O líder do maior
partido da oposição em Moçambique, Afonso Dhlakama, abriu a porta à
participação da Renamo nas eleições presidenciais e legislativas do próximo
ano, depois de ter boicotado as municipais de novembro passado.
Numa entrevista à
Lusa por telefone, e falando de um local desconhecido "mas em
Moçambique", Dhlakama fez depender a participação do seu partido nas
eleições gerais de uma nova lei eleitoral e não, como anteriormente, de um
extenso pacote reivindicativo, que não foi aceite, levando a Renamo a boicotar
as municipais.
"Essa palavra
‘boicote' não está boa, nada. É exigência da democracia própria, aquela que em
Portugal vocês têm participado. O que houve não são eleições, são uma
fantochada, as eleições não podem ser contestadas por mais de nove pequenos
partidos, todos a dizerem que foi uma fantochada, com um único partido, a
Frelimo, a dizer que correu bem", disse o líder da Renamo.
"Gostaríamos
de participar” mas “há trabalho que deve ser feito antes: aprovar a nova lei
eleitoral e resolver algumas coisas que têm impedido de facto a democracia
neste país", acrescentou o líder da Renamo.
Afonso Dhlakama foi
expulso pelo exército da sua base de Sandjundjra, em outubro, e, desde então,
não mais foi visto, tendo o seu partido boicotado as eleições municipais de 20
de novembro, que se saldaram numa grande subida eleitoral do MDM, uma
dissidência da Renamo, que conquistou três das quatro maiores cidades do país.
Mesmo assim,
Dhlakakma não se arrepende da ordem que deu para a não ida às urnas.
"A Renamo
sente-se muito orgulhosa porque havia gente que não acreditava na capacidade de
mobilização. Mais de 80 por cento dos eleitores não foram às urnas e isso foi
uma vitória da Renamo. Quem saiu a ganhar, de facto, fomos nós porque,
politicamente, a maioria, 85%, ficou para a Renamo, 12% é que ficou com a
Frelimo e o MDM", disse, mantendo que o MDM não subiu à custa do seu
partido.
"Absolutamente,
embora esteja a apanhar boleia, mas, na verdade, não acredito que o MDM queira
ganhar só porque a Renamo não está a participar nas eleições. A Renamo é um
partido, com a sua história, se o MDM fosse uma alternativa à Renamo acredito
que as populações tinham ido em massa votar e, se calhar, teria ganho 15 ou 20
municípios", disse Dhlakama.
Se a Renamo
participar nas gerais, o seu líder deverá ser, novamente o candidato do partido
a Presidente da República.
Até agora, apenas
Daviz Simango, presidente do MDM, avançou como candidato, e a Frelimo, partido
no poder, iniciou um processo de seleção que envolve três pré-candidatos, um
dos quais, José Pacheco, que é o chefe da equipa de negociadores do governo nas
reuniões inconclusivas, com a Renamo, sobre a lei eleitoral.
"Não costumo
comentar as coisas da outra casa mas, como cidadão moçambicano que tenho
sofrido muito, é lamentável que o PR coloque o Pacheco nas negociações",
disse Dhlakama.
"Nada irá
mudar, porque se o Pacheco sabe que o chefe dele ganha com roubo, porque esta
lei eleitoral não permite qualquer oposição, não estou a ver o Pacheco no
centro Joaquim Chissano (onde se realizam as reuniões entre governo e Renamo) a
proceder bem", disse Dhlakama.
Além do ministro da
Agricultura, fazem parte da pré-seleção da Frelimo o primeiro-ministro, Alberto
Vaquina, e o ministro da Defesa, Filipe Nyussi.
"O Guebuza vai
mandar pôr aqui um miúdo, esse miúdo não vai mandar, vai ser um corta-fita e o
Guebuza continuará a mandar", concluiu Dhlakama.
LAS // PJA – Lusa –
foto António Silva
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