quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Angola: DO PETRÓLEO AO BOTOX

 

A VISÃO DO REGIME
 
Folha 8, 7 dezembro 2013
 
Angola pode chegar a produzir três milhões de barris de petróleo por dia se a exploração do nível pré-sal, ainda em fase inicial, for viável, afirmou à Lusa David Thomson, da consultora britânica Wood Mackenzie. Quando tal acontecer, estaremos entre os dez maiores produtores, “ranking” liderado pela Rússia e pela Arábia Saudita, que produzem cerca de 10 milhões de barris diários. Talvez nessa altura se comece a cumprir o vaticínio do vice-Presidente da República, Manuel Domingos Vicente, para quem a meta imediata do Governo é reduzir abaixo dos 35% os níveis de pobreza, hoje superior a 60%. Talvez.
 
O nível de incerteza, não em relação à pobreza mas ao petróleo, é ainda bastante elevado, na medida em que é preciso confirmar a tese de que há, realmente, petróleo no pré-sal, um nível geológico situado por baixo do fundo do mar, explica o consultor, salientando que “até 2015 teremos uma imagem mais clara sobre a escala dos recursos naturais possíveis de explorar”. Para já, as previsões continuam a ser optimistas, dado que, com a “quase estagnação da produção na Nigéria”, o maior produtor africano de petróleo, com mais de 2 milhões de barris por dia, “Angola pode tornar-se o número um africano, mas não nos próximos anos”, salienta David Thomson. Para este consultor especializado na indústria do petróleo, Angola deverá ultrapassar a barreira dos 2 milhões de barris diários a partir de 2015 ou 2016, e beneficia não só da estagnação da produção nigeriana, mas também da percepção dos investidores, que encaram o país desfavoravelmente, e dos roubos que frequentemente são reportados pelas principais companhias petrolíferas a operar no país.
 
Questionado sobre o significado prático de ser o maior produtor africano de petróleo, David Thomson reconheceu que não é apenas uma questão de estatuto: “É claramente uma questão de ‘status’, mas há potencialmente um aspecto mais importante, que é o efeito tangível de atrair mais investimento, porque a percepção dos investidores passa automaticamente a ser de que Angola é um bom destino para colocar o dinheiro, porque todos querem ser associados com o melhor, com o maior, com o primeiro, e é assim que as coisas funcionam”.
 
Independentemente do previsível aumento da produção petrolífera, são já muitos os poucos angolanos que têm muitos milhões, que lotam as viagens entre Luanda e o Rio de Janeiro. Há uns anos os aviões transportavam cidadãos que fugiam da guerra, hoje – revela o jornal brasileiro “O Globo” – procuram a lipoaspiração, terapia capilar, laser contra estrias e, é claro, botox.
 
“Como a infraestrutura de serviços ainda é precária no país, pacificado desde 2002, o avião virou a melhor saída para a emergente classe média angolana que quer ter acesso a aparelhos e cosméticos que não existem do lado de lá do Atlântico. Um cálculo informal do consulado de Angola estima que, dos 25 mil visitantes anuais, pelo menos 30% vêm procurar algum tratamento estético. Nesse vai e vem, outro nicho cresce a olhos vistos: o da reprodução assistida”, diz o jornal.
 

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