DESEJAMOS A TODOS
BOM NATAL E BOM ANO, MAS COMO É QUE SE VIVE NUM PAÍS SEM FUTURO?
Abrupto
Mais uma vez foi
anunciado um prazo para a “austeridade”. Quinze anos, pelo menos. Se tomarmos à
letra o “programa” vindo das várias troikas, FMI-UE-BCE, ou Passos-Maria
Luís-Moedas, ou Neves-Lourenço-Bento, ou qualquer das suas variantes, serão
precisas décadas. Se tomarmos à letra as promessas de manter a “austeridade”
pelos anos necessários para “resolver” o problema do défice e da dívida, como
política “inevitável”, é de décadas que falamos.
Como é que se vivem
décadas de “austeridade”? Não se vivem. Com troika ou sem ela, com plano
cautelar ou sem ele, o que nos dizem os governantes é que a “austeridade” é
para ficar como o novo modo de vida “ajustado” dos portugueses. Esta perspetiva
de “vida” é impossível em democracia, só em ditadura. Só com ditadura ou com
guerra civil é que é possível esse “ajustamento”. Se continuarmos a viver em
democracia, é impossível. Mais, é economicamente autodestrutivo, ou seja, os
efeitos que gera este longo “ajustamento”, se se viesse a verificar, tornam-no
insustentável, logo ineficaz, logo errado.
Começa por que,
para muitos, não é sequer uma perspetiva de “vida” viável. Para uma parte
importante dos portugueses com mais de 60 anos, tira-lhes qualquer hipótese de,
na sua vida terrestre, conhecerem qualquer melhoria, bem pelo contrário. Depois
para muitos adultos com quarenta anos, por exemplo, para os chamados
“desempregados de longa duração”, é igualmente um beco sem saída, cujo
agravamento se acentuará com a passagem do tempo. Impossível de “viver” a não
ser com legiões de pobres na rua, como na Grande Depressão americana. E não há
nenhum “New Deal” á espera.
Exagero? Só é
exagero porque não irá acontecer, porque, a prazo mais curto do que pensam os
seus proponentes, que também não tem muita confiança na possibilidade das suas
políticas serem sustentáveis, - pelo efeito do “politiquice” eleitoral, dizem
com desprezo, - haverá mudanças de política, quer sejam feitas a bem ou a mal.
Suspeito que a mal, mas isso é outra questão.
Um poderoso
acelerador do fim desta política é o crescimento da desigualdade. Como é que se
vivem décadas de “austeridade” desigualmente distribuída? Não se vivem sem
revolta. Por aqui me fico. Bom Natal. No fim de contas o Pai Natal também veste
de vermelho e é velho, duas sinistras condições para a revolta nestes dias.
José Pacheco
Pereira
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Abrupto
*Título PG
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