Pedro Raínho –
jornal i
Bruno Maçães
recusou uma frente de países do Sul. Imprensa grega ficou surpresa com a
proximidade à posição alemã
A visita do
secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros à Grécia há uma semana valeu a
Bruno Maçães a qualificação de "o alemão" na imprensa helénica.
No dia seguinte à
passagem do governante pela capital grega, onde participou numa mesa--redonda
sobre o tema "Governância económica e crise europeia", dois diários
do país publicaram artigos de opinião expressando surpresa com a proximidade do
discurso de Maçães à posição alemã. O secretário de Estado recusou a ideia de
uma união de esforços a sul - nomeadamente entre os países intervencionados,
mas contando também com a Itália ou a França. Os dois jornais sublinharam a
falta de "solidariedade" com os países da União que defendem um
caminho diferente do da Alemanha.
No final do
encontro, promovido pela embaixada de Portugal em Atenas e pela Fundação
Helénica para a Política Europeia e Estrangeira (ELIAMEP), Bruno Maçães
respondeu a algumas questões da comunicação social que fazia a cobertura do
evento. Um dos jornalistas aí presentes conta ao i que a reacção às palavras do
secretário de Estado foi de "bastante surpresa" porque "se
mostrou resolutamente contra uma frente europeia do Sul na zona euro".
Bruno Maçães terá ainda defendido que as questões fiscais no seio da União
devem ser tratadas a nível nacional, ao mesmo tempo que se mostrou a favor de
uma política económica comum entre os estados-membros, apesar de não concordar
com a criação de um lugar de ministro da Economia para a zona euro.
"Ficámos
verdadeiramente desiludidos, porque tínhamos a expectativa de encontrar um
amigo da periferia europeia que se revelou um rigoroso académico sem qualquer
solidariedade com um país com problemas semelhantes ao seu", diz um dos
jornalistas que confrontaram Maçães com o resultado do encontro entre os
líderes francês e italiano. No dia anterior ao do encontro em Atenas, François
Hollande e Enrico Letta participaram numa cimeira bilateral em Itália. No
final, Letta assumiu que a aposta numa "capacidade fiscal" da zona
euro como um todo "representa um grande objectivo". A união de
esforços entre os dois países contra a posição alemã da União Europeia levou à
divulgação de uma declaração conjunta, no final do encontro, onde os
governantes defendiam uma "maior harmonização" fiscal que dê à zona
euro uma "capacidade financeira real" para investir na economia e
criar mais emprego - ideias já rejeitadas pela Alemanha.
A reacção dos
jornais helénicos à "posição germânica" do secretário de Estado
português aconteceu no dia seguinte. No diário "Ta Nea" - próximo do
partido socialista grego (PASOK) -, um editorial não assinado, mas cuja
responsabilidade cabe em regra à editoria de política, referia-se ironicamente
à "boa solidariedade" de Bruno Maçães, apresentado como um português
que "fez de alemão". Um governante que o jornal considera ser
"mais troikano que os troikanos", por considerar que não deve ser
pedido mais tempo para os países intervencionados executarem as reformas
exigidas pelos credores internacionais.
No outro diário que
focou a intervenção do secretário de Estado, o "E Kathimerini",
Maçães é também descrito como "mais alemão que os alemães" por
"proclamar com paixão quão importante é a disciplina fiscal".
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