Lisboa, 21 fev
(Lusa) - O vice-presidente da associação portuguesa Transparência e Integridade
afirmou hoje que o investimento da Guiné Equatorial no Banif constituiu "a
joia de entrada" do país na CPLP e lamentou a recomendação da adesão do
país à comunidade lusófona.
"Dá-me ideia
que a entrada da Guiné Equatorial no capital do Banif (...) é capaz de
constituir a joia de entrada na CPLP", disse Paulo Morais, lamentando a
decisão dos ministros dos Negócios Estrangeiros da comunidade lusófona
anunciada na quinta-feira.
A cimeira
extraordinária dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Comunidade de Países
de Língua Portuguesa (CPLP) recomendou na quinta-feira em Maputo a adesão da
Guiné Equatorial à organização.
Em reação a essa
decisão, Paulo Morais considerou "lamentável que uma organização como a
CPLP, "que nasceu sem meios, (...) genuinamente juntando um antigo
colonizador com países que foram ganhando a sua liberdade", venha a
acolher "um regime ditatorial onde o desrespeito pelos direitos humanos é
permanente e onde se cometem atrocidades".
"Dá ideia que
não é a Guiné Equatorial que adere à CPLP, é mais a CPLP que adere aos métodos
da Guiné Equatorial e isso é lamentável", disse.
Para o responsável
da associação anticorrupção, "não há qualquer razão decente" para a
adesão da Guine Equatorial à CPLP.
"Não há razões
culturais, não há razões linguísticas, não há relações económicas, e muito
menos ao nível daquelas que devem ser as primeiras razões da existência deste
tipo de organizações, que é a defesa do desenvolvimento, a qualidade de vida
das populações, os direitos humanos", afirmou.
O único motivo para
esta adesão, argumentou, é "fazer da CPLP um centro de negócios para [o
presidente angolano], José Eduardo dos Santos".
"Os únicos
beneficiários desta adesão serão seguramente os grandes negociantes de
petróleo. Passa a haver aqui uma grande ligação entre a Guiné Equatorial e
Angola ao nível do mercado energético e isso está longe de ser positivo. É
negativo", sublinhou.
Para Paulo Morais,
os restantes países da CPLP aprovam a adesão, "uns porque têm interesses
de negócios com Angola, como é o caso do Brasil, outros não se chega a perceber
nem porquê".
Em relação a
Portugal, o país que durante mais tempo se opôs à adesão da Guiné Equatorial,
Paulo Morais diz estar "numa situação algo estranha", com a entrada
da Guiné Equatorial no capital do Banif, um banco presidido por um ex-ministro
dos Negócios Estrangeiros do Partido Socialista, Luís Amado, com o aval do governo
PSD-CDS/PP.
"Os partidos
do arco do poder em Portugal acabaram por, mais uma vez, ir fazer a vontade ao
presidente angolano, José Eduardo dos Santos", lamentou.
O Banif revelou no
início do mês que estabeleceu um memorando de entendimento com a República da
Guiné Equatorial visando a colaboração entre as partes no setor bancário, que
poderá levar à entrada de uma empresa daquele país africano no capital do banco
num montante de cerca de 133,5 milhões de euros.
FPA // PJA - Lusa
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