José Ribeiro – Jornal de Angola, opinião
A teoria de que a
natureza tem horror ao vazio está mais do que confirmada. A ciência política é
o exemplo prático mais eloquente. O jogo democrático faz-se nesse pano de fundo
e é aí que adquire a sua dimensão mais nobre.
Ganha eleições quem
é capaz de levar a sua mensagem a mais eleitores e está presente quando as
comunidades precisam de referências ou apoios concretos. Perde quem deixa as
cadeiras vazias, à mercê de quem quiser sentar-se nelas. É derrotado quem só
aparece e ocupa os espaços quando abre a caça ao voto.
As derrotas e as vitórias têm mesmo estas causas e não aquela que é repetida até à exaustão pelos perdedores crónicos: a fraude eleitoral. No fundo têm razão. Quem faz política de cadeiras vazias e ignora a vida quotidiana das comunidades está a colocar-se voluntariamente na prateleira da fraude política ou, no mínimo, da incompetência militante. Quem faz política de gabinete, a partir das torres de marfim construídas muito acima do espaço onde vive o comum dos cidadãos, introduz um inequívoco clima de fraude nas disputas eleitorais.
Os políticos prestam um inestimável serviço público aos angolanos e ao país. Isto é indiscutível. Em democracia, é tão importante o partido que ganha as eleições, como as forças da oposição. Em alguns aspectos, os partidos minoritários até são mais importantes porque com as suas críticas e a capacidade de fiscalizar os actos do poder fazem o país avançar, chamam à atenção para situações de excepção, revelam pontos de vista que podem enriquecer o diálogo e melhorar as soluções. Isto é, realmente, fazer política. Mas para actuar na agenda política é preciso agir e encostar a pele ao chão ao lado das comunidades onde for preciso. E isso não se verifica. Existe um vazio confrangedor que tira qualidade à democracia e faz os eleitores voltarem as costas aos políticos. Nas grandes democracias ocidentais este divórcio é manifestado com taxas de abstenção que cada vez mais ultrapassam os números dos partidos vencedores.
Na Europa a abstenção é quase sempre o “partido” vencedor. Em Angola ainda não está em causa o civismo dos eleitores angolanos, que participam entusiasticamente nos actos eleitorais.
A descrença dos eleitores nos políticos é um perigo para a democracia. Nas últimas eleições houve registo de abstenção em zonas urbanas, onde existem cidadãos politizados e participativos na vida social. Descontado o voto manipulado, o que fica em grande evidência é uma tendência para não votar.
O vazio político é preenchido pelo desencanto. O que facilita a desmobilização de grupos sociais que são indispensáveis à reconstrução nacional e à criação de riqueza. O imobilismo dos políticos que têm um programa de governo para cumprir pode criar vazios que são ocupados rapidamente pela desilusão. Só vota quem acredita nas pessoas e nas propostas que apresentam. O voto consciente não pode ser defraudado por aqueles que uma vez contados os votos viram as costas aos eleitores e ficam à espera que as promessas sejam cumpridas pela Mamã Muxima ou se concretizem por obra e graça da inércia. Fazer política é estar sempre ao lado dos eleitores, é assumir integralmente a missão de realizar a vontade popular, é dar ao país, sem regatear pagamentos, mordomias ou distinções, o melhor de si. É estar sempre disponível para resolver os problemas do povo. Ou parafraseando o Presidente José Eduardo dos Santos, é desbravar de alma e coração o caminho que resta percorrer, até todos os angolanos terem uma vida digna e sem carências de qualquer espécie. Neste percurso não há lugar para o imobilismo.
Esta é uma face da moeda. Mas o vazio político tem outra face baixa e que merece uma reflexão profunda. Há políticos que uma vez contados os votos desaparecem e nunca mais querem saber da política para nada. Há deputados eleitos que pouco mais fazem do que votar, de preferência contra as propostas da maioria. Mas aparecem a preencher os vazios deixados pelo partido que venceu as eleições com mentiras e calúnias.
Esses políticos usam uma rede “social” interna e internacional que se tornou numa fábrica de mentiras graves e atentados à honra e bom-nome de todos os que não alinham com as suas posições, sejam adversários políticos ou pessoas que eles incluem no catálogo dos inimigos a abater. Em nome da liberdade de imprensa é enxovalhada a figura veneranda do Chefe de Estado, um símbolo da Nação. Altas figuras do Estado, legitimadas pelo voto popular, são difamadas impunemente. A vida pessoal de figuras públicas é violada sem pudor.
O vazio político está a ser ocupado pelo lixo mediático, que ameaça afogar-nos a todos, mesmo os seus produtores, que são “adversários de má fé” e agentes de “primaveras” que até agora só têm resultado em banhos de sangue e na submissão dos povos ao militarismo.
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