Arnaldo Santos –
Jornal de Angola, opinião
Tende a querer
explicar-se que os tumultos ocorridos nas cadeias de Luanda e que já provocaram
muitos mortos e demasiados sofrimentos se devem, em última instância, ao
alargado convívio dos homens com a violência ao longo destes últimos 30 anos.
A violência seria
ela mesma causa e consequência das dantescas cenas de repressão dos presos
amotinados, fartamente divulgadas pelas redes sociais.
A atender a este ponto de vista, teria que se ter em muito pouca conta a Humanidade que enfrentou guerras tremendas no decorrer da sua existência. Assim também, não teríamos razões válidas para analisar criticamente a actuação dos responsáveis da nossa Justiça e mais concretamente os que superintendem o sistema prisional. A realidade comprovou que há muito a fazer nessa área social que tem merecido pouca atenção. Não é fácil depararmo-nos com esta outra face do nosso país quando diariamente nos confrontamos com esses pesadelos.
É claro que não é com discursos moralistas que já deixaram de apiedar as consciências que se vão operar as transformações indispensáveis à reintegração social dos reclusos. Os novos estabelecimentos prisionais e os estudos competentes com o apoio dos sociólogos e psicólogos destinados a esse fim, devem constar de programas discutidos no Parlamento que, afinal, também representa os interesses dos presos das cadeias de Luanda, cuja situação envergonha a todos os calús, mas também, suponho, os residentes da Metrópole luandense. Não há nesta atitude nenhuma sobranceria quijilosa do género “estão-se achar, só porque no tempo dos tugas sofreram nas cadeias…!” . Não é isso.
É que tem gente cujos pontos de vista vão para além da visão da violência tout court do criminoso que desata aos tiros nas escolas e supermercados, ou do terrorista que se faz explodir no meio de gente pacífica. Essa gente pensa que violência é um processo de interacção que pode causar danos ou ameaçar o futuro das pessoas, ou ainda tudo o que interage com o que não é justo.
No entanto, e vamos lá a saber porque razões misteriosas, nem sempre o uso da razão contra a injustiça, como nos casos de resistência à ocupação colonial, não é encarada de forma correcta. Na linha desse pensamento e sobre o teor das diferentes formas de violência, há motivos para a nossa sociedade se preocupar. Não tanto pelo seu presente (que não é igual para todos, é verdade), mas pelas gerações que nos sucederão nesta Angola que “nos emprestaram para viver até que as receitas do petróleo durem”, no dizer de alguns maduros que ainda se interessam em fazer lúcidas análises económicas. Deste modo e na sequência da supressão de verbas do OGE destinadas às áreas sociais e ao ensino de base, vê-se com muita estranheza que se mantenham desperdícios avultados e subsídios que favorecem mais a quem menos precisa.
Não foi Severino “Pacaça” que assim falou e menos ainda os que afirmam que entre os grandes beneficiários dessa política estão sobretudo os empresários do Brasil.
Na realidade, mau grado este país ter sido o primeiro a reconhecer a nossa Independência, subsistem preconceitos que se despoletam ao primeiro sinal. O caso divulgado pela sua televisão estatal (ou tida como tal – a TV Globo) sobre os empresários corruptos de ambos os países envolvidos na traficância de prostitutas, denota isso: creio ter havido também uma intenção subjacente de conspurcar o nome de gente merecedora de respeito no nosso país.
Essa é outra forma de violência que também assusta as famílias nas quais a nossa Nação se tem que apoiar para não desaparecer.
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