Malabo, 21 fev
(Lusa) - O escritor e ativista da Guiné Equatorial Juan Tomás Ávila Laurel
criticou hoje a decisão de permitir a adesão do seu país à CPLP afirmando que
deveria cumprir vários critérios, a nível de direitos humanos e democráticos.
"A Guiné
Equatorial não é um país onde haja liberdade. As pessoas supostamente votam,
mas a oposição não pode trabalhar", disse à Lusa, em declarações por
telefone à Lusa a partir de Malabo.
"E se há uma
organização supranacional que deveria saber isso, mas decide fechar os olhos, é
como dar um salvo-conduto para que as coisas continuem assim", afirmou.
O escritor - que em
2011 fez uma greve de fome em protesto contra o regime de Obiang - mostrou-se
pouco surpreendido com a notícia da aprovação prévia da adesão à CPLP, como foi
decidido por unanimidade na reunião extraordinário de ministros dos Negócios
Estrangeiros da organização, na quinta-feira, em Maputo.
"No mundo,
tens muitos interesses económicos. E organizações supranacionais que não funcionam
e servem apenas alguns interesses. Obiang controla o petróleo e, por isso, tem
a capacidade de influir onde se tomam as decisões", disse.
"Quando saem
estas decisões, sempre temos pelo meio assuntos económicos", comentou.
Questionado sobre
um eventual impacto positivo que a adesão à CPLP possa ter na Guiné Equatorial,
o escritor manifestou dúvidas, afirmando que o facto de ter permitido a adesão
demonstra que não está a cumprir os seus próprios critérios.
"Esta
comunidade deve ter princípios, defender coisas pelas quais quer lutar a nível
global. E deve exigir critérios. Quando um país que não cumpre com algum dos
requisitos prévios e mesmo assim se integra, como é que se vai conseguir que,
depois, se submeta a esses critérios", questionou.
"O debate deveria
ser anterior: em que princípios se baseia a CPLP e dos quais não quer abdicar.
E depois não devia permitir que entre um membro que não cumpra esses
requisitos", afirmou.
E, dirigindo-se à
CPLP, manifestou-se esperançado que a organização "não se limite a ser
como as outras organizações supranacionais, que defendem os interesses só de
alguns".
Recordando que o
seu país passou "do paternalismo da colonização" aos "abusos da
ditadura", Tomás Ávila Laurel considerou que "efetivamente não existe
multipartidarismo" no país e que a oposição está "continuamente fustigada".
"Não se
cumprem os mínimos dos padrões eleitorais. Os membros da oposição nem sequer
podem trabalhar porque são considerados inimigos de quem manda e, por isso, nem
conseguem arranjar trabalho para sobreviver", disse o escritor.
"Nas zonas
rurais é ainda pior: são maltratados, golpeados, acusados de delitos que não
fizeram e detidos. E isto é conhecido pela maioria dos guineenses",
acrescentou.
Questionado sobre o
que espera no futuro, o escritor considerou que a mudança não passa apenas pelo
desaparecimento de Obiang, já que "ninguém está a formar o povo" em
valores essenciais.
"As coisas só
mudam quando a sociedade estiver suficientemente formada em valores
democráticos e humanos, para conseguir exigir, de forma massiva, mudanças não
violentas. Mas como não estamos a fazer essa formação, não sei quando
mudarão", disse.
ASP // VM - Lusa
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