sábado, 28 de dezembro de 2013

Moçambique: OS EFEITOS DA GUERRA

 

Verdade (mz) – Tema de Fundo
 
Desde que eclodiu a tensão político-militar na região centro, os transportadores de passageiros e de carga têm vindo a acumular prejuízos incalculáveis. Empresas como Maning Nice, NAGI Investimentos e ETRAGO que por semana disponibilizavam três autocarros saindo de Nampula para a capital do país, presentemente fazem-no com apenas um veículo. Outras optaram por cancelar as viagens com destino a Maputo. Além disso, o volume de cargas reduziu de forma drástica.
 
Os constantes ataques a veículos perpetrados supostamente por homens armados da Renamo na Estrada Nacional número 1, concretamente no troço Rio Save – Muxúnguè, já se transformaram num dos piores pesadelos dos moçambicanos que se vêem obrigados a fazer o percurso todos os dias.
 
Sem alternativa, centenas de pessoas submetem-se à situação para chegarem ao seu destino ou desenvolverem a sua actividade. A tensão que já perdura há mais de seis meses já começou a ter efeitos negativos não só na vida da população, mas também nos transportadores de passageiros e carga.
 
De acordo com os gestores das empresas de transporte de passageiros interprovinciais, sobretudo, que fazem a ligação entre a zona sul e a região norte do país, urge a necessidade de o Governo pôr cobro à tensão política, uma vez que os níveis de circulação de pessoas e bens tendem a reduzir drasticamente, afectando, ainda que informalmente, a economia local.
 
A empresa Maning Nice teve uma redução de receitas de pelo menos 40 porcento, segundo Maria Helena, gerente da transportadora, e a situação tem vindo a tornar-se mais grave. Antes, por semana, em média, saíam de Nampula três autocarros com destino a Maputo e todos seguiam superlotados. Presentemente, a realidade é outra. Assiste-se a um cenário em que as pessoas já não viajam com frequência por temerem que sejam atacados pelos supostos homens da Renamo.
 
Apesar das escoltas militares no troço Rio Save – Muxúnguè, os passageiros, assim como os transportadores, já não se sentem em segurança. Nos últimos dias, o volume de cargas reduziu de forma drástica, segundo constatou a nossa reportagem na terminal de passageiros da Padaria Nampula. “Isso compromete os nossos lucros, pois o sector de Plano e Finanças em nenhum momento tentou reduzir também as taxas mensais devido à situação que se vive na zona centro do país”, lamentou Maria Helena, que acrescentou que o conflito está a prejudicar somente os agentes privados e a população em geral.
 
A empresa NAGI Investimentos não está incólume. A situação de tensão política também obrigou a transportadora a recuar no desenvolvimento da sua actividade. Fernando, cobrador daquele transportador de passageiros, diz que antes eram usados pelo menos dois autocarros para a cidade de Maputo. Presentemente, com muita sorte, parte apenas um veículo para a capital do país.
 
O homem que vende os bilhetes tem de fazer muita ginástica para atingir a meta, que é a de preencher todas as cadeiras do único autocarro posto a circular. Desde que se instalou a tensão político-militar, as pessoas têm medo de viajar, e as empresas transportadoras ficam, no mínimo, cinco dias sem circular. Em alguns casos, elas são obrigadas a restituir o dinheiro correspondente ao bilhete aos passageiros.
 
Volume de cargas reduziu
 
Além da redução de passageiros, as empresas transportadoras dizem ter registado baixas no que diz respeito às receitas resultantes das taxas de cargas. Sem entrar em detalhes, a gerente da Maning Nice disse que o volume de cargas baixou. Grande parte dos viajantes com destino à capital do país é constituída por pessoas que sobrevivem da actividade comercial. Elas compram na região norte camas, cadeiras e outros utensílios de grande valor e revendem-nos nos principais centros comerciais da cidade de Maputo e outras províncias da zona sul.
 
O fluxo reduzido da carga é visível nas terminais de passageiros da Padaria Nampula e do mercado de Nalokho, onde os operadores lamentam o facto de não ter rendimentos suficientes para o sustento das respectivas famílias. Os estivadores, também, estão revoltados com a situação da redução do fluxo de transportes, porque fazem da actividade fonte do seu pão de cada dia. As consequências dos conflitos armados não só afectam os operadores dos transportes de carga, mas também os comerciantes formais e informais que se dedicam à venda de diversos objectos tradicionais, e não só.
 
Produtos deterioram-se nos celeiros
 
O director provincial de Agricultura, Pedro Dzucule, disse que uma quantidade não especificada de produtos agrícolas se encontra a deteriorar-se nos celeiros de potenciais produtores da província de Nampula devido à falta de escoamento por causa da instabilidade política. Por exemplo, o amendoim, o milho e o feijão são alguns dos produtos alimentares que Nampula fornece aos principais mercados da zona sul do país.
 
Os supostos homens armados da Renamo atacam, principalmente, os camiões que transportam carga e pessoas indefesas. Há receio em investir em transacções por parte dos intervenientes no processo de comercialização, porque temem que o esforço seja em vão. O distrito de Meconta, que lidera a lista dos grandes produtores de amendoim a nível desta província, está a registar significativos prejuízos naquela cultura oleaginosa.
 

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