terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Moçambique: “Podem contar connosco nas futuras eleições”, diz Afonso Dhlakama

 


O líder do maior partido da oposição em Moçambique, Afonso Dhlakama, abriu a porta à participação da Renamo nas eleições presidenciais e legislativas do próximo ano, depois de ter boicotado as municipais de novembro passado.
 
Numa entrevista à Lusa por telefone, e falando de um local desconhecido "mas em Moçambique", Dhlakama fez depender a participação do seu partido nas eleições gerais de uma nova lei eleitoral e não, como anteriormente, de um extenso pacote reivindicativo, que não foi aceite, levando a Renamo a boicotar as municipais.
 
"Essa palavra ‘boicote' não está boa, nada. É exigência da democracia própria, aquela que em Portugal vocês têm participado. O que houve não são eleições, são uma fantochada, as eleições não podem ser contestadas por mais de nove pequenos partidos, todos a dizerem que foi uma fantochada, com um único partido, a Frelimo, a dizer que correu bem", disse o líder da Renamo.
 
"Gostaríamos de participar” mas “há trabalho que deve ser feito antes: aprovar a nova lei eleitoral e resolver algumas coisas que têm impedido de facto a democracia neste país", acrescentou o líder da Renamo.
 
Afonso Dhlakama foi expulso pelo exército da sua base de Sandjundjra, em outubro, e, desde então, não mais foi visto, tendo o seu partido boicotado as eleições municipais de 20 de novembro, que se saldaram numa grande subida eleitoral do MDM, uma dissidência da Renamo, que conquistou três das quatro maiores cidades do país.
 
Mesmo assim, Dhlakakma não se arrepende da ordem que deu para a não ida às urnas.
 
"A Renamo sente-se muito orgulhosa porque havia gente que não acreditava na capacidade de mobilização. Mais de 80 por cento dos eleitores não foram às urnas e isso foi uma vitória da Renamo. Quem saiu a ganhar, de facto, fomos nós porque, politicamente, a maioria, 85%, ficou para a Renamo, 12% é que ficou com a Frelimo e o MDM", disse, mantendo que o MDM não subiu à custa do seu partido.
 
"Absolutamente, embora esteja a apanhar boleia, mas, na verdade, não acredito que o MDM queira ganhar só porque a Renamo não está a participar nas eleições. A Renamo é um partido, com a sua história, se o MDM fosse uma alternativa à Renamo acredito que as populações tinham ido em massa votar e, se calhar, teria ganho 15 ou 20 municípios", disse Dhlakama.
 
Se a Renamo participar nas gerais, o seu líder deverá ser, novamente o candidato do partido a Presidente da República.
 
Até agora, apenas Daviz Simango, presidente do MDM, avançou como candidato, e a Frelimo, partido no poder, iniciou um processo de seleção que envolve três pré-candidatos, um dos quais, José Pacheco, que é o chefe da equipa de negociadores do governo nas reuniões inconclusivas, com a Renamo, sobre a lei eleitoral.
 
"Não costumo comentar as coisas da outra casa mas, como cidadão moçambicano que tenho sofrido muito, é lamentável que o PR coloque o Pacheco nas negociações", disse Dhlakama.
 
"Nada irá mudar, porque se o Pacheco sabe que o chefe dele ganha com roubo, porque esta lei eleitoral não permite qualquer oposição, não estou a ver o Pacheco no centro Joaquim Chissano (onde se realizam as reuniões entre governo e Renamo) a proceder bem", disse Dhlakama.
 
Além do ministro da Agricultura, fazem parte da pré-seleção da Frelimo o primeiro-ministro, Alberto Vaquina, e o ministro da Defesa, Filipe Nyussi.
 
"O Guebuza vai mandar pôr aqui um miúdo, esse miúdo não vai mandar, vai ser um corta-fita e o Guebuza continuará a mandar", concluiu Dhlakama.
 
LAS // PJA – Lusa – foto António Silva
 

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