O
ex-primeiro-ministro guineense, Carlos Gomes Júnior, desdramatizou hoje a
reação de militares, que entraram sem autorização em instalações da ONU, a
rumores da sua presença na Guiné-Bissau, afirmando que não tem de responder a
"subordinados".
Numa entrevista
conjunta à RTP África e à agência Lusa na Cidade da Praia, onde reside há cerca
de dois meses, Carlos Gomes Júnior considerou "patética" a atuação
dos militares em Buba, cidade do sul da Guiné-Bissau, que, além de terem
entrado nas instalações locais da ONU, ainda revistaram o carro do enviado
especial das Nações Unidas para o país, o antigo presidente timorense José
Ramos Horta.
Questionado sobre
se esteve, de facto, em Buba, o também, formalmente, presidente do Partido
Africano da Independência a Guiné e Cabo Verde (PAIGC) respondeu que não,
indicando que esteve no México a participar numa conferência internacional em
que estiveram presentes alguns ex-ministros portugueses, como Miguel Relvas e
António Dias Loureiro.
"Cheguei no
sábado à noite (à Cidade da Praia). Não sei como posso estar no México, a 18 ou
20 horas de voo, e estar ao mesmo tempo em Buba. Só se for um fantasma. São
situações que levam a uma análise patética de uma situação em pleno século
XXI", afirmou.
"Eles conhecem
bem o Carlos Gomes Júnior. Não respondo a subordinados. Sou o chefe, sou o
primeiro-ministro legítimo da Guiné-Bissau. Não tenho medo de assumir as minhas
responsabilidades", acrescentou, depois de questionado sobre se o
"aviso" feito pelos militares à sua segurança foi recebido.
Sobre o incidente,
considerou-o mais um "acidente de percurso, que infelizmente, já começam a
ser demasiados".
Carlos Gomes Junior
aludiu também ao caso do embarque forçado num avião da TAP de 74 cidadãos
sírios com passaportes turcos falsificados.
"Esse tipo de
comportamento não é normal. Mas não é a primeira vez que esses acidentes acontecem",
afirmou, considerando "extremamente grave e inadmissível" o caso dos
cidadãos sírios.
"Isso
demonstra como a situação se aproxima do caos, em que cada um tenta saltar do
barco e fazer as coisas à sua maneira. Se virmos o que aconteceu a 11 de setembro
(de 2001) nos Estados Unidos, como se pode meter passageiros que foram
identificados de forma caótica a entrar num voo internacional? Não é normal. O
Governo (guineense) deveria ter pedido desculpas às autoridades portuguesas,
sentar à mesa e arranjar outra forma de controlo de maior segurança",
defendeu.
A título pessoal,
Carlos Gomes Júnior disse ter sido alvo de quatro tentativas de assassinato.
"Na primeira,
tive de refugiar-me na sede das Nações Unidas (em 2007). Nos acontecimentos de
01 de abril (2010), em que pela primeira vez na história de África o povo saiu
à rua para exigir a libertação imediata do primeiro-ministro, a 26 de dezembro
de 2010) e a 12 de abril (de 2012)", referiu.
Carlos Gomes Júnior
defendeu a "urgência" da implementação da reforma no setor da Defesa
e Segurança, bem como da necessidade de umas Forças Armadas republicanas e que
"obedeçam" ao poder político.
"Uma pessoa
(militar) não se pode sentar de manhã e, à noite, resolver tomar uma decisão
(golpes de Estado). Num Estado de Direito, com responsabilidades junto da
comunidade internacional, temos de criar instituições credíveis, para que se
possa fazer uma cooperação séria com os parceiros de desenvolvimento",
defendeu.
JSD // JMR – Lusa,
em Diário de Notícias
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