A VISÃO DO REGIME
Folha 8, 7 dezembro
2013
Angola pode chegar
a produzir três milhões de barris de petróleo por dia se a exploração do
nível pré-sal, ainda em fase inicial, for viável, afirmou à Lusa David Thomson,
da consultora britânica Wood Mackenzie. Quando tal acontecer, estaremos entre os
dez maiores produtores, “ranking” liderado pela Rússia e pela Arábia Saudita,
que produzem cerca de 10 milhões de barris diários. Talvez nessa altura se
comece a cumprir o vaticínio do vice-Presidente da República, Manuel Domingos Vicente,
para quem a meta imediata do Governo é reduzir abaixo dos 35% os níveis de
pobreza, hoje superior a 60%. Talvez.
O nível de
incerteza, não em relação à pobreza mas ao petróleo, é ainda bastante elevado,
na medida em que é preciso confirmar a tese de que há, realmente, petróleo no
pré-sal, um nível geológico situado por baixo do fundo do mar, explica o
consultor, salientando que “até 2015 teremos uma imagem mais clara sobre a
escala dos recursos naturais possíveis de explorar”. Para já, as previsões
continuam a ser optimistas, dado que, com a “quase estagnação da produção na
Nigéria”, o maior produtor africano de petróleo, com mais de 2 milhões de
barris por dia, “Angola pode tornar-se o número um africano, mas não nos próximos
anos”, salienta David Thomson. Para este consultor especializado na indústria
do petróleo, Angola deverá ultrapassar a barreira dos 2 milhões de barris
diários a partir de 2015 ou 2016, e beneficia não só da estagnação da produção
nigeriana, mas também da percepção dos investidores, que encaram o país
desfavoravelmente, e dos roubos que frequentemente são reportados pelas
principais companhias petrolíferas a operar no país.
Questionado sobre o
significado prático de ser o maior produtor africano de petróleo, David Thomson
reconheceu que não é apenas uma questão de estatuto: “É claramente uma questão
de ‘status’, mas há potencialmente um aspecto mais importante, que é o efeito
tangível de atrair mais investimento, porque a percepção dos investidores passa
automaticamente a ser de que Angola é um bom destino
para colocar o dinheiro, porque todos querem ser associados com o melhor, com o
maior, com o primeiro, e é assim que as coisas funcionam”.
Independentemente
do previsível aumento da produção petrolífera, são já muitos os poucos
angolanos que têm muitos milhões, que lotam as viagens entre Luanda e o Rio de
Janeiro. Há uns anos os aviões transportavam cidadãos que fugiam da guerra,
hoje – revela o jornal brasileiro “O Globo” – procuram a lipoaspiração, terapia
capilar, laser contra estrias e, é claro, botox.
“Como a
infraestrutura de serviços ainda é precária no país, pacificado desde 2002, o
avião virou a melhor saída para a emergente classe média angolana que quer ter
acesso a aparelhos e cosméticos que não existem do lado de lá do Atlântico. Um cálculo
informal do consulado de Angola estima que, dos 25 mil visitantes anuais, pelo
menos 30% vêm procurar algum tratamento estético. Nesse vai e vem, outro nicho cresce
a olhos vistos: o da reprodução assistida”, diz o jornal.
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