Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
Não me lembro de
ninguém que mais vezes me tenha pedido desculpa na vida do que o FMI - exceto
as minhas filhas, claro. Mas o FMI fá-lo de forma diferente. Não se limita a
pedir desculpa, reconhecendo ter feito asneira. Publica um relatório ou faz
declarações mais ou menos científicas nos quais se prova que aquilo que,
cientificamente, havia sido provado anteriormente, afinal já não se prova.
Acontece que muitos
economistas e estadistas diziam que o FMI não tinha razão, mostrando argumentos
científicos, que o FMI refutava com científicos argumentos. O presidente
Hollande, que ia enterrar a austeridade e promover o crescimento, calou-se.
Letta, o italiano, também já não arrisca grande coisa. Merkel, que parecia
segura de soluções semelhantes às do Fundo, já tem a crise a entrar-lhe porta
adentro. Quem nunca mudou de opinião que atire a primeira pedra.
Não será o FMI a
fazê-lo. Desta vez a sua diretora Christine Lagarde afirmou que Portugal e
Grécia (e mesmo a Espanha, que só teoricamente não está sob intervenção),
tiveram demasiado pouco tempo para o ajustamento. E acrescenta "Penso que
o FMI não mudou de opinião". Confusos? Lagarde respondia a uma questão
sobre os chamados "multiplicadores automáticos" na qual o FMI se
tinha enganado, explicando a ex-ministra francesa que para o FMI "é um
ponto de honra reconhecer os seus erros".
Dentro de algum
tempo, Lagarde, ou qualquer outro big shot do FMI, dirá que, afinal, o tempo
necessário de Portugal e da Grécia (quem sabe se o da Espanha) está a ser longo
de mais. Ou qualquer outra coisa. A estratégia do FMI parece ter dias - e num
deles há de ter razão, porque até os relógios parados têm razão duas vezes ao
dia...
Sinceramente, se
isto não fosse trágico em matéria de desemprego, miséria e mesmo fome, seria
totalmente ridículo. Andam uns senhores para trás e para a frente, sempre com
ar sério e grave, aos quais se opõem outros senhores com o mesmo ar sério e
grave - uns defendendo a austeridade e outros o investimento - e, no fim,
ficamos com a sensação que tanto sabem uns como outros - nada, ou quase!
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