sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Portugal: Governo e Cavaco alvos de toda a noite "Em Defesa da Constituição"

 


O Governo da maioria PSD/CDS-PP e o Presidente da República foram alvos constantes dos oradores e vários milhares de pessoas presentes na conferência "Em defesa da Constituição, da Democracia e do Estado Social", em Lisboa, quinta-feira à noite.
 
A cada referência ao executivo liderado por Passos Coelho e Paulo Portas ou a Cavaco Silva sucederam-se apupos, pateadas e gritos insistentes de "demissão", numa repleta Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, local escolhido pelo organizador, o antigo Presidente da República Mário Soares.
 
"Até que aparece um sujeito - já não me bastavam 30 anos de salazarismo - que resolve dizer isto: 'eu nunca tenho dúvidas e raramente me engano'. Nunca ouvi nenhum grande professor dizer isto. Pensei, alto, isto é uma segunda versão, atenuada, daquilo que já conheci", afirmou o fadista Carlos do Carmo, comparando o antigo primeiro-ministro, Cavaco Silva, com o antigo ditador português.
 
"Levar com este homem 20 anos. É inseguro, inculto, medroso. Alguma coisa tem de acontecer", desejou, criticando "esta esquerda, que é muito inteligente, mas que nunca se junta e entrega o poder à direita".
 
O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, Alfredo Bruto da Costa, acusou o Governo "abuso de poder", "deslealdade" e de ter "por ingénuo todo o resto do Mundo".
 
"Não basta a um Governo ter sido eleito para ser democrático. É condição necessária, mas não é suficiente. É preciso que seja democrático no modo de exercer o poder. O Governo movimenta-se como se tivesse caído de paraquedas numa selva, sem passado, memória, lei, nada. Sem nenhuma obrigação que não satisfazer os caprichos da 'troika'. Infelizmente para os governantes e para a 'troika', escasseiam moedas e sobram pessoas", sublinhou o jurista.
 
A eurodeputada do Bloco de Esquerda Marisa Matias contrariou a ideia de que "Portugal é um protetorado", reforçando que se trata de "um Estado de direito e um país democrático".
 
"Referem-se ao país que governam como se de uma província ocupada se tratasse. Demitam-se, que já vão tarde. Utilizam a 'troika' como álibi e o Tribunal Constitucional como bode expiatório do seu falhanço colossal", afirmou, sobre a atuação do executivo PSD/CDS-PP, que disse ter uma "sanha contra a Constituição", argumentando que "o serviço público é a base e o cimento da democracia".
 
A sessão, que durou duas horas e 15 minutos, foi encerrada com um emocionado canto coletivo do hino de Portugal e Mário Soares terminou gritando "Viva a República".
 
Jornal de Notícias
 
Helena Roseta apela ao derrube do Governo e Presidente da República
 
Na conferência organizada por Mário Soares, a presidente da Assembleia Municipal de Lisboa apelou a que se faça «frente» ao Governo e Presidente da República «até que sejam corridos».
 
Helena Roseta apelou à demissão do Governo e do Presidente da República na "Conferência em Defesa da Constituição, da Democracia e do Estado Social", organizada esta quinta-feira por Mário Soares.
 
«Deixo um apelo a todos aqui os cidadãos aqui reunidos, uns com responsabilidades partidárias, outros sem partido, uns ligados a movimentos, outros por si sós: vamos pegar na nossa criatividade, energia e imaginação e vamos fazer-lhes frente até que sejam corridos», disse a presidente da Assembleia Municipal de Lisboa.
 
Outros dos discursos da noite foi do social-democrata Pacheco Pereira, que foi muito aplaudido pela audiência que se juntou esta quinta-feira na Aula Magna.
 
«Como membro de uma minoria em extinção no meu partido, o PSD, não se espere de mim nem a mais pequena justificação» pelo atual estado de coisas, acrescentou.
 
TSF
 
Pacheco Pereira faz crítica cerrada a Passos Coelho e avisa que está ao ataque
 
O ex-dirigente do PSD Pacheco Pereira rejeitou que os participantes na conferência de Mário Soares estejam à defesa na política, contrapondo que estão antes ao ataque contra o discurso de "falsidade" e o cinismo dos poderosos.
 
Pacheco Pereira foi o penúltimo orador da sessão da Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa promovida pelo antigo Presidente da República Mário Soares, tendo feito o discurso mais longo, mas que, no final, mereceu aplausos de pé de uma plateia de cidadãos esmagadoramente de esquerda e muitos deles ligados a partidos como o PS, o PCP ou o Bloco de Esquerda.
 
"Custa-me a ideia de que o papel dos que aqui estão seja apenas o de defender, como se estivessem condenados a travar uma luta de trincheiras. Não, os que aqui estão não estão a defender coisa nenhuma, mas a atacar a iniquidade, a injustiça, o desprezo, o cinismo dos poderosos", declarou, recebendo uma prolongada ovação.
 
Na lógica "cínica dos poderosos", segundo Pacheco Pereira, "a vida decente de milhões de pessoas é entendida como um custo que se deve poupar".
 
"A transformação da palavra austeridade numa espécie de injunção moral serve para um primeiro-ministro [Pedro Passos Coelho], apanhado de lado pelo sucesso dos celtas [irlandeses] que muito gabava, sorrir cinicamente que a lição desses celtas e da Irlanda é que ainda precisamos de mais austeridade, mais desemprego e ainda precisamos de mais pobreza. O pior de tudo é que ao dizer isso [Passos Coelho] sorri muito contente consigo mesmo", disse Pacheco Pereira num ataque direto ao presidente do PSD.
 
O ex-dirigente e líder parlamentar do PSD insurgiu-se ainda contra "um discurso de contínua mentira e falsidade".
 
"Um discurso que nos diz como se fosse uma evidência que as famílias ajustaram, as famílias ajustaram e só o Estado não ajustou, como se as três entidades fossem a mesma coisa e o verbo ajustar significasse o retorno a uma espécie estado natural das coisas que só o vício de se querer viver melhor levou os portugueses a abandonar", apontou.
 
Com ironia, Pacheco Pereira reconheceu que, na realidade, algumas empresas até ajustaram nos últimos anos.
 
"Na verdade, pode dizer-se que algumas empresas ajustaram, mas algumas ajustaram falindo", observou.
 
Jornal de Notícias - Foto Vitor Rios
 

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