Martinho Júnior,
Luanda
1 – A Rússia da era Putin está muito longe da “travessia” que fez com o “tandém” Gorbatchov-Ieltsin na sequência da implosão da União Soviética, quando os “cavalos de Tróia” desembarcavam com armas, bagagens e argumentos de manipulação poderosos em Moscovo, a coberto do “diktat” do capitalismo neo liberal do império e de seus aliados, fez agora dez anos!
A Open Society de George Soros foi a “passadeira” que se estendeu nessa époa, desembocando na Open Russia Foundation e a Yukos, que chegou a ser o consórcio mais forte no campo da energia, foi uma das suas criaturas mais activas, conjuntamente como banco Menatep.
A Rússia de hoje conquistou a vantagem de ter aprendido a lição neo liberal instrumentalizada pela hegemonia unipolar: não só lhe tem dado combate internamente, como nos seus relacionamentos internacionais contraria o jogo da aristocracia financeira mundial com todas as capacidades que possui, algumas delas adquiridas após o fim da era Ieltsin e durante a primeira década, a caminho do preenchimento da segunda, do século XXI!
2 – Rodeando-se duma oligarquia construída a pulso, uma oligarquia suportada pelo capitalismo de estado que soube aglutinar as enormes capacidades científicas e tecnológicas redundantes da experiência da União Soviética, Putin sobressai no plano geo estratégico, tirando partido do imenso espaço euro-asiático russo e dos recursos disponíveis, particularmente dos recursos energéticos.
Tanto a Europa a oeste como a China a leste, têm no petróleo e no gás da Rússia uma exuberante parcela de fornecimentos para suprir as suas necessidades de consumo e isso constitui um factor geo estratégico de peso que Putin não está a negligenciar, nem a desperdiçar…
Na direcção sul por outro lado, o petróleo e o gás russo está a possibilitar delinear uma arquitecura de influências difícil na Ásia Central, em competição com o império e seu cortejo de potências ocidentais, na direcção do Paquistão e da Índia…
Se antes a geo estratégia russa seguiu de leste para oeste os paralelos, agora é a vez dos meridinos, de norte para sul!
As batalhas do Afeganistão, do Paquistão, do Iraque, da Síria e do Irão inscrevem-se, entre outras, na panorâmica das disputas, mas o conjunto dos BRICS, em particular o que conseguem articular a Rússia, a China e a Índia por via da multipolarização, está a ter êxito face à hegemonia unipolar do império, que começa a dar alguns sinais de fraqueza, senão de decadência.
A deriva da administração de Barack Hussein Obama, das alianças com Israel e Arábia Saudita, a favor da distensão em relação ao Irão e à Síria, prognosticam alterações sensíveis a sul da Rússia e em benefício da influência multipolar, onde a Rússia joga aliás um papel preponderante graças ao seu imenso espaço continental euro-siático, à sua preponderância energética e ao desenvolvimento dos seus complexos científicos e tecnológicos.
3 – Para fazer face às disputas a sul do seu imenso terriório (Ásia Ocidental e Central), a Rússia esá a concentrar o seu acervo e arsenal militar e de inteligência a norte, tanto quanto o possível junto ao Árctico, tirando partido da tendência para o aquecimento do planeta e dos seus reflexos ali.
O Árctico, de fraca densidade populacional e com ambientes hostis, possui condições ideais para gerir as capacidades militares e de inteligência estratégica e, à medida que consolida novos programas científicos e tenológicos, a Rússia está a colocar nessas paragens um enorme potncial de persusão e de meios, que por outro lado podem fluir, sempre que necessário, para os outros limites do espaço euro-asiático onde se inscreve a Rússia, tanto na direcção do Atlântio Norte, (desde o Báltico, ao Mediterrâneo e ao Mar Negro), como do Pacífico, como ainda do Índico Norte (e respectivos mares interiores).
4 – De entre as armas que melhor evidenciam a geo estratégia russa está a Marinha de Guerra.
Para quem observa à distância, ainda que com meios e capacidades insuficientes, a leitura do acompanhamento dos dispositivos comporta evidências: se é no Árctico onde ficam resguardados os meios estratégicos principais (bases da península da Kola), é a partir do Árctico que a Rússia gere as regiões marítimas a oste, a sul e a leste, fazendo deslocar os meios principais disponíveis de sua frota de superfície e submarina, sempre que julgar útil ou necessário.
Essa gestão geo estratégica implica factores de dissuasão, de surpreza e até mesmo de desequilíbrio, a favor da Rússia e de suas alianças, pincipalmente nas regiões onde prevalecem as disputas que derivaram de tensões em conflitos de maior ou menor intensidade e escala.
5 – A investigação científica e tecnológica da poderosa indústria de armamento da Rússia está vocacionada à implantação dos principais meios estratégicos no norte, desde os vasos de guerra da Marinha, até às unidades de mísseis, passando pela aviação.
Se os meios são capazes de se adaptar a condições tão difíceis como as do Árctico, então também suportam as condições noutras paragens!
Um exemplo disso é a aquisição de navios multi-funções (polivalentes), da classe Mistral à França: a Rússia quer que eles sejam adaptados às condições do Árctico, o que está a implicar esforços suplementares por parte dos fornecedores, que se vêem obrigados a alterações importantes em relação aos conceitos aplicados, uma vez que essa adaptação implica em mais investigação científica e tecnológica!
Os navios da lasse Mistral que a Rússia vai receber vão sem dúvida ficar mais caros que os similares franceses, mas a Rússia possui com essa experiêncis outro ganho: pode fazer um avaliação sobre as potencialidades ocidentais em relação à adaptação às duras condiçõs do Árctico!
6 – Encontrada a fórmula da resposta geo estratégica face à hegemonia unipolar do império e do seu “modus operandi” capitalista e neo liberal, a Rússia sob regência de Putin vai investir em meios militares e de inteligência mais poderosos e sofisticados nas próximas décadas, até por que essa geo estratégia torna possível uma gestão dos meios reduzindo ao máximo os custos de exploração, face aos quesitos dos enfrentamentos nos vários cenários que contornam a Rússia!
As ambições da Rússia se estão o nível do seu espaço continental euro-asiático, nem por isso estão a desleichar as implicações noutras partes do mundo, tendo em conta que na América do Sul existe um Brasil e em África uma África do Sul, os outros dois BRICS!...
As articulções conseguidas trazem um sinal multipolar sem precedentes e isso beneficia a luta contra o subdesnvolvimento e as entidades que compõem o sul, particularmente os povos oprimidos da Terra!
A saga da Rússia após a implosão da União Soviética é por si uma fonte de aprendizagem e um estímulo para as independências e soberanias dos povos do sul cuja maior aspiração é a paz e o aprofundamento da democracia.
A situação que a Rússia viveu e como Putin tem respondido, com um capitalimo de estado de recurso, é um inteligente obstáculo à hegemonia unipolar e à contra revolução liberal que cavalga a globalização, ao sabor daqueles 1% que pretendem a todo o custo dominar a humanidade e o planeta!
No quadro dessa luta tenho chamado a atenção para o facto de ser possível continuar-se com os resgates cuja necessidade advém, no que diz respeito a África, desde os tempos do “comércio triangular” com recurso à escravatura!
A lógica com sentido de vida pode assim ganhar mais espaço, não se circunscrevendo só à América Latina: tudo isso é uma quetão de maturação e de laboriosa inteligência colectiva!
Mapa: Evidência da geoestratégia russa.
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. O início do “efeito boomerang” – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/10/o-inicio-do-efeito-boomerang.html
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- “La disolución de la URSS no era necesaria ni inevitable” – http://www.pagina12.com.ar/diario/dialogos/21-186524-2012-01-30.html
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