Verdade (mz) – Tema de Fundo
Desde que eclodiu a
tensão político-militar na região centro, os transportadores de passageiros e
de carga têm vindo a acumular prejuízos incalculáveis. Empresas como Maning
Nice, NAGI Investimentos e ETRAGO que por semana disponibilizavam três
autocarros saindo de Nampula para a capital do país, presentemente fazem-no com
apenas um veículo. Outras optaram por cancelar as viagens com destino a Maputo.
Além disso, o volume de cargas reduziu de forma drástica.
Os constantes
ataques a veículos perpetrados supostamente por homens armados da Renamo na
Estrada Nacional número 1, concretamente no troço Rio Save – Muxúnguè, já se
transformaram num dos piores pesadelos dos moçambicanos que se vêem obrigados a
fazer o percurso todos os dias.
Sem alternativa,
centenas de pessoas submetem-se à situação para chegarem ao seu destino ou
desenvolverem a sua actividade. A tensão que já perdura há mais de seis meses
já começou a ter efeitos negativos não só na vida da população, mas também nos
transportadores de passageiros e carga.
De acordo com os
gestores das empresas de transporte de passageiros interprovinciais, sobretudo,
que fazem a ligação entre a zona sul e a região norte do país, urge a
necessidade de o Governo pôr cobro à tensão política, uma vez que os níveis de
circulação de pessoas e bens tendem a reduzir drasticamente, afectando, ainda
que informalmente, a economia local.
A empresa Maning
Nice teve uma redução de receitas de pelo menos 40 porcento, segundo Maria
Helena, gerente da transportadora, e a situação tem vindo a tornar-se mais
grave. Antes, por semana, em média, saíam de Nampula três autocarros com
destino a Maputo e todos seguiam superlotados. Presentemente, a realidade é
outra. Assiste-se a um cenário em que as pessoas já não viajam com frequência
por temerem que sejam atacados pelos supostos homens da Renamo.
Apesar das escoltas
militares no troço Rio Save – Muxúnguè, os passageiros, assim como os
transportadores, já não se sentem em segurança. Nos últimos dias, o volume de
cargas reduziu de forma drástica, segundo constatou a nossa reportagem na
terminal de passageiros da Padaria Nampula. “Isso compromete os nossos lucros,
pois o sector de Plano e Finanças em nenhum momento tentou reduzir também as
taxas mensais devido à situação que se vive na zona centro do país”, lamentou
Maria Helena, que acrescentou que o conflito está a prejudicar somente os
agentes privados e a população em geral.
A empresa NAGI
Investimentos não está incólume. A situação de tensão política também obrigou a
transportadora a recuar no desenvolvimento da sua actividade. Fernando,
cobrador daquele transportador de passageiros, diz que antes eram usados pelo
menos dois autocarros para a cidade de Maputo. Presentemente, com muita sorte,
parte apenas um veículo para a capital do país.
O homem que vende
os bilhetes tem de fazer muita ginástica para atingir a meta, que é a de
preencher todas as cadeiras do único autocarro posto a circular. Desde que se
instalou a tensão político-militar, as pessoas têm medo de viajar, e as
empresas transportadoras ficam, no mínimo, cinco dias sem circular. Em alguns
casos, elas são obrigadas a restituir o dinheiro correspondente ao bilhete aos
passageiros.
Volume de cargas
reduziu
Além da redução de
passageiros, as empresas transportadoras dizem ter registado baixas no que diz
respeito às receitas resultantes das taxas de cargas. Sem entrar em detalhes, a
gerente da Maning Nice disse que o volume de cargas baixou. Grande parte dos
viajantes com destino à capital do país é constituída por pessoas que
sobrevivem da actividade comercial. Elas compram na região norte camas,
cadeiras e outros utensílios de grande valor e revendem-nos nos principais
centros comerciais da cidade de Maputo e outras províncias da zona sul.
O fluxo reduzido da
carga é visível nas terminais de passageiros da Padaria Nampula e do mercado de
Nalokho, onde os operadores lamentam o facto de não ter rendimentos suficientes
para o sustento das respectivas famílias. Os estivadores, também, estão
revoltados com a situação da redução do fluxo de transportes, porque fazem da
actividade fonte do seu pão de cada dia. As consequências dos conflitos armados
não só afectam os operadores dos transportes de carga, mas também os
comerciantes formais e informais que se dedicam à venda de diversos objectos
tradicionais, e não só.
Produtos
deterioram-se nos celeiros
O director
provincial de Agricultura, Pedro Dzucule, disse que uma quantidade não
especificada de produtos agrícolas se encontra a deteriorar-se nos celeiros de
potenciais produtores da província de Nampula devido à falta de escoamento por
causa da instabilidade política. Por exemplo, o amendoim, o milho e o feijão
são alguns dos produtos alimentares que Nampula fornece aos principais mercados
da zona sul do país.
Os supostos homens
armados da Renamo atacam, principalmente, os camiões que transportam carga e
pessoas indefesas. Há receio em investir em transacções por parte dos intervenientes
no processo de comercialização, porque temem que o esforço seja em vão. O
distrito de Meconta, que lidera a lista dos grandes produtores de amendoim a
nível desta província, está a registar significativos prejuízos naquela cultura
oleaginosa.
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