Eduardo Oliveira
Silva – jornal i, opinião
Mesmo que não mude
nada, pode ser útil e levantar algumas lebres
Existe a intenção
de se constituir mais uma comissão de inquérito, agora a propósito do complexo
dossiê dos Estaleiros de Viana do Castelo e das peripécias que os trouxeram
para a mais recente (que talvez não última) solução, com o envolvimento da
Martifer.
É realmente um caso estranho e de contornos surrealistas este que tem rodeado os estaleiros e soluções mais ou esdrúxulas, que se prendem com a vida de largas centenas de trabalhadores e de toda uma envolvente urbana de que são o epicentro e em certa medida o sustento.
Neste processo
houve de tudo: um barco de milhões construído para navegação interilhas nos
Açores, que, rejeitado, está encostado na Margem Sul de Lisboa, patrulhões que
não se fizeram, barcos para a Venezuela que ficaram pelo caminho e mais umas
quantas coisas que não vêm para o caso.
O que vem, sim, é a ideia de criar uma comissão de inquérito parlamentar para, finalmente, averiguar o que se passou e como se chegou aqui. Basicamente é o PCP que defende a ideia, até porque sabe que nunca esteve directamente envolvido na gestão dos estaleiros, ao contrário do que se passa com partidos e figuras do chamado arco da governação.
O PCP está portanto nas suas sete quintas – sobretudo se na matéria de inquérito parlamentar ficarem de fora as atitudes muitas vezes irresponsáveis e de mero boicote tomadas por comissões de trabalhadores e sindicatos que não quiseram colocar-se numa posição construtiva, como, por exemplo, sucede em Palmela, naquela que é uma das mais bem sucedidas fábricas da Volkswagen em todo o mundo.
Com tudo o que
aconteceu ao longo dos anos e recentemente nos Estaleiros de Viana, fica-se
mais com a sensação de que o todo o processo deveria ser tratado directamente
pelo lado da justiça, em vez de se enredar pelos complexos mecanismos das
comissões parlamentares.
Ao longo da nossa
breve democracia houve comissões para tudo e mais alguma coisa que pouco ou
nada esclareceram. Foi o caso das duas dezenas de comissões sobre Camarate. É
agora o mesmo com a dos swap, em que a única coisa que se confirma é que o país
perdeu muitos milhões sem que, objectivamente, se saiba quem foi o pai da
monstruosidade. Veja-se também a comissão de inquérito às PPP e mais umas
quantas que nunca tiveram efeitos esclarecedores, talvez com a honrosa excepção
da comissão ao caso BPN, que permitiu conhecer algumas malfeitorias à volta do
caso, o que não impediu que tivéssemos colectivamente de pagar qualquer coisa
como 6 mil milhões de euros, até ver.
No tempo da outra senhora dizia-se que quem não queria averiguar nada criava uma comissão. A experiência mostra que os tempos não mudaram muito. Apesar de tudo, talvez valha a pena insistir nesse instrumento político para que certas opacidades se diluam um tanto, embora seja altamente improvável que ali se faça luz sobre algumas coisas. Quando muito podem levantar-se lebres, como se diz agora nestes tempos de caça. Venha lá então a comissão de inquérito…
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