Pragmatismo Político
Discurso de duas
horas do presidente do Supremo fez reitor da Universidade de Londres cair no
sono. Passagem de Joaquim Barbosa foi financiada pelo STF; ele recebeu R$ 14
mil em diárias para 10 dias de passeio pela Europa
Joaquim Barbosa,
conhecido por seus longos e acalorados debates na Presidência do Supremo
Tribunal, passou por um constrangimento em Londres. Em palestra no King’s
College, o reitor da Universidade, Rick Trainor, caiu no cochilo durante o
discurso de duas horas de Barbosa sobre o funcionamento da Corte brasileira.
A passagem de
Barbosa pelo evento foi financiada pelo STF. Ele recebeu R$ 14 mil em diárias
para 10 dias de passeio pela Europa, nos quais teve apenas dois compromissos
oficiais, em Paris e Londres.
A repórter Patrícia
Dantas cobriu a palestra de Joaquim Barbosa em Londres para o portal DCM. Confira abaixo o seu relato:
Patrícia Dantas
O presidente do STF
fechou sua temporada de três dias em Londres com uma palestra-aula no King’s
College. Barbosa não deu entrevistas à imprensa antes ou depois e adotou um tom
mais cauteloso do que seu padrão.
Apesar do frio de 5
graus e da chuva, o King’s College teve de disponibilizar uma sala extra com
transmissão por streaming no Safra Lecture Theater. O salão principal teve seus
253 lugares tomados (o evento foi aberto e gratuito). Algumas pessoas ficaram
em pé. Barbosa proibiu qualquer tipo de questionamento relacionado aos casos
que ainda estão em andamento no Supremo. O diretor do King’s Brazil Institute,
Anthony Pereira, deixou isso claro ao apresentar o palestrante. Segundo os
organizadores, ele não recebeu cachê.
JB abriu a noite
explicando como é escolhido o presidente do STF. ”O chefe da Suprema Corte não
é eleito pelo presidente da República, mas sim pelos seus pares desde 1890″,
disse. A conversa foi toda num inglês correto, com alguns termos jurídicos em
português. “É importante para evitar a personalização e centralização do poder
em apenas em um juiz. Fico muito feliz pelo Brasil ter adotado esse sistema
desde o início”.
O tom,
especialmente no início, foi monótono, com longas pausas reflexivas. O reitor,
Rick Trainor, não aguentou e cochilou. No final, houve uma sessão de 40 minutos
reservada às perguntas do auditório. Eu pude perguntar, se ele pretendia se
candidatar a presidente.
Não respondeu de
imediato. Preferiu passar a outras questões formuladas pelo público. Voltaria
depois ao assunto da presidência. “A plateia me perguntou se eu sou candidato e
eu ainda não respondi”, disse. “E, afinal, quer?”, ouviu-se no auditório
repleto de brasileiros.
“Quero!”, afirmou
ele, em tom irônico. Houve uma certa surpresa. Em seguida, esclareceu que
estava fazendo uma piada. “Muitas pessoas se aproximam de mim nas ruas ou
lugares públicos dizendo que eu deveria ser candidato. Nunca fui um político ou
afiliado a qualquer partido político. Até mesmo na época da faculdade, também
nunca participei de nenhuma militância política. Então, a resposta é não”.
Sobre racismo, ele
disse o seguinte: “A maioria das pessoas que sofrem com a pobre educação no
Brasil são negras. Negros moram em favelas, têm os trabalhos que pagam menos.
Todos os indicadores apontam que esse é um dos problemas-chave na política
brasileira. Brasileiros brancos não querem discutir isso. A TV no Brasil parece
a TV da Dinamarca. Precisamos lidar com o assunto logo”.
Sobre uma visita
recente que teria feito ao presídio de Pedrinhas, no Maranhão: “Políticos não
se importam com esses assuntos porque isso não traz nenhum retorno, dividendos
ou votos. Esta é a razão pela qual as prisões estão nesta situação. São como o
inferno. Os governos alegam que não têm equipe suficiente para construir os
presídios”.
Alguém quis saber
se, sendo um “intelectual com ideias bastante progressistas”, ele não se
incomodava em ser transformado em “herói” pela maioria dos grupos conservadores
no Brasil. Barbosa: “Não me importo com quem aprecia meu trabalho, conservador
ou liberal. Eu faço o que acho que é certo. Sou uma pessoa realmente cautelosa.
Minha orientação é fazer o que é preciso ser feito. Se liberais gostam do que
faço, tudo bem, mas eu realmente não me importo com isso”.
Encerrada a
apresentação, Barbosa posou para fotos com a galera. Ficou calado e fez cara de
exclamação quando um jornalista indagou se assinaria o mandado de prisão do
deputado federal João Paulo Cunha quando voltasse das férias (aliás, não havia
nenhum profissional da mídia internacional).
O gelo só foi
quebrado quando alguém perguntou se ele iria tomar uma “pint”, a tradicional
cerveja inglesa servida nos pubs. “Aí, sim”, disse Joaquim Barbosa, escoltado
por seguranças e por seu assessor pessoal em direção à saída.
com Brasil 247 e DCM
Na foto: O reitor
Rick Trainor (esq.) em sua soneca
1 comentário:
Pessimo jornalista esse em busca de puro sensacionalismo o autor do titulo dessa noticia. Estive presente no referido e bem concorrido evento escutado tanto com muita atencao como interrompido por aplausos e risadas em sequencia de alguma intervencao mais forte ou humoristica do palestrante e sequer me apercebi do alegado cochilo do reitor. E mesmo que tivesse ocorrido, reduzir temas serios tratados pelo ministro Barbosa a um cochilo do reitor, mostra a qualidade de certo jornalismo brasileiro, sensacionalista, racista e preconceituoso. Perante uma plateia internacional Joaquim Barbosa tocou em cheio na ferida que mais fede na sociedade brasileira e que se chama racismo. Falou tambem da perigosa ligacao entre religiao e politica no Brasil. Qualquer bom jornalista teria feito de um desses temas a grande manchete. Mas preferiu-se a alegada sonolencia de um reitor ou a nao novidade do estado de horror em que ha muito se encontram as prisoes brasileiras. Lamentavel!!!
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