sexta-feira, 15 de novembro de 2013

OPORTUNISMO POLÍTICO DE UM AVENTUREIRO NA ÁFRICA DO SUL

 

Roger Godwin – Jornal de Angola, opinião
 
Quando os sul-africanos se preparam para ir a votos, em Abril do próximo ano, Julius Malema, antigo líder da juventude do ANC, tenta retomar algum protagonismo enveredando pelo oportunismo político fácil próprio do seu aventureirismo.
 
Depois de há dois anos ter sido expulso da direcção do ANC, pelo seu comportamento marcadamente divisionista e manchado por sucessivas tentativas de criar uma forte divisão no interior do partido, Malema surge agora como líder de um recém-formado movimento dos Lutadores pela Liberdade Económica.

Quem o conhece, e os sul-africanos sabem muito bem do que e capaz, não se espantou por entre as suas linhas programáticas esta nova formação dar prioridade a um projecto de nacionalização das minas e a um processo de expropriação das terras dos fazendeiros brancos sem qualquer tipo de compensação indemnizatória.

Baseando a sua actuação num populismo fácil e ultrapassado pelos novos meios de comunicação, Malema tenta transmitir uma mensagem de quem se dispõe a não olhar a meios para atingir os seus fins. Nestas duas propostas se pode ver toda a sua irresponsabilidade política, uma vez que ignora, propositadamente, os factos que as impraticáveis e, se aplicadas, verdadeiramente desastrosas para a África do Sul.

No caso do processo de nacionalização das minas ir por diante, se por qualquer fatalidade ele um dia chegasse ao poder governativo, a África do Sul seria obrigada a pagar compensações milionárias pela violação dos acordos previamente estabelecidos e altamente rentáveis para o país.

No que respeita a expropriação das terras aos fazendeiros brancos, Malema tenta seguir, desajeitadamente aquilo que Robert Mugabe fez no Zimbabwe. Oportunisticamente, Malema esquece-se que no caso dos fazendeiros brancos no Zimbabwe Robert Mugabe tinha a lei e a razão do seu lado, pois limitou-se a cumprir uma das cláusulas dos Acordos de Doncaster House que previam isso mesmo se não fossem pagas as rendas então acordadas com o governo zimbabweano.

No caso da África do Sul essa situação não se coloca até porque os cidadãos brancos que possuem terras são cidadãos nacionais de pleno direito, enquanto os do Zimbabwe tinham a nacionalidade britânica. Todos os fazendeiros que por altura da independência do Zimbabwe optaram por esta nacionalidade continuam a ter as suas terras sem qualquer tipo de problema, sejam eles brancos ou negros.

Deste modo, Julius Malema começa mal a sua aventura política pois apresenta duas propostas que, a irem para a frente seriam desastrosas, sobretudo do ponto de vista económico, mas também potenciadores de causar enormes problemas sociais e políticos por causarem uma divisão profunda no país, quando o que se pretende é, precisamente, a aplicação de medidas que reforcem a coesão nacional.

Com uma oposição deste tipo bem pode estar descansado ANC e o Presidente Jacob Zuma que tem vindo a desencadear esforços para manter o nível social de vida no país, abrindo-se a uma estratégia mais virada para a cooperação com os seus parceiros africanos e menos dependente das trocas comerciais com o ocidente, embora estas ainda tenham um peso grande na balança de transacções comerciais.

O crescente bom relacionamento entre a África do Sul e Angola, as duas grandes potências no seio da SADC e que já são considerados parceiros incontornáveis ao nível de todo o continente, e um indício de que, entre si, os africanos têm todas as condições para progredir e resolver os seus próprios problemas políticos, sociais e económicos.

Por essa razão, as populações africanas atingiram já um tal estado de desenvolvimento e de conhecimento político que não se deixam enganar pelos “Julius Malemas” que certas potências ocidentais sustentam com a esperança de que eles possam emperrar o caminho para um destino de progresso e de desenvolvimento.

Para isso, o método que tentam agora usar na África do Sul não surpreende, pois já foi ensaiado noutros países nalguns casos, infelizmente, com sucesso, estando esses povos agora a pagar o preço por terem acreditado em pagadores de promessas vãs.

Julius Malema, no período em que esteve no ANC, caracterizou-se por tentativas de mobilização interna que pudessem causar embaraços políticos ao governo. Não é, aliás, por um mero acaso, que ele foi escolhido para tentar desestabilizar o país. Em primeiro lugar, trata-se de um jovem e tem sido a juventude o alvo daqueles que apostam na desestabilização dos países que se têm mostrado mais renitentes em aceitar os ditames de quem está por detrás de todas estas aventuras.

Depois, o seu discurso baseia-se numa leitura demasiado simplista que não tem em linha de conta as dificuldades sociais e económicas que hoje afectam praticamente os países de todo o mundo.

A sua juventude, aliás, tornava-o depois presa fácil dos predadores que não hesitam em abocanhar governos para que possam levar por diante as suas estratégias.

O que sucedeu no Egipto, por exemplo, é bem ilustrativo. A juventude que saiu às ruas para forçar a queda de Mubarak foi depois “engolida” para dar lugar às feras que melhor servem os interesses estrangeiros.

Em Abril de 2014 os sul-africanos saberão colocar no seu devido lugar aqueles que, apesar de jovens, não conseguem acompanhar os actuais tempos em que os países se revêem no reforço da unidade nacional em detrimento de se colocarem ao serviço de aventureiros políticos.

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