sábado, 22 de fevereiro de 2014

Guiné Equatorial deveria cumprir critérios antes da adesão à CPLP - escritor




Malabo, 21 fev (Lusa) - O escritor e ativista da Guiné Equatorial Juan Tomás Ávila Laurel criticou hoje a decisão de permitir a adesão do seu país à CPLP afirmando que deveria cumprir vários critérios, a nível de direitos humanos e democráticos.

"A Guiné Equatorial não é um país onde haja liberdade. As pessoas supostamente votam, mas a oposição não pode trabalhar", disse à Lusa, em declarações por telefone à Lusa a partir de Malabo.

"E se há uma organização supranacional que deveria saber isso, mas decide fechar os olhos, é como dar um salvo-conduto para que as coisas continuem assim", afirmou.

O escritor - que em 2011 fez uma greve de fome em protesto contra o regime de Obiang - mostrou-se pouco surpreendido com a notícia da aprovação prévia da adesão à CPLP, como foi decidido por unanimidade na reunião extraordinário de ministros dos Negócios Estrangeiros da organização, na quinta-feira, em Maputo.

"No mundo, tens muitos interesses económicos. E organizações supranacionais que não funcionam e servem apenas alguns interesses. Obiang controla o petróleo e, por isso, tem a capacidade de influir onde se tomam as decisões", disse.

"Quando saem estas decisões, sempre temos pelo meio assuntos económicos", comentou.
Questionado sobre um eventual impacto positivo que a adesão à CPLP possa ter na Guiné Equatorial, o escritor manifestou dúvidas, afirmando que o facto de ter permitido a adesão demonstra que não está a cumprir os seus próprios critérios.

"Esta comunidade deve ter princípios, defender coisas pelas quais quer lutar a nível global. E deve exigir critérios. Quando um país que não cumpre com algum dos requisitos prévios e mesmo assim se integra, como é que se vai conseguir que, depois, se submeta a esses critérios", questionou.

"O debate deveria ser anterior: em que princípios se baseia a CPLP e dos quais não quer abdicar. E depois não devia permitir que entre um membro que não cumpra esses requisitos", afirmou.

E, dirigindo-se à CPLP, manifestou-se esperançado que a organização "não se limite a ser como as outras organizações supranacionais, que defendem os interesses só de alguns".

Recordando que o seu país passou "do paternalismo da colonização" aos "abusos da ditadura", Tomás Ávila Laurel considerou que "efetivamente não existe multipartidarismo" no país e que a oposição está "continuamente fustigada".

"Não se cumprem os mínimos dos padrões eleitorais. Os membros da oposição nem sequer podem trabalhar porque são considerados inimigos de quem manda e, por isso, nem conseguem arranjar trabalho para sobreviver", disse o escritor.

"Nas zonas rurais é ainda pior: são maltratados, golpeados, acusados de delitos que não fizeram e detidos. E isto é conhecido pela maioria dos guineenses", acrescentou.

Questionado sobre o que espera no futuro, o escritor considerou que a mudança não passa apenas pelo desaparecimento de Obiang, já que "ninguém está a formar o povo" em valores essenciais.

"As coisas só mudam quando a sociedade estiver suficientemente formada em valores democráticos e humanos, para conseguir exigir, de forma massiva, mudanças não violentas. Mas como não estamos a fazer essa formação, não sei quando mudarão", disse.

ASP // VM - Lusa

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