Verdade (mz), em
Tema de Fundo
A figura de Armando
Emílio Guebuza, Presidente de Moçambique, foi enaltecida em marcha – com
direito a sumos, sopa e refrescos– pelos “militantes” da Frelimo. O seu nome
foi e está a ser polido de tudo que o possa manchar de modo a preservar a
popularidade do início do seu primeiro mandato para que, de tal modo, continue
a receber honras pela esperança que um dia significou para o povo quando
prometeu combater o “deixa-andar”. A luta consiste em colocar e perpetuar
Guebuza numa lista de figuras míticas recorrendo a uma das técnicas mais
antigas de manipulação da opinião pública: o culto da personalidade.
Uma mancha vermelha
atravessou Maputo e, ao contrário do que se pretendia, consagrou a
impopularidade do actual Presidente da República (PR), Armando Emílio Guebuza.
A acção que visava enaltecer os feitos do actual PR não foi capaz de maquilhar
o desgaste da imagem do líder do país. Os opositores mais enérgicos e viscerais
levantavam a voz nas redes sociais enquanto o uso de bens do Estado deixava
claro o desespero dos organizadores...
“Havia um número
elevado de autocarros da TPM, da FEMATRO e da ETRAGO. Achais que estavam lá
pela militância dos respectivos condutores? Ou pretendeis que fervorosos
militantes os fretaram? Não foi isso. Foram os vossos impostos que
transportaram aqueles carneiros todos, que preferiram perder um dia de
amor-próprio do que um de salário. Por isso houve quem dissesse que não sabia o
que se estava a comemorar. Talvez tivesse sido melhor em tempo de aulas, em
homenagem às borlas para a rapaziada”, sintetizou um cidadão sobre o espírito
da marcha de exaltação.
A ignorância das
pessoas em relação aos objectivos da marcha tão-pouco passou despercebida. “Eu
não vim porque quis, fui obrigado”, diziam em contraposição ao mastodôntico
discurso oficial pregado pelos defensores do regime. As imagens aéreas não
deixam lugar para dúvidas. Tratou- se de uma marcha raquítica e repleta de
senhoras e um punhado de jovens fiéis ao partido Frelimo. Um número muito aquém
dos 20 mil esperados.
Efectivamente, a
marcha organizada pelo partido Frelimo, no sábado último, para a exaltação do
Chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, pelos seus “feitos” nos seus dois
mandatos e homenagem pelo seu 71º aniversário natalício, serviu principalmente
para tornar evidente o que já se sabia, mas que algumas pessoas ainda teimam em
não reconhecer: a impopularidade do Presidente da República perante o povo que
dirige.
Mesmo com a
disponibilização de meios de transporte para a deslocação gratuita de pessoas
que iriam tomar lugar na marcha, o tiro acabou por sair pela culatra. Estavam
no locam autocarros de escolas públicas. Numa fila @Verdade contabilizou cinco
autocarros.
A Escola Secundária
Franscisco Manyanga disponibilizou um autocarro com chapa de inscrição MLX-93-29.
O Instituto Comercial fez-se representar com um carro de 25 lugares com a
matrícula MMZ-07-18. A Direcção da Educação e Cultura da Cidade de Maputo levou
o EAA 157 MC. A empresa TPM esteve presente com cinco autocarros e a Direcção
Provincial de Plano e Finanças de Maputo disponibilizou uma viatura.
Enquanto, os
organizadores estavam na expectativa de juntar não menos de 20 mil pessoas na
Praça da Independência, a realidade tratou de mostrar que a população da cidade
e província de Maputo, e não só, não simpatiza com Guebuza. Ou seja, menos de
dez mil pessoas estiveram presente no local. Aliás, estima-se que tenham sido
cerca de cinco mil.
Homenagear Guebuza
pela obra feita durante os dois mandatos da sua governação e comemorar a seu
aniversário foi o móbil oficial que levou à realização da marcha. Lavar a
imagem do PR que se encontra demasiado desgastada é o que ficou explícito nos
discursos dos “camaradas”. O secretário-geral da Frelimo, Filipe Paúde,
condenou os críticos de Guebuza e o primeiro secretário desta organização a
nível da cidade de Maputo repudiou o que chama de “tentativa de empurrar o povo
moçambicano contra o seu Presidente”.
A caminhada iniciou
às 8h00, na estátua do arquitecto da Unidade Nacional, Eduardo Mondlane, e foi
desembocar às costas da estátua do primeiro Presidente de Moçambique
independente, Samora Machel, na Praça da Independência. Já na praça, quando se
esperava pela chegada de mais pessoas para corporizarem a multidão que se
encontrava ao sol escaldante, mais ninguém chegou, senão um número pouco
significativo de participantes.
Disseram que
vínhamos ver Guebuza
O ambiente de
concórdia que reinou antes, durante e depois da marcha não foi suficiente para
disfarçar os rostos de decepção com que ficaram alguns grupos de cidadãos que,
com argumentos falsos, foram arrastados para participarem na marcha. Segundo
contaram alguns grupos, aquando do convite para fazerem parte do evento, os
chefes de quarteirão alegavam tratar-se de um encontro de despedida do
Presidente da República, um vez que o seu mandato já está na recta final.
Porém, contra essa expectativa, Armando Guebuza não esteve no local.
“O que nos disse o
chefe de quarteirão do bairro de Hulene “B” foi que papá Armando Guebuza queria
despedir-se porque está a terminar o mandato e nós vínhamos ouvi-lo e pedir-lhe
paz, mas estamos a ver que ele não está”, conta Luísa Massango, sentada à
sombra do muro do edifício do Tribunal Administrativo e para quem a governação
de Guebuza foi normal, pois ninguém consegue fazer tudo. A adolescente de nome
Etelvina Geraldo confirma a expectativa da outra entrevistada ao afirmar que a
sua ida à Praça da Independência tinha em vista a interacção com o PR que,
segundo lhe disseram, pretendia conversar com a população sobre a sua saída da
governação do país. “Quando chegámos aqui não vimos o Presidente”.
Por sua vez, o
idoso Paulo Silva Nhanale do posto administrativo de Phessene, distrito de
Moamba, província de Maputo, afirma que ele e o seu grupo foram “pedir ao
Presidente para parar com os conflitos com a Renamo”. Este sabe de ciência
certa e experiência acumulada com o tempo que enquanto existir um conflito
armado, “não será possível manter o desenvolvimento do país”. E mesmo diante da
decepção de não poder, naquele momento, ouvir do Presidente Guebuza possíveis
soluções para a “guerra”, rogou que? sente e converse com a Renamo.
Devemo-nos orgulhar
do PR que temos
O secretário-geral
(SG) da Frelimo, Filipe Paúnde, no seu discurso, depois de percorrer a
biografia de Armando Guebuza na tentativa de mostrar que este é, realmente, uma
figura com credenciais para dirigir os destinos do país, condenou os críticos
do Presidente que reprovam a sua forma de governação. Diz ele que as pessoas
tentam desgastar a imagem do estadista moçambicano, promovendo mensagens
distorcidas e campanhas de insultos.
Paúnde fez
referência à electrificação de 118 distritos do país como sendo o resultado
obra de Guebuza e não mencionou nada sobre a péssima qualidade desta mesma
energia vinda de Cahora Bassa. Disse que actualmente cada um dos distritos tem
pelos menos um médico, o que significa a existência também de unidades
sanitárias. Sobre o diálogo com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, afirmou não
ser verdade que Guebuza esteja a “furtar-se”.
“A Renamo está a matar.
Não se pode dar razão a alguém que mata”, considerou. Na sua apresentação da
mensagem da Frelimo, explicou ainda que a Renamo deve ter a paciência de
esperar pela realização de eleições para alcançar o poder e não tentar obtê-la
pela força das armas. Para Paúnde não é verdade que Guebuza pretende continuar
no poder, tal como avançam alguns círculos da sociedade, muito menos que a sua
esposa poderá vir a substitui-lo.
O SG do “batuque e
maçaroca” entende que Armando Guebuza merece o reconhecimento pelo seu
engajamento na busca de soluções para o desenvolvimento do país e pelos seus
feitos e realizações “indeléveis” em prol do bem-estar dos moçambicanos.
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