Oukraïnska pravda,
Gazeta Wyborcza, SME & 4 outros – Presseurop – imagem AFP
Ao renunciar, em 21
de novembro, à assinatura do acordo de associação proposto pela União Europeia,
na Cimeira da Parceria Oriental da próxima semana, em Vílnius, Kiev vira as
costas à Europa e cede às pressões políticas e económicas da Rússia, considera
a imprensa europeia.
Ao rejeitar
no mesmo dia os projetos de lei que permitiriam a transferência para o
estrangeiro, por motivos de saúde, de Iulia Tymochenko, opositora do regime que
está detida, o Parlamento ucraniano rejeitou igualmente a principal condição
colocada pela União para a assinatura do acordo.
“Viktor Yanukovych
ou o fim de um sonho”, titula o site noticioso Ukrainskaia Pravda, na
sequência da decisão
do Governo ucraniano de não assinar o acordo de associação com a União
Europeia, uma semana antes da cimeira de Vílnius (28 e 29 de novembro),
dedicada à Parceria Oriental da União Europeia. Para este jornal de oposição,
foi por “ter-se excedido em exigências e em bluffs” que o Presidente ucraniano,
Viktor Yanukovych, pôs fim ao “sonho” de todo um país:
Em Varsóvia, o
cronista Mirosław Czech, da Gazeta Wyborcza, salienta que, ao atirar pelos
ares a mesa onde o acordo de parceria iria ser assinado, o Governo ucraniano
confirmou a opinião dos políticos europeus que afirmavam que Yanukovych estava
a meter a Europa numa caça aos gambuzinos, tentando obter melhores condições do
negócio com a Rússia. E nenhuma pessoa séria voltará a sentar-se para falar de
cooperação com um tal político. O Presidente ucraniano ficou perigosamente
perto de políticos como [o Presidente bielorrusso] Alexander Lukashenko, e a
Ucrânia de países governados ao estilo bielorrusso. Mas a esperança é a última
a morrer. Durante uma visita à Áustria, Yanukovych declarou que a Ucrânia não
vai desistir da integração na União Europeia. [...] Então, nem tudo está ainda perdido?
Quem sabe. Nos últimos 20 anos, os acontecimentos na Ucrânia trouxeram-nos
surpresas ainda maiores.
“Kiev retira-se da
União”, é o título do SME. No diário de Bratislava, lê-se que a reviravolta nas
relações entre a União Europeia e a Ucrânia é uma grande lição para os
diplomatas europeus, que se caracterizam muitas vezes pelo “otimismo
infundado”, sem entenderem com quem estão a negociar. Se a decisão de Kiev
representa um grande problema para a Europa, vai ter consequências ainda piores
para os ucranianos, considera o SME, pois a escolha entre
Bruxelas e Moscovo não tem apenas a ver com vantagens económicas de curto prazo
[...], mas é também uma opção entre um Estado democrático, com um sistema legal
que funciona melhor, de um lado, e um estado “gangster” e a miséria cada vez
mais profunda, do outro. Yanukovych escolheu a segunda opção. Se ele e os seus
próximos podem daí colher benefícios, a maioria dos ucranianos vai pagar isto
muito caro.
“Depois de ter
perdido de forma lamentável o jogo contra a França, a Ucrânia perdeu a Europa?
Tem todo o ar disso”, diz Le Soir, em Bruxelas,
evocando a eliminação da Ucrânia da qualificação para o Mundial de Futebol de
2014. Para o jornal belga, a Parceria Oriental, que deveria aproximar a Europa
das ex-repúblicas soviéticas, está “em estado de morte clínica”, e as pressões
russas não são alheias ao facto:
Os lituanos, que
asseguram até ao final do ano a presidência rotativa da União Europeia, veem
assim esfumar-se o seu sonho de coroar a sua passagem com um êxito em Vílnius.
[...] Os poderosos argumentos sonantes e trôpegos de Moscovo levaram, pois, a
melhor.
No mesmo
comprimento de onda, o Frankfurter Allgemeine Zeitung constata um verdadeiro
“braço de ferro” entre a União Europeia e a Rússia. Segundo o jornal, este
desfecho, após um ano de negociações sobre o acordo de associação, peca por
chegar “tarde de mais”:
À força de ameaças,
bloqueios comerciais e controlos aduaneiros desmesurados, o Governo de Kiev
percebeu bem a mensagem de que a Rússia tem meios para atirar o país abaixo,
país esse que tem já muitos problemas e poderia até ir à falência, se assinasse
o acordo com a União Europeia.
“A Europa está a
perder a luta pela Ucrânia”, resume o diário austríaco Die Presse, na primeira página,
ao dar conta da estupefação reinante em Bruxelas, onde ao meio-dia de 21 de
novembro ainda se falava de uma “situação dinâmica”, abstendo-se depois de
comentar, no período da tarde. Mas é sobretudo a reviravolta que pasma Die
Presse:
Agora, será dada
prioridade à participação no projeto concorrente, a união aduaneira instigada
por Moscovo, que [o Presidente Viktor Yanukovich] tinha posto de lado à
partida.
Por último, em
Talin, o Eesti Pävaleht manifesta a sua
inquietação por a União Europeia não poder continuar a prestar assistência
à Ucrânia, agora que Kiev escolheu o campo russo:
Os acontecimentos de
ontem demonstraram que o Presidente Viktor Yanukovych não teve força suficiente
para dar o passo decisivo. A pressão russa, por um lado, e as condições
impostas pela União Europeia, por outro, faziam prever uma tarefa complicada.
[...] Esta inversão, em que Kiev suspendeu as suas relações de amizade com a
Europa, parece conduzir a uma situação em que a Ucrânia não tem mais esperança
de ajuda do Ocidente, perante qualquer tipo de pressão de Moscovo.
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