Macau, China, 04
nov (Lusa) - O secretário executivo da Comunidade de Países de Língua
Portuguesa (CPLP), Murade Murargy, apelou hoje, em Macau, para um
"recenseamento credível" na Guiné-Bissau, defendendo ser mais
realista a realização de eleições gerais em 2014.
"Era
irrealista ter eleições este ano, porque o processo de recenseamento eleitoral
ainda não começou", disse aos jornalistas, à margem de uma tertúlia com
membros da comunidade lusófona.
Na perspetiva do
secretário executivo da CPLP, "o que é preciso é que seja feito um
recenseamento credível, que não provoque contestações em termos de
fraudes".
Murade Murargy
comentava a proposta feita pelo Presidente de transição da Guiné-Bissau, Serifo
Nhamadjo, que na sexta-feira sugeriu aos partidos com assento parlamentar que
as eleições sejam adiadas para 23 de fevereiro ou 02 de março de 2014.
A Guiné-Bissau está
a ser dirigida por um Presidente e um governo de transição na sequência do
golpe de Estado militar de 12 de abril de 2012.
A Comunidade
Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) determinou inicialmente que
o período de transição devia terminar antes do final deste ano. Calendário que,
na opinião de Murargy, "era uma forma de pressionar" as autoridades
guineenses "para que não fiquem a arrastar o processo
indefinidamente".
Orçado no
equivalente a 14,5 milhões de euros, todo o processo eleitoral vai ser
financiado pela comunidade internacional, cabendo a maior fatia à CEDEAO.
Um orçamento que
levou o representante especial da ONU para a Guiné-Bissau, José Ramos-Horta, a
recorrer ao nome de uma marca de roupa e acessórios de luxo para ironizar sobre
a questão. "Com 20 milhões de dólares têm de ser umas eleições
Gucci", gracejou.
Trata-se de um
"comentário pessoal dele que não tenho de comentar ou criticar. Se ele
disse isso tem as suas razões, ele encontra-se no terreno, eu não estou
lá", sustentou o secretário executivo da CPLP.
Murade Murargy
considerou que o processo eleitoral deve ser "o menos oneroso
possível", acreditando ser possível fazer eleições com 13 milhões, tal
como quem está no terreno - a União Africana, a CEDEAO e as Nações Unidas.
Murargy, que
participa, como convidado, pela primeira vez, nos eventos do Fórum para a
Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa
(Fórum Macau), encontrou-se ao almoço com o primeiro-ministro da Guiné-Bissau,
Rui Duarte Barros, com o qual combinou encontrar-se mais tarde "para falar
mais um pouco" sobre este assunto.
Sobre Moçambique -
que vive o seu pior momento de tensão político-militar após o Acordo Geral de
Paz, assinado entre Governo e Renamo em 1992 - o diplomata moçambicano não se
quis alargar, dado que se encontra em Macau o ministro dos Negócios
Estrangeiros, Oldemiro Baloi.
"O que sei ou
posso dizer é que a situação está sob controlo e que o povo moçambicano, como
sempre, vai conseguir ultrapassar esta situação", disse, indicando que
"a CPLP ainda não foi chamada a intervir ou a pronunciar-se".
Sobre o ato de
vandalismo de que foi alvo a embaixada de Angola em Portugal, disse ser
"condenável".
"Estive em
Angola há duas semanas, conversei com as autoridades angolanas [e] é evidente
que é uma situação que eles acham que vai ser ultrapassada. Agora isto o que
aconteceu ontem (domingo) em Lisboa, não é bom (...) São portugueses que o
fizeram, sejam eles de que tendência forem, sempre dá um mau sinal",
porque, apontou, afinal de contas, "há uma situação inamistosa".
O embaixador de
Angola em Lisboa afastou qualquer relação entre o ato de vandalismo de domingo
contra o edifício da embaixada na capital portuguesa e o estado atual das
relações com Portugal.
"Vamos
continuar a pensar no ato como um incidente, mas devemos estar atentos para que
situações do género não voltem a acontecer", disse Marcos Barrica, citado
hoje pela agência Angop.
DM (LFO/BM/EL) //
JMR - Lusa
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