Frankfurter
Allgemeine Zeitung, Die Welt, Der Spiegel, Die Tageszeitung – Presseurop –
imagem Heiko
Sakurai
O acordo para uma
nova grande coligação governamental entre os democratas-cristãos de Angela
Merkel e os sociais-democratas, apresentado no dia 27 de novembro, não suscita
grandes entusiasmos entre a imprensa alemã. Muito aguardado, é considerado
demasiado generoso por alguns e pouco focado na Europa por outros.
O Frankfurter
Allgmeine Zeitung não aprova de todo o acordo, nomeadamente por prever várias
“vantagens sociais”, como o salário mínimo de 8,50 euros/hora ou a idade da
reforma completa que passou de 67 para 63 anos, e que os sociais-democratas
conseguiram impor à chanceler Angela Merkel. Para o jornal conservador
trata-se de um “grande caldo”, que “cozeu demasiado tempo” e que “todos
conseguem digerir facilmente”:
Uma grande
coligação tem sempre um grande coração. Daí o povo a preferir em relação às
pequenas coligações. Deste ponto de vista, esta terceira grande coligação [na
história da RFA] não quer desiludir os alemães. Cada um dos três partidos
mostra-se generoso com as pessoas mais necessitadas. Daí resulta um pacto que
assegura imensas vantagens sociais ao país. Do salário mínimo à reforma para as
mães [28 euros a mais por mês e por criança a partir de 2014] passando pela
dupla nacionalidade, ficam todos bem servidos. […] [Mas] muitos alemães irão
sentir os custos ocultos destes atos de bondade, mesmo que isso diga apenas
respeito às gerações futuras.
Die Welt indigna-se
pelos mesmos motivos: “esta coligação não tem a mínima ideia de si própria e do
que pode exigir a este país” diz o jornal num tom alarmante,
que considera que a Alemanha deixa de servir de modelo para a Europa ao
reforçar o seu próprio Estado social:
Este acordo de
coligação transparece um estatismo narcísico e pós-heroico. A liberdade de ação
instaurada pelo antigo chanceler [social-democrata] Gerhard Schröder para fazer
prosperar a economia nacional e lutar contra o desemprego maciço é sistematicamente
posta de parte. O sinal transmitido à Europa é catastrófico. Defendemos a
austeridade para os países em crise e reforçamos o nosso Estado social já bem
composto, em vez de o por de dieta. A Alemanha já não pode servir de exemplo
para a Europa.
“O novo Governo
ignora a crise na Europa”, deplora Wolfgang Münchau no Spiegel
Online. O editorialista lamenta que, relativamente ao tema da união bancária,
só tenham sido executadas alterações mínimas ao acordo:
A ausência de
alterações na política de crise significa que não vamos, de forma alguma,
progredir num dos maiores projetos da política económica. Uma verdadeira união
bancária com um fundo comum europeu para a dissolução dos bancos e uma garantia
comum para a poupança contribuiria imenso para a resolução da crise. Mais
importante ainda, seria criar uma política de anulação rápida da dívida. Com
esta grande coligação, o SPD e Angela Merkel cometem o erro histórico de adiar
a falência.
Die Tageszeitung realça, por sua vez, o facto de Angela Merkel
ter imposto a sua vontade quanto à questão dos impostos que não aumentarão para
os ricos, como o tinham exigido os sociais-democratas, e à forma como a crise
do euro deve ser gerida. Em contrapartida, o diário de esquerda saúda a
instauração do salário mínimo:
São] melhores
condições para os “working poor” [trabalhadores pobres]. Todo o país estará
sujeito a um salário mínimo de 8,50 euros, mesmo que só entre em vigor a partir
de 2017. Haverá uma melhor regulamentação dos empregos precários. O mote está
dado: aquele que trabalha não deve ser explorado como acontecia outrora. […]
Este acordo de coligação é uma espécie de manual de reparação para o tecido
danificado da sociedade.
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