Pedro Bacelar de
Vasconcelos – Jornal de Notícias, opinião
Importa
descodificar o exercício discursivo a que o vice-primeiro-ministro se entregou
com tanto afinco ao fim da tarde da passada quarta-feira, após longos meses -
porventura curtos anos? - da paciente gestão de exuberantes silêncios. Para
memória futura, recorde-se que "a reforma do Estado" foi uma
incumbência confiada no verão passado ao então ministro dos Negócios
Estrangeiros, irrevogavelmente demissionário e chefe de um dos partidos da
coligação do Governo, juntamente com a vice--presidência do poder executivo, a
representação deste junto da poderosa troika e a colocação de novas peças no
tabuleiro do xadrez governamental. Foi essa a receita - polémica e insensata -
para evitar uma nova antecipação de eleições legislativas o que, para a
inteligência comum, se afigurava como sendo algo meridianamente inevitável.
A tais prendas e
honrarias não corresponderam as manifestações de apreço e gratidão que
logicamente se deveria esperar. Pelo contrário, seguiu-se um interminável
mutismo só agora quebrado, justamente, no início do debate parlamentar do
último Orçamento do Estado vinculado ao memorando de entendimento tão
insistentemente reclamado pelos atuais governantes até conseguirem a sua
definitiva concretização, pelo governo que o antecedeu, nesse ano já bem
distante de 2011.
Houve até generosos
"hermeneutas" a sugerir que o ansiado guião da reforma do Estado iria
projetar, retroativamente, uma luz esclarecedora do sentido das políticas
adotadas ao longo destes dois anos e meio de governação, como se o ex-ministro
dos Negócios Estrangeiros nos devesse alguma explicação acerca disso! Nem por
sombras! Como bem sublinhou o seu autor, o guião agora dado à luz foi concebido
como um exercício intemporal. Vá lá, como uma coisa de "médio prazo",
condicionada à verificação incerta de condições futuras, tais como taxas de crescimento
económico mínimo ou disponibilidades máximas para o "diálogo" e a
concertação política. É um guião "multiusos". De momento, serve de
aperitivo para os "cortes" prometidos pelo novo Orçamento do Estado,
no futuro há de servir para tornar o Estado invulnerável a novos riscos de
insolvência e até no passado poderia também ter servido para qualquer coisa,
designadamente, para justificar, em 2009, um governo de coligação com o PS...
Deste guião da
reforma do Estado nada mais havia a esperar do que aquilo que se viu:
- uma vingança
traiçoeira, o acerto de contas por uma prenda envenenada, humilhação, mera
intriga doméstica. Não o tenciono ler, nem dedicar-lhe mais atenção do que esta
que até já me parece excessiva. BASTA PUM BASTA!
E em homenagem às
tristes artes da política presente, neste "jardim à beira-mar
plantado", permito-me rematar com a homenagem ao poeta a quem me
encomendei, logo no título: - do MANIFESTO ANTI-DANTAS E POR EXTENSO por José
de Almada-Negreiros, POETA D'ORPHEU FUTURISTA e TUDO: "O DANTAS EM GÉNIO
NUNCA CHEGA A PÓLVORA SECA E EM TALENTO (......)" Passos e Portas!
Pim-Pam-Pum!
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