PCP regressa às
origens e recentra discurso na defesa do patriotismo
Ana Paula Correia –
Jornal de Notícias
A crise e a troika
trouxeram de volta ao PCP o reforço do discurso do patriotismo, num regresso às
origens e ao "cunhalismo". Uma orientação que coincide com o
centenário de Álvaro Cunhal, que hoje se comemora.
Historiadores e
antigos dirigentes ouvidos pelo JN convergem na ideia de que a situação de
dependência em que se encontra o país é o terreno fértil para que a atual
direção do PCP aproveite o centenário do líder histórico para "voltar às
origens" e consolidar a identidade partidária.
É nesse contexto
que o discurso político comunista se recentrou na defesa do patriotismo,
ilustrada no slogan "Por uma política patriótica e de Esquerda".
O historiador José
Neves, antigo militante do PCP, sublinha que foi com essa linha de identidade
nacional que "Cunhal garantiu a resistência do partido à queda da União
Soviética e é com a mesma orientação que Jerónimo tenta polarizar à Esquerda,
num quadro de intervenção externa no país".
Se é verdade que
"o patriotismo teve sempre uma presença no partido com e sem Cunhal",
como lembra Octávio Teixeira, antigo líder parlamentar no consulado de Carlos
Carvalhas, a conjuntura era outra. É que "não era preciso cerrar fileiras
contra a agressão externa".
Também Carlos
Brito, o histórico dirigente que se afastou do partido em 2002, considera que
esta aproximação pública ao "cunhalismo" por parte da direção de
Jerónimo é circunstancial. Brito não subscreve a tese de que há um regresso ao
legado ideológico de Cunhal. Pelo contrário, lamenta que "não se retire o
melhor do pensamento" do líder histórico, o que "reflete um vazio
ideológico". E acusa os dirigentes de usarem "de forma incompleta e
fora do contexto" alguns pensamentos de Cunhal. Ou seja, "num culto
da personalidade usado para capitalizar o descontentamento nacional pela crise
e a ingerência da troika".
Na mesma linha de
pensamento, o historiador João Madeira, que já militou no PCP, duvida que a
aproximação a Cunhal seja ideológica. "É instrumental, numa tentativa de
consolidação da identidade partidária para polarizar o descontentamento em
relação à crise".
A ideia de que há
culto da personalidade na comemoração do centenário de Cunhal é rejeitada por
Manuel Loff, historiador próximo do PCP, que, assume, no entanto, existir
"estratégia e empenho particular na gestão da comemoração" como forma
de "reforçar a identidade do partido".
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