiroz conseguiriam dizer melhor. Ministro é ministro e,
desde logo, sabe melhor do que ninguém o que o “querido líder” gosta que digam.
É uma questão de sobrevivência. Se assim não for, a carta de alforria pode
nunca mais chegar.
Segundo o
governante, muito recentemente, ao pronunciar-se sobre o estado da nação, na
abertura do ano legislativo, o Presidente da República, José Eduardo dos
Santos, destacou que o Executivo está fortemente empenhado na concretização
dos grandes objectivos, que visam consolidar a paz, reforçar a democracia,
preservar a unidade nacional, promover o desenvolvimento e melhorar a
qualidade de vida dos angolanos.
Participam na
reunião, directores nacionais do sector, presidentes dos Conselhos de
Administração dos órgãos públicos e respectivos administradores, directores
provinciais de órgãos públicos e privados, entre outros funcionários do
referido Ministério.
Certamente que o
Ministro José Luís de Matos também gostaria de citar, porque também é uma
obra-prima do Mestre José Eduardo dos Santos, o “Jornal de Angola” como um
exemplo paradigmático da filosofia que o regime pretende para a comunicação
social do país.
Aliás, José Luís de
Matos bem poderia liderar a campanha Nobel do Presidente e a candidatura do
“Jornal de Angola” no seu todo (são tantos os textos dignos que seria incorrecto
escolher um) ao Prémio Pulitzer. Mas, no caso de ter de escolher um desses
textos (tarefa difícil pela altíssima qualidade de todos os que diariamente se
podem ler), sugerimos aquele em que JA diz que os órgãos de informação privados
nada mais são do que um “Cavalo de Tróia que vomitava do seu seio a subversão
dos mais elementares valores que regem o jornalismo.”
Dando como
adquirido (no que certamente somos corroborados por José Luís de Matos) que
tal como José Eduardo dos Santos está para os angolanos (e não só) como Deus
está para os cristãos, e que o JA está para o jornalismo como o MPLA está para
Eduardo dos Santos, todos os jornalistas do mundo são obrigados a aceitar a
superioridade moral, ética, deontológica e o que mais por aí houver deste
legítimo filho do Pravda.
Diz nesse texto
que, entre outros, figura nos manuais das mais honoráveis universidades do
mundo que leccionam jornalismo, o JA que no seu reino, e certamente com o beneplácito
do Comité Central do MPLA, que em Angola “a liberdade de imprensa convive com
abusos repugnantes e os novos jornais até começaram a servir para crimes de
chantagem e extorsão”, para além de que ”quase sempre são palcos de intrigas,
veículos de ataques pessoais, mananciais de insultos, calúnias e difamações.”
Crê-se que um
desses crimes tem a ver com o 27 de Maio de 1977, uma purga que os jornais
privados dizem ter sacrificado milhares de angolanos mas que, na verdade e
certamente segundo a análise do JA, nem sequer existiu. Isso mesmo é do
conhecimento do Ministro José Luís de Matos.
Diz o JA que “o
Presidente da República é o alvo privilegiado dos jornais privados. Há entre
eles uma competição estranha que consiste em ver qual deles fere mais a honra
e o bom-nome de José Eduardo dos Santos. O mais alto magistrado da Nação é
tratado como um pária ante a indiferença dos órgãos de Justiça, das organizações
dos jornalistas, das associações patronais e, pasme-se, do Conselho Nacional da
Comunicação Social.”
Mais um ponto a
favor do “Jornal de Angola”. Estão todos conluiados para denegrir a imagem do
impoluto Presidente da República, não compreendendo que estar há 32 anos no
poder sem nunca ter sido eleito é a mais sublime prova da vitalidade democrática
do regime.
Da brilhante (como
sempre) análise do JA resulta que “de 2008 para cá as coisas melhoraram”. Isto
é, “os jornais privados que mais se destacavam na calúnia e no insulto ao
Chefe de Estado abandonaram esse caminho. Mas em compensação outros redobraram
os crimes de abuso de liberdade de imprensa. Sabe-se agora porquê.”
O jornal não
explica, certamente no cumprimento das mais puras e transparentes regras
éticas e deontológicas agora enaltecidas por José Luís de Matos, a razão pela
qual alguns jornais abandonaram esse caminho. Também não precisa de explicar.
Todos sabem que foram comprados e ou silenciados pelo regime. A bem, acrescente-se,
da democracia, paz e desenvolvimento social dos angolanos.
Escreve o JA que “o
“Folha 8” é o órgão oficial da CASA-CE e dá uma mão à UNITA, nas suas investidas
contra o Estado Democrático e de Direito. O “Novo Jornal” é o suporte de
“manifestantes” que têm uma única mensagem à sociedade: insultos grosseiros ao
Presidente da República e o objectivo de derrubá-lo.”
Em cheio. Não há
dúvida. Nenhum jornal no mundo, e até ficaria bem ao Ministro José Luís de
Matos recordá-lo, bate o “Jornal de Angola”. É que não só analisa como dá
notícias em primeiríssima mão. Então não é que Angola é um Estado Democrático e
de Direito? Ora tomem!
Ao fim e ao cabo,
todos os jornais “se encarregam de fazer alastrar a mancha da calúnia e do
insulto. Com mais ou menos competência. Mas seguramente com resultados
catastróficos para o jornalismo angolano.” Valha-nos ao menos a existência
desse paradigma de nobreza e altruísmo, verdadeira catedral do jornalismo,
que dá pelo nome de “Jornal de Angola” e a quem, estamos em crer, o Ministro
José Luís de Matos atribuirá por estes dias mais uma medalha de honra do
MPLA.
O JA insurge-se contra
algo que os políticos aprenderam com o MPLA mas que – obviamente – só deve ser
aplicado em relação aos outros. Então não é que “com um sorriso próprio dos porcos”,
os dirigentes do PRS “chamam aos membros do Executivo mafiosos e ladrões” e
“acusam instituições do Estado de envenenarem e assassinarem cidadãos”?
“A UNITA segue o
mesmo caminho mas com um pouco mais de compostura. Tem como mentor um
qualquer Rafael Marques. A CASA-CE faz dos tempos de antena sucursais do “F8”
mas um pouco mais primários. São violentíssimos ataques à inteligência dos
eleitores e golpes fatais contra a ética política. Se não havia ética no
“jornalismo” que faziam, muito menos existe agora, quando vivemos num período
em que os salteadores da política agem como se valesse tudo menos tirar olhos”,
escreve o JA.
Ficamos também a
saber, graças – corrobore-se – à honorabilidade do JA, que os leitores têm
inteligência e que Rafael Marques e William Tonet estão a desgraçar o país e
cometer crimes contra tudo, nomeadamente contra a segurança do Estado. E estão
mesmo, reconheçamos. É que eles pensam que Angola é mesmo um Estado de Direito
Democrático. E como não é, todos os que teimam em pensar de forma diferente
são culpados de tudo e até prova em contrário.
Sem comentários:
Enviar um comentário