quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Timor-Leste - Mauk Moruk: Camarada de armas de Xanana Gusmão na resistência

 

O Eça
 
Mauk Moruk era um dos mais prestigiados e temidos (pelos militares indonésios) comandantes da guerrilha timorense até a sua forçada rendição em finais de 1984, motivada pela primeira dissensão grave no seio da Resistência político-armada desde a sua reorganização (1980) por Comandante Kay Rala Xanana Gusmão. Tinha a alcunha de "Anjing Putih" devido à superstição dos soldados indonésios que acreditavam piamente que Mauk era invulnerável às balas e que quando cercado se transformava em um cão branco e se escapava por entre as pernas do inimigo.

Mauk e seus camaradas Kilik e Ologari (e mais um ou dois que não me recordo dos nomes) ousaram desafiar Xanana relativamente à linha orientadora da política a ser seguida pela Resistência: pretendiam regressar a política extremista marxista-leninista, mesmo sabendo que era uma opção fracturante no seio do Povo, destruindo a ainda frágil unidade dos timorenses. A causa próxima da divergência dos dois guerrilheiros, na altura os mais prestigiados e conhecidos, era o cessar-fogo acordado, em 23 de Março de 1983, entre a Resistência e o comando da tropa ocupante. Pensa-se que Mauk teria desconfiado que Xanana teria negociado a capitulação da guerrilha em troca do cargo de governador. Mas não era verdade essa versão que então corria entre os guerrilheiros nas montanhas de Timor. Instalada a desconfiança um dos dois teria de ceder para se evitar o fim da guerrilha pela mão dos próprios guerrilheiros.

Xanana não esteve com meias medidas: um dos dois tinha de sair da cena. Mauk foi forçado a ceder e negociar a sua rendição às tropas inimigas com a mediação dos padres salesianos do colégio de Fatumaca. Quem o defendeu neste 'julgamento' foi Matan Ruak, que o protegeu até a sua rendição, como gratidão por Mauk o ter defendido meses antes quando Ruak fora acusado de traição por ter estado algum tempo em área ocupada no âmbito dos acordos do cessar-fogo.

Mauk rendeu-se com apenas seis dos seus guerrilheiros (eram seus filhos adoptivos e que cresceram e combateram a seu lado). Estes seis guerrilheiros foram mais tarde executados pelos indonésios, escapando apenas o seu comandante Mauk Moruk por este ser demasiado conhecido para o fazerem desaparecer. Aos restantes dos seus homens da Brigada Vermelha Mauk pediu-lhes para permanecerem nas montanhas e passarem a servir sob as ordens de Xanana. Kilik faleceu de doença nas montanhas.

PS: Mauk Moruk lançou um ataque demolidor a Mari Alkatiri, em 1990, num documento escrito por seu próprio punho. Em resposta às críticas de Mauk, puseram a circular, em Lisboa, no seio da comunidade exilada timorense, um documento de autoria anónima com a assinatura forjada de Mauk Moruk, como sendo dele próprio, a declarar-se colaboracionista dos indonésios, confessando que ajudou a delinear estratégias militares para desmantelar a Resistência armada. Em Lisboa, a partir daquele ano, Mauk Moruk reaproximou-se politicamente de Xanana Gusmão.
Publicado em 13 novembro 2008
 
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