La
Vanguardia, Barcelona - Presseurop
Reeleita à vontade
para um terceiro mandato, a chanceler terá de contar com uma União bem
diferente da que existia quando chegou ao poder. Fraturada, dividida e em crise
de identidade, espera que Berlim retome a iniciativa.
Com a falta de
pompa e circunstância que é uma das qualidades da política local, os ministros
da GroKo
alemã – o acrónimo de “Große Koalition”, a Grande Coligação que acaba de ser
declarada palavra do ano – prestaram juramento, um após outro, perante o
presidente do Bundestag. Antes disso, Merkel obtivera a bênção formal do
Presidente federal, Joachim Gauck, numa audiência breve e sem substância.
Muito pouca
publicidade, no início do terceiro mandato de Angela Merkel. A dois mandatos de
distância dos chanceleres Konrad Adenauer e Helmut Kohl, com um de vantagem em
relação a Gerhardt Schröder e prestes a empatar com Helmut Schmidt.
Será que esta mulher
do Leste vai entrar na lista dos grandes chanceleres? Muito dependerá do
que acontecer na Europa, nessa União Europeia que usurpa o título continental.
Merkel recebeua em 2005, ainda sob a propaganda narcisista que associava o seu
nome à prosperidade e à paz. A paz europeia ignorou as múltiplas guerras que os
membros da nova Europa, nações coloniais, travaram contra o exterior desde o
próprio momento da sua integração e que continuam a travar ainda hoje, bem como
uma ou outra que, nos Balcãs, ocorreu no seu próprio seio. Quanto à
prosperidade, simplesmente desapareceu.
Vários grupos
Portanto, da Europa
que Merkel recebeu foram apagados os dois grandes mitos de base. No lugar
deles, existe uma fratura. Sempre existiu, mas agora é notória: a Europa de
grupos distintos. Um é o dos beneficiários líquidos do euro, que defende a
austeridade e a cobrança da totalidade das dívidas dos seus bancos, e tem no
centro a Alemanha. Outro, vacilante e fragmentado, é representado pela França.
Outro, em diferentes estádios de crise e debilidade, vai de Portugal a Itália,
passando por Espanha, e da Eslovénia a Chipre, passando pela Irlanda. E o
último, marginalizado como mera periferia e mergulhado na degradação, vai da
Grécia à Bulgária, passando pela Roménia e pela Albânia.
Será esta Europa
fragmentada que irá atribuir a nota ao terceiro mandato de Merkel. Este
inicia-se com um governo de coligação do qual é soberana inquestionável, com um
apoio parlamentar esmagador, uma oposição muito reduzida e uma situação
socioeconómica global interna ambígua, mas estável, sobretudo se comparada com
a da maior parte da Europa.
Reagir ao
imprevisto
Dizer que não são
de esperar surpresas, neste contexto tão instável, seria um disparate. É
verdade que é isso que indica o acordo de coligação de 185 páginas assinado com
os social democratas, cujos dirigentes foram estrondosamente derrotados nas
eleições de setembro, mas estão muito satisfeitos por ocuparem os seus novos
cargos ministeriais: contudo, a realidade não é ditada por documentos..
Em especial em
tempos de crise, governar é reagir ao imprevisto. Angela Merkel quer navegar
numa direção, mas uma mudança dos ventos pode levála para qualquer lado. E a
Europa não está só em crise na sua vertente ocidental. A Leste, está em
incubação uma coisa semelhante a uma Guerra Fria com a Rússia. A UE, com a
Alemanha à frente, parece considerar a Ucrânia o seu pátio das traseiras,
complica a vida à exportação energética russa e, a partir da NATO, acicata o
urso moscovita com todo o tipo de provocações militares: um escudo antimíssil
contra o Irão, que não vai ser cancelado, apesar de haver desanuviamento com
Teerão.
A Rússia já
instalou mísseis no Báltico e o documento da coligação alemã não inclui a
tradicional intenção de retirar as bombas norteamericanas, existentes em
território alemão.
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Traduzido por Fernanda
Barão
Angela Merkel e a
Europa
Reformas,
integração europeia e união bancária
Um dia após a sua
tomada de posse como chanceler, Angela Merkel dedicou a primeira declaração
oficial do seu terceiro mandato à Europa. No seu discurso, nota o Süddeutsche Zeitung,
Merkel pediu mais esforço
aos Estados-membros da UE para a concretização das promessas feitas sobre
reformas. [...] Na véspera da cimeira da UE em Bruxelas,
Angela Merkel frisou igualmente o facto de o futuro da unificação europeia não
poder ser assegurado sem a alteração dos tratados europeus. “Há erros de
construção que têm de ser corrigidos”, disse a chanceler relativamente à mais
recente regulamentação sobre a supervisão dos bancos. A Alemanha deseja
continuar a desempenhar o seu papel, isto é, a assumir as suas
responsabilidades e a encorajar a integração europeia. [Em contrapartida], a
Chanceler alertou a Comissão Europeia relativamente a uma intervenção demasiado
dura contra os subsídios destinados às empresas alemãs para o financiamento de
energia renovável.
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