Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
O Comité Central do
Partido Comunista da China anunciou ontem que as regras do mercado vão passar
ter um papel fundamental na economia do país. Os dirigentes chineses aprovaram
ainda direitos dos camponeses sobre a propriedade e que mais casais possam ter
o número de filhos que desejarem.
Ou seja,
formalmente o comunismo - que na China era já uma miragem - acabou. A ideia do
comunismo era domesticar o mercado através da política. Ou seja a formação de
preços, de salários e de lucros, etc. não dependeria de regras de oferta e
procura estabelecidas por uma plêiade de fatores e agentes económicos, mas de
necessidades e planeamentos centrais.
A notícia é,
seguramente, boa para os chineses, podendo animar de forma decisiva a sua
Economia. Mas se for levada avante a reforma prometida, que envolve mais
investimento privado, podemos contar com uma muito mais forte competitividade,
inovação e agressividade por parte do país mais populoso do mundo, que é já a segunda
economia do planeta e que tem uma boa parte das divisas mundiais.
E isso significa
que, cada vez mais, o modelo europeu - com todas as virtudes que tem, com o seu
modelo de entreajuda ainda que imperfeito - está cada vez mais posto em causa.
Não se trata, como alguns querem fazer crer, de uma conspiração geral.
Trata-se, outrossim, de muitos povos (chineses, indianos, brasileiros,
mexicanos, turcos, indonésios, etc.) que viveram séculos ao serviço do nosso
bem-estar, reclamarem esse bem-estar também para eles.
Quando começou, o
Ocidente achou que a globalização era um modo de ter, além da matéria-prima
barata, manufatura quase de graça. Agora, já tarde, começa a compreender que os
sistemas de equilíbrio tendem a funcionar. Sim, nós estamos a ficar mais pobres,
mas felizmente muitos povos estão a sair da miséria.
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