Lisboa, 21 fev
(Lusa) - O especialista em assuntos africanos Gerhard Seibert alertou hoje para
o risco de a CPLP perder prestígio a nível internacional com a adesão da Guiné
Equatorial, recomendada na quinta-feira pelos ministros dos Negócios
Estrangeiros da organização.
"A organização
corre esse risco, mas os responsáveis, incluindo os responsáveis portugueses,
sempre souberam isso e tomaram uma decisão neste sentido. Eles são responsáveis
perante este risco", disse Gerhard Seibert, do Centro de Estudos Africanos
(CEA) do ISCTE.
Em declarações à
Lusa sobre a decisão dos chefes da diplomacia dos oito Estados-membros da CPLP,
anunciada na quinta-feira, de recomendar a adesão da Guiné Equatorial à
comunidade Lusófona, o especialista disse tratar-se de "uma decisão
polémica, contestável, mas por outro lado esperada".
Pessoalmente,
afirmou considerá-la "uma má decisão" que, embora a curto prazo possa
satisfazer "fortes interesses económicos e políticos, a longo prazo pode
trazer prejuízos à organização".
"A longo prazo
não pode aumentar o prestígio de uma pequena organização como a CPLP a nível
internacional", reiterou.
Argumentou que já a
adesão da Guiné Equatorial como membro observador, em 2006, violara os
estatutos da CPLP, pelo que uma adesão como membro de pleno direito também
viola as regras da própria organização, tanto do ponto de vista dos direitos
humanos como em termos da língua portuguesa, "que é um princípio
grande" da comunidade.
"É um absurdo,
é ridículo tornar um país de língua espanhola e de língua oficial francesa num
país de língua oficial portuguesa", afirmou, sublinhando que não é por um
"regime despótico" introduzir a língua portuguesa no ensino
secundário ou um programa de rádio em português que um país se torna de língua
portuguesa.
Sobre a intenção da
Guiné Equatorial ao aderir à CPLP, Seibert disse tratar-se de uma questão de
reconhecimento internacional.
"Já tinha
havido a tentativa anterior de tornar-se membro da francofonia, que
possivelmente não deu os resultados esperados pelo país, e agora há uma
tentativa de ganhar algum prestígio e reconhecimento através da adesão como
Estado de pleno direito", afirmou.
A Guiné Equatorial
é um dos 77 Estados-membros da Organização Internacional da Francofonia desde
1989.
"Fez essa
tentativa para sair do isolamento político, mas nesse caso possivelmente os
resultados para o regime não foram satisfatórios", pelo que a partir de
2004 iniciou a aproximação à CPLP, argumentou.
O país liderado por
Teodoro Obiang é observador da CPLP desde 2006, mas a adesão como membro pleno
foi condicionada nas cimeiras de Luanda e de Maputo por se considerar que o
país não cumpria os requisitos necessários.
A reunião extraordinária
dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP) recomendou na quinta-feira em Maputo a adesão da Guiné
Equatorial à organização.
A adesão, como
membro de pleno direito, foi aprovada como uma recomendação para a cimeira de
chefes de Estado da organização que se realiza em Díli este ano, disse à Lusa o
ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete.
FPA // VM - Lusa
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