terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Secreta australiana faz rusga a escritório de advogado que defende Timor-Leste...

 

... nas acusações de espionagem
 
Díli, 03 dez (Lusa) - O advogado que representa Timor-Leste na arbitragem internacional relativa ao caso das acusações de espionagem contra a Austrália denunciou hoje que elementos da secreta australiana revistaram o seu escritório alegando razões de segurança nacional.
 
Em declarações à imprensa australiana, o advogado Bernard Collaery disse que vários agentes realizaram uma busca hoje à tarde ao seu escritório em Camberra e que levaram consigo vários ficheiros eletrónicos e documentos em papel.
 
O advogado refere à imprensa australiana que os homens se identificaram como sendo dos serviços de informação australianos, tendo recusado mostrar um mandado de busca, alegando que a operação está relacionada com "segurança nacional".
 
"Passaram algumas horas a confiscar todos os documentos e outros registos com base de que era uma questão de segurança nacional", afirmou o advogado, citado na imprensa.
 
"Não tenho maneira de conhecer neste momento a base legal destas ações sem precedentes. Realizarem uma rusga ao meu escritório à procura de evidências que estão para ir para a mesa de Haia (Tribunal Internacional", acrescentou o advogado, que se encontra em Haia.
 
Bernard Collaery disse também que uma testemunha chave relacionada com o caso timorense, um antigo espião, foi detido numa outra rusga em Camberra.
 
Timor-Leste acusou formalmente a Austrália, em final de 2012 junto do Tribunal Internacional de Haia, de espionagem quando estava a ser negociado o Tratado sobre Certos Ajuste Marítimos no Mar de Timor, em 2004.
 
Na sequência da queixa apresentada pelos timorenses foi criada uma arbitragem internacional, que vai reunir pela primeira vez esta semana.
 
Timor-Leste insiste que devido à espionagem os australianos tiveram acesso a informação confidencial sobre o petróleo e o gás no Mar de Timor, relevante para os negociadores timorenses, e que prejudicaram o país durante as negociações do Tratado sobre Determinados Ajustes Marítimos no Mar de Timor (CMATS), assinado em 2006.
 
Com a arbitragem internacional, Timor-Leste pretende ver o tratado anulado, podendo assim negociar a limitação das fronteiras marítimas e, assim, tirar todos os proveitos da exploração do Gretaer Sunrise.
 
Aquele campo de gás está situado a cerca de 100 quilómetros da costa sul marítima timorense e, segundo peritos internacionais, se forem delimitadas as fronteiras marítimas de acordo com a lei internacional o Greater Sunrise ficará situado na zona exclusiva económica de Timor-Leste.
 
O CMATS determina que os resultados da exploração do Greater Sunrise, que vale biliões de dólares, são repartidos igualmente entre os dois países e impede a definição das fronteiras marítimas entre Timor-Leste e a Austrália durante um período de 50 anos.
 
A imprensa australiana refere também que o procurador-geral George Brandis disse, em comunicado, que autorizou várias rusgas hoje em Camberra.
 
"Confirmo que hoje, a ASIO (como são conhecidos os serviços de informação australianos) executaram várias rugas em Camberra e ficaram na posse de vários documentos. As rusgas foram autorizadas por mim pelo motivo de que os documentos contêm informação relativa a questões de segurança", refere.
 
No comunicado, o procurador-geral refere também que as alegações de que rusgas pretendem afetar ou impedir a arbitragem entre a Austrália e Timor-Leste são erradas.
 
Para o advogado Bernard Collaery, a rusga é uma forma "óbvia e vergonhosa" de impedir que a justiça seja feita em relação a Timor-Leste.
 
"Deixei a Austrália há 24 horas. Houve muitas oportunidades, tenho a certeza, de executar as rusgas quando ainda lá estava para lidar com a situação", disse.
 
O advogado refere também que os documentos confiscados incluem provas da colocação de escutas pela Austrália na sala do Governo timorense onde decorreram as negociações.
 
Bernard Collaery disse ainda que tem as provas consigo em Haia e que a rusga não provocará grandes danos no caso de Timor-Leste.
 
A Lusa está a tentar obter uma reação do Governo timorense, mas ainda não foi possível.
 
MSE // VM - Lusa
 

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