Mário Soares – Diário
de Notícias, opinião - em 23 dezembro 2013
1- O Tribunal
Constitucional honrou a justiça portuguesa, desgraçadamente tão desprestigiada,
como as sondagens revelam. A decisão do Tribunal, apesar das pressões que
sofreu, portuguesas e estrangeiras, inaceitáveis, foi límpida e clara, honrando
a Constituição da República, que o Governo e o Presidente da República juraram
respeitar.
O atual Governo
teve uma derrota histórica que eticamente o devia fazer demitir-se, se tivesse
algum sentido de dignidade. Mas não. Houve apenas um secretário de Estado que
se demitiu, Hélder Rosalino, e com ele dois assistentes, Lobo d"Ávila e
Fernando Santo, embora sem invocar a derrota do Governo.
Mas casos
semelhantes vão começar a manifestar-se, depois da derrota que o Governo sofreu
e não tem remédio. A própria troika está com dúvidas e, por isso, tanto queria
meter o Partido Socialista no que chama o consenso interpartidário, o que seria
um suicídio para o PS, como é evidente.
A verdade é que a
derrota do Governo resultou da unanimidade dos juízes do Tribunal
Constitucional e não se apagará com facilidade nos próximos tempos. Pelo
contrário. O Governo, que estava moribundo e sem rumo nem estratégia, fica
agora com cada vez mais dificuldades para continuar. Nada fará de novo.
O
vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, tão vaidoso do seu novo título, apesar de
não ter qualquer consistência, está cada dia a destruir mais o seu próprio
partido. Não tem relógio que o salve. Encravou-se antes de poder dar horas, com
o que se sabe agora do que fez e deixou ao desbarato nos Estaleiros de Viana do
Castelo. Com ou sem o acordo do seu colega de Governo e ministro da Defesa,
Aguiar-Branco.
Obviamente que
Paulo Portas não pode demitir-se, nem ser tomado a sério, quando critica a
política do Governo, de que é vice-primeiro-ministro, porque se o fizesse
viriam à tona de água, denun- ciadas pelos seus anteriores aliados, todas as
trapalhadas em que se tem metido. E não são poucas nem pequenas...
É este o Governo
que tem, ao que dizem, legitimidade para continuar a destruir o nosso País,
unicamente graças à proteção do Senhor Presidente da República, Aníbal Cavaco
Silva? Só se o Presidente da República quiser suicidar-se política e
moralmente.
É o momento,
portanto, de dizer basta! O economicismo do chamado capitalismo financeiro
provocou um novo terrorismo planetário, que Sua Santidade o Papa Francisco
declarou - e bem - que mata. Está, com efeito, no fim. Porque se assim não for,
cairemos no abismo, em que todos perdem, os pobres, obviamente, mas também os
ricos.
Claude Mineraud, um
autor muito lido e respeitado em França, escreveu um livro intitulado: Un
Terrorisme Planétaire, Le Capitalisme Financier, em que explica esse tipo de
novo terrorismo, que é necessário destruir rapidamente. E não só em Portugal.
Pelo menos em toda a zona euro da União Europeia.
Com Barack Obama e
John Kerry à frente dos Estados Unidos, isto não pode deixar de acontecer. Até
porque os únicos amigos e aliados, fiéis, que os Estados Unidos têm no mundo
tão complexo em que vivemos são os europeus...
Quanto à selvajaria
que nos trouxe o capitalismo financeiro - e que o Santo Padre Francisco tem
denunciado repetidamente - é necessário acabar, quanto antes, com ela.
Mas como português
e patriota que me prezo de ser, o que mais me preocupa é pôr fim a um Governo
de incompetentes que têm estado, desde há quase três anos, a destruir
sistematicamente o nosso património. A vendê-lo, ao desbarato, sem sequer nos
informar. A empobrecer os portugueses, mulheres e homens, na sua esmagadora
maioria, a empurrá-los para o exílio, uma vez que não têm trabalho, para o
suicídio ou a criminalidade. Estamos, assim, a perder os nossos melhores
cérebros e, ao mesmo tempo, a destruir as nossas universidades, institutos
politécnicos, as nossas escolas públicas, os nossos hospitais e até - e de que
maneira - os nossos tribunais. É o Estado social que, no seu conjunto, está a
ser destruído. Um crime sem perdão que um dia será julgado.
Todos os
portugueses sabem que o que digo é verdade. Ora, é preciso, quanto antes,
salvar Portugal. Como? Levando o Presidente da República a não continuar a
proteger, acima de tudo, a pior parte do seu próprio partido - que é aliás uma
minoria - e a ficar agarrado ao poder, como uma lapa à rocha.
É urgente
substituir este Governo - que representa uma coligação que não se entende entre
si e, em palavras, está sempre a digladiar-se e, cada dia, cria maiores
dificuldades a Portugal. É por isso importante, quanto antes, salvar Portugal.
E, para tanto, é urgente que o Presidente da República, que até tem amigos
capazes de governar, como Silva Peneda ou Manuela Ferreira Leite, para só dar
dois exemplos responsáveis, entre tantos outros, para presidir a um governo de
salvação nacional, independentemente dos partidos ou com personalidades
independentes de diferentes partidos ou não.
É óbvio que este
Governo não quer - nem nunca quis - cumprir a Constituição da República, que
jurou respeitar. Tanto o primeiro-ministro como o vice-primeiro-ministro têm o
maior desprezo pela Constituição que, apesar de tudo, juraram. Mas nunca
respeitaram.
Apesar da derrota
histórica que sofreu, não é agora que o Governo vai mudar. Não obstante a
esmagadora maioria dos votantes o detestar. Sabe que numa próxima eleição será,
implacavelmente, vencido. Mas lá tem as suas razões para ficar agarrado ao
poder, enquanto puder. Mesmo quando os dois líderes dos partidos da coligação
não se entendem, se atacam e detestam. Mas têm um ponto em comum: ambos estão
igualmente agarrados ao poder...
2 - A ALEMANHA E A
FRANÇA
O Le Monde de
quarta-feira última deu um grande relevo ao que chamou "o relançamento da
Europa" entre a Alemanha e a França. Ou seja, entre a nova chanceler
Merkel, agora aliada aos sociais-democratas, e o Presidente Hollande,
socialista, criando uma União Bancária entre Berlim e Paris. Trata-se, sem
dúvida, de um bom recomeço.
A fotografia com os
dois líderes abraçados, cobre praticamente a primeira página do Le Monde. E em
baixo vem o editorial do jornal, intitulado: "Um bom acordo, que pode vir
a corrigir as falhas da zona euro".
Será assim? Oxalá o
seja...
Na verdade, o eixo
Alemanha/ França sempre foi fundamental para o fortalecimento da União Europeia
e da zona euro em particular. E é isso que se precisa, como de pão para a boca,
para vencer a crise financeira, económica, política, social e até ambiental,
que aflige a maior parte dos Estados membros.
Para isso é preciso
contar, como acontece de novo, com o eixo franco-alemão, a dar força ao
socialismo democrático e à democracia cristã, os partidos que fizeram a União
Europeia, reclamando unidade, igualdade e, sobretudo, solidariedade (que deixou
de haver) entre os Estados membros.
Acontece que as
duas grandes personalidades mundiais que hoje tentam salvar o Mundo, na paz
entre os Estados e subordinando os mercados à política - como deve ser - são o
presidente Barack Obama e o Santo Padre Francisco. Ambos não aceitam o
capitalismo selvagem e o terrorismo financeiro, que provocaram a crise que nos
afeta. E que os Estados Unidos já ultrapassaram. Querem agora fortificar, como
é necessário, a solidariedade entre os Estados, com a política, como deve ser,
a dominar os mercados. E não o contrário, como tem acontecido. Os mercados que
só pensam no dinheiro e ignoram as pessoas que são, afinal, quem conta.
Vamos entrar, pois,
julgo, num novo ciclo político-social, com valores éticos e que respeitem as
pessoas. Só assim, de resto, é possível vencer a crise que tanto nos tem
afetado e criar uma fiel aliança entre os Estados Unidos e a União Europeia, de
modo a ajudar um Mundo tão complexo e envolvido, sem saber como, em repetidas
lutas e guerras.
Um Mundo que está,
pela loucura humana, a destruir-se a si próprio, como os cientistas nos ensinam
e as alterações climáticas, os tsunamis, os degelos, os furacões, as chuvadas
que arrasam tudo, os vulcões a entrar de novo em erupção, como o Etna, os
incêndios e todas as calamidades, nos dão múltiplos sinais negativos do que
pode vir a acontecer.
Voltamos pois, como
somos obrigados, a submeter esses mercados terroristas, que só pensam no vil
metal, aos valores da paz e do respeito pelas pessoas, independentemente das
suas raças e condições sociais e também a cuidar da natureza. De modo a evitar
catástrofes na medida do possível, e a defender as novas gerações, como é nossa
estrita obrigação. Tenhamos, pois, a esperança, lutando pela paz e pela
solidariedade entre as pessoas.
Só assim se pode
vencer a crise, que tanto nos afeta. Seguindo o que todos os dias nos ensinam o
Santo Padre Francisco e a diplomacia que a dupla americana - Barack Obama e
John Kerry - se esforçam todos os dias por construir a paz. E agora o bom
entendimento, tão significativo, com Cuba.
3 - NOTA FINAL
O chefe da missão
do FMI em Portugal, Subir Lall, está convencido que governa Portugal. Talvez os
atuais governantes, com a subserviência com que o tratam, lhes tenham dado essa
ideia. Mas não governa. Nem o FMI - de que é um simples funcionário - nem a
Comissão Europeia ou o Banco Central Europeu.
Portugal é um País
há três anos governado por incompetentes, de uma coligação que não se entende
entre si e se detesta. Já há muito devia ter sido demitida, se não fosse a
proteção do Presidente da República.Contudo, este Governo não é legítimo, por
ser odiado pela esmagadora maioria dos portugueses e, sobretudo, por paralisar
e destruir o Estado.
Ora o Senhor Subir
Lall, convencido que é quem manda - num país que tem quase nove séculos de
independência, com as mesmas fronteiras - resolveu dar ao Expresso uma
entrevista, como se fosse o dono de Portugal. Atreveu-se a discordar da
presidente do FMI - que não tem sido nada feliz, mas é a chefe - e está
preocupado, cito: "porque há risco para o mercado se o Governo for visto
como incapaz de o cumprir (défice)". Claro que há, como toda a gente já
percebeu há muito tempo...
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